Fundamentalismo, preconceitos e futuro do país
O fundamentalismo cristão é um problema gravíssimo, escreve Mateus Mendes
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Por Mateus Mendes, 247 - A mais recente pesquisa DataFolha traz detalhes muito interessantes.
Vamos aos números.
56% concordam - total (40%!) ou parcialmente (16%) - que política e valores religiosos devem caminhar juntos.
Entre os eleitores de Bolsonaro, 74% concordam que política e religião devem caminhar juntas. Entre os eleitores de Lula, esse número é de 50%. Entre os evangélicos, 69% pensam assim. Entre os católicos, 57%.
Quando a pergunta é sobre se os "valores da família" são mais importantes que os temas econômicos, 60% concordam, sendo que 38% (!) validam totalmente a afirmativa e 22%, parcialmente.
Por um lado, esses números denunciam o tamanho do desafio civilizacional que vivemos. Ou enfrentamos essa questão com a força e a atenção devidas, ou novas crises e ondas reacionárias estão contratadas para um futuro próximo. Se é consenso que o bolsonarismo sobreviverá mesmo sem Bolsonaro na presidência, não podemos perder de vista que essa é uma temática prioritária para combater o neofascismo brasileiro.
Por outro, serve para desmontar dois preconceitos. O primeiro é com relação aos evangélicos. Ainda que entre essas denominações o número de fundamentalistas - porque é disso que se trata - seja maior que entre os católicos, a verdade é que entre os que seguem o Vaticano esse contingente não é muito inferior, ficando também acima da metade dos fiéis.
O segundo é a pretensa superioridade da esquerda no que diz respeito aos esclarecidos. Ora, metade dos eleitores de Lula acham que religião e política devem caminhar juntas. Isso não é pouca coisa.
Destacar esses dois preconceitos reforça a importância do primeiro argumento. O fundamentalismo cristão é um problema gravíssimo, que perpassa as duas principais categorias de cristãos (a pesquisa não trata dos espíritas, mas esses representam tão somente 3% dos brasileiros) e que afeta também eleitores de esquerda.
Certamente, seria ingenuidade pensar que essa é uma meta na eleição. Imediatamente, o que os números indicam é que esse é um campo minado. Percorrê-lo exige tanto cuidado que o melhor é evitar deixar que nos levem para ele.
Porém, essa deve ser uma das principais frentes da luta ideológica que devemos travar em um eventual novo governo de esquerda. Afinal, sem reconhecer a importância desse assunto, o debate econômico fica virtualmente interditado, afinal, 60% acham "os valores da família" mais importantes do que a economia.
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