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Paulo Moreira Leite

Colunista e comentarista na TV 247

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Futebol feminino tem mais gols e menos pontapés

"Como tantas expressões da emancipação feminina, a beleza de seu futebol também deve ser comemorada", diz Paulo Moreira Leite

Seleção Feminina de Futebol (Foto: Thais Magalhães/CBF)

Há mais de 60 anos nas platéias de nossos estádios, gostaria de reconhecer, quem sabe tardiamente, uma novidade animadora.

A beleza do futebol está de volta, com um apuro que em passado distante levou o crítico teatral Sábato Magaldi (1927-2016) a sublinhar sua semelhança aos movimentos do balé.

Três décadas depois da primeira Copa de futebol feminino -- em 1991, na China -- determinados números que permitem comparar o desempenho das Seleções por gênero.

Não há dúvida que, do ponto de vista econômico, a força do futebol masculino mantém uma diferença gigantesca e previsível, num abismo sem comparação, que envolve fatores diversos, que favorecem o futebol masculino, uma máquina econômica de grande porte, que se traduz na remeração das estrelas em campo.

O maior salário entre as craques do futebol feminino -- Sam Kerr, do Chelsea, da Inglaterra -- atinge o patamar de 525 000 dólares por ano, uma bela quantia em qualquer profissão. A brasileira Marta, eleita seis vezes pela FIFA como a melhor jogadora do mundo, embolsa perto de 400 000 dólares anuais no Orlando Pride, soma igualmente respeitável, mas distante do universo masculino.

O português Cristiano Ronaldo embolsa 75 milhões de euros anuais no Al Nassr, e, sempre em euros, cotação em torno de 10% superior ao dólar, o francês Kylian Mbappé ganha 72 milhões no Paris Saint Germain, mesma faixa salarial do argentino Lionel Messi no Inter Miami, onde assinou contrato até 2025. Trata-se de uma faixa só um pouco acima de Neymar, no Paris Saint Germain, primeiro brasileiro da lista.

O caso é que outros números, que interessam diretamente a quem aprecia um bom espetáculo, mostram outro desempenho e aqui a vantagem é feminina. Momento máximo do futebol, a média de gols marca uma diferença notável: 3,9 por jogo entre as mulheres, contra 2,3 entre os homens. O número de cartões amarelos, registro numérico da violência, é de 4,7 por jogo nos campeonatos masculinos, contra 2,6 nas partidas femininas.

Há outros que indicam que o espetáculo das mulheres com suas chuteiras agrada cada vez mais. Em 2023, todas as partidas da seleção brasileira na Copa serão televisionadas, ao vivo, pela Globo. É a primeira vez na história. Proibido em 1941, pela ditadura do Estado Novo, o futebol feminino só foi liberado quatro décadas mais tarde, no processo de democratização que marcou o fim da ditadura de 64.

Como tantas expressões da emancipação feminina, a beleza de seu futebol também deve ser comemorada.

Alguma dúvida?

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.