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Roberto Moraes

Engenheiro e professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ)

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Fundos e ampliação da financeirização do agronegócio no Brasil

"O agronegócio brasileiro é cada vez mais parte da engrenagem do circuito financeiro em várias escalas (do nacional ao global, do campo à Faria Lima – Wall Street) e conquistou peso político que hoje contribui para transformar as relações Estado-Mercado-Sociedade", diz o jornalista Roberto Moraes

(Foto: Crédito: divulgação SNA)
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Assim como em outros setores econômicos, a financeirização e o instrumentos dos fundos financeiros estão se ampliando de forma expressiva no Brasil. O caso do agronegócio no Brasil merece uma observação mais atenta.

O controle da produção, circulação e distribuição deste setor é cada vez mais realizada por grandes corporações que são controladas, em boa proporção, por grandes fundos financeiros com enlaces entre o nacional e o global. Vários fundos globais possuem participações em quase todas as grandes empresas de agronegócio no Brasil.

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Trata-se de um processo que se desenrola na agricultura, agropecuária e ainda no controle e aquisição de terras (Land Grabing) que servem de base para aquilo que se passou a chamar de agronegócios. São movimentos que levam ao controle financeiro feito por movimentos duplos e simultâneos de valorização e capitalização, onde muito se especula com promessas futuras de valor.

É um setor que nasceu e ainda tem muito forte o financiamento estatal subsidiado, mas que paulatinamente, vai saindo do controle de pequenos e médios produtores, em direção a grandes corporações (players) que agem de forma articulada e com conexões em plataformas digitais e financeiras globais.

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Quanto mais financeirizada é uma empresa do setor, maior é a exploração da produção real e das economias regionais, o que de certa forma expõe a compensação do nível de especulação realizada pelos esquemas de ações (IPO, quota de fundos), mercado futuro e outros.

A capitalização do setor cada vez conta com mais inovações financeiras que em última instância busca capturar mais valor da atividade produtiva. Essa capitalização vem de instrumentos já conhecidos, entre os quais estão os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e Letra de Crédito do Agronegócio (LCA). Esta última, muito oferecida a correntistas/investidores médios pelos gerentes de bancos tradicionais.

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Neste processo de “inovações financeiras” – que se traduzem em formas de capitalizar o setor e remunerar ainda mais os donos dos dinheiros -, o Congresso Nacional, atendendo a expectativas e pressões do mercado, aprovou a lei nº 14.130/2021, em 29.03.2021, que instituiu o Fiagro (Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais).

O Fiagro promete a junção de recursos de vários tipos investidores para a aplicação em ativos de investimentos do agronegócio, desde os de natureza imobiliária rural (propriedade) ou de atividades relacionadas a produção do setor.

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Após regulamentação feita pela CVM, neste segundo semestre 2021, cotistas e investidores se aliaram a gestoras de fundos e os primeiros Fiagros foram surgindo. O mercado guardava uma expectativa de reunir algo próximo a R$ 1 bilhão até o final do ano, porém foi muito superado.

Assim, segundo dados da CVM, desde agosto passado, já foram protocolados para análise de oferta, um total de 28 Fiagros que reúnem mais de 9 mil cotistas que podem atingir, até o final do ano, um volume superior a 5 vezes, as expectativas chegando a mais de R$ 5 bilhões de investimentos.

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O fato é um indicador empírico que mostra as transformações na forma de intermediação financeira e na ampliação da hegemonia do setor financeiro sobre a economia nacional. Os excedentes da poupança das famílias e das empresa não são mais majoritariamente colocados nos bancos tradicionais e na poupança. O Bolsa (B3, ex Bovespa) já possui mais de 4 milhões de investidores pessoas físicas.

Os fundos não são um mal per si, mas o modus operandi desta lógica do capitalismo da gestão de ativos, sim. Essas inovações financeiras amplificadas pelo potencial da tecnologia e plataformas digitais, oferece fluidez e uma hipermobilidade ao capital. Esse movimento em curso leva à expansão de crédito privado, sob controle do mercado de capitais, que paulatina e crescentemente vai substituindo o Estado.

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Assim, a Anbima e as gestoras de fundos financeiros vão assumindo o controle das políticas econômicas (deste e de outros setores econômicos) e se tornando, o centro dinâmico da economia. Uma lógica acionária que extrai valor da produção real oriunda das economias locais, exigindo sempre altas rentabilidades e taxas de lucro de curto prazo, que nos relevam como resultado a precarização do trabalho e perda de direitos progressiva neste capitalismo contemporâneo.

Enfim, processo que segue a lógica neoliberal que deseja um estado máximo para o mercado e mínimo para a maioria, na pretensão de substituir o Estado no controle das políticas em diferentes setores, através do controle do seu financiamento.

É evidente que estes movimentos não podem ser vistos dissociados da política. São causas e consequências da manipulação política e do controle do mercado sobre as relações de poder. Processo que retroalimentam estas relações ao intensificar essas inovações que levam à hegemonia financeira no capitalismo contemporâneo.

No Brasil, em especial, pelo volume e expressão do agronegócio no PIB, esta articulação-relação entre o capital financeiro e este setor precisa ser melhor acompanhada e entendida. No atual estágio, ela vai muito para além daquilo que é exposto pelas representações classistas deste setor junto ao poder político e colorido pela mídia corporativa-financeira.

O agronegócio brasileiro é cada vez mais parte da engrenagem do circuito financeiro em várias escalas (do nacional ao global, do campo à Faria Lima – Wall Street) e conquistou peso político que hoje contribui para transformar as relações Estado-Mercado-Sociedade, alternado o protagonismo em favor do mercado.

Tratam-se de mudanças que vão se aprofundando na sociedade brasileira e que à medida que avançam e reorganiza a sociedade, vão se tornando mais difíceis de serem superadas, em favor de um projeto nacional, autônomo, soberano de inclusão e menos desigual.

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