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Gilvandro Filho

Jornalista e compositor/letrista, tendo passado por veículos como Jornal do Commercio, O Globo e Jornal do Brasil, pela revista Veja e pela TV Globo, onde foi comentarista político. Ganhou três Prêmios Esso. Possui dois livros publicados: Bodas de Frevo e “Onde Está meu filho?”

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Fux e os meninos superpoderosos

"Bolsonaro eleito, são os 'garotos' que casam e batizam, como diziam os mais antigos", diz o colunista Gilvandro Filho em referência aos filhos do presidente, após o ministro do STF Luiz Fux paralisar as investigações contra Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSLRJ), que fez o pedido à Corte; "Os 'caras' da república bolsonariana, já se viu, não têm limites e querem jogar nas onze posições. Normalmente entram em impedimento na hora do gol. Mas sempre contam com o beneplácito da federação e dos seus juízes"

Fux e os meninos superpoderosos

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Durante a campanha eleitoral do candidato a presidente Jair Bolsonaro, a questão que, quase o tempo todo, surgia era: como será o Brasil em caso de vitória do candidato PSL, com os três filhos dele no poder e sem freios? Na campanha, eles já pintavam e bordavam. E mostravam quem mandava. E por mais que se imaginasse, o quadro ainda estava muito longe da realidade que se imporia meses mais tarde, com a vitória do pai e o paraíso em vida dos primeiros-filhos. Bolsonaro eleito, são os "garotos" que casam e batizam, como diziam os mais antigos.

Flávio (37 anos), senador eleito pelo Rio de Janeiro; Carlos (35), vereador no Rio e o mais ligado ao pai; e Eduardo (34), reeleito deputado federal por São Paulo. Este é o triunvirato que manda no País. Um trio de ferro que exerce funções que podem ir desde uma carona sem sentido no Rolls Royce presidencial, em plena cerimônia de posse do presidente-pai, até missões extraoficiais aos Estados Unidos e Israel, com direito a anúncio – antes mesmo da posse – de medidas importantes, embora ainda não efetivadas, como a mudança da embaixada brasileira para Jerusalém.

Os "caras" da república bolsonariana, já se viu, não têm limites e querem jogar nas onze posições. Normalmente entram em impedimento na hora do gol. Mas sempre contam com o beneplácito da federação e dos seus juízes. Onde vai parar esse jogo, ainda não dá para se dizer. Mas coisa fácil, contê-los não é. Como nas antigas peladas de bairro, se sentem intocáveis porque são os donos da bola.

Bem-sucedidos, encontraram na política um empreendimento seguro. Como o pai Jair que ampliou seu patrimônio em 168% desde 2006, os filhos não se deram mal. O patrimônio de Flávio cresceu 55% de 2010 para cá. O de Eduardo foi na estratosfera: 432% em apenas cinco anos. Um prodígio.

A última jogada dos meninos envolveu o primogênito Flávio e o Supremo Tribunal Federal, o mesmo STF pelo qual o caçula Eduardo sempre nutriu um respeito tamanho a ponto de dizer que, para fechar a Casa, não precisava "nem mandar um jeep", bastava "mandar um soldado e um cabo".

A confusão que virou assunto e piada nacionais envolve Flávio Bolsonaro e o seu ex-motorista Fabrício Queiroz, um abnegado assessor que também mexia com finanças. Transações esquisitas de mais de R$ 1,2 milhão caíram na mira do Ministério Público do Rio de Janeiro, que chamou os dois para se explicarem. Sem sucesso. Queiroz sumiu por uns dias, reapareceu internado num hospital de luxo, sambou com a família na cara no País. Flávio disse que não iria e um abraço.

Flávio se elegeu senador, como é sabido. Não tomou posse ainda. Mas é filho do presidente. Ponto. Ministro plantonista no STF, Luiz Fux sabe disso. E, célere, fechou com Flavio e corroborou a tese do senador eleito de que, para ter foro privilegiado, não precisa ser senador empossado. Pediu e foi atendido. Fux demonstrou eficiência incomum e concedeu, em termos literais, a liminar pedida pelo futuro senador, concedendo-lhe uma espécie de foro privilegiado preventivo. Um instrumento que, se brincar, se incorpora à legislação.

Foro privilegiado, por sinal, que o senador eleito sempre condenou – tem vídeo de campanha, ele e o pai candidato esculachando quem recorria ao expediente e prometendo acabar com a "porcaria". Mas, se existe, porque não o usar? E Flávio usou. Mesmo com as dúvidas de que a lei já permitiria ao foro recorrer. Mas com o denodo que não mostrou quando foi chamado para depor no caso do seu motorista-amigo-irmão-camarada.

Difícil saber onde vai dar mais esse episódio da saga dos meninos superpoderosos. O caso de Flávio Bolsonaro, no STF, vai para as mãos do ministro Marco Aurélio Mello. O País espera para saber se o Supremo é ou não é o que o outro Bolsonaro, o Eduardo, pensa dele.

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