Gilmar repete Brizola e defende a legalidade
Gilmar Mendes antecipou-se ao Legislativo, aplicando medicina homeopática contra a alopatia golpist
Ao dar um tranco constitucional no Congresso conservador dominado pela direita e ultradireita golpista articuladas para abrir processo de impeachment contra Lula, inviabilizando sua quarta candidatura em 2026, o decano do Supremo Tribunal Federal(STF), Gilmar Mendes, foi pragmático: agiu como ex-governador nacionalista, Leonel Brizola, a favor da Legalidade, ameaçada pela cúpula do Legislativo.
Foi, na verdade, um casuísmo legalista gilmarmendesiano como antítese ao casuísmo golpista alcolumbriano-hugomottiano; o presidente Lula ficou/está quieto, aparentemente, como animal político, deixando Legislativo e Judiciário brigarem; sentiu que Gilmar está a seu favor - ou foi jogo combinado -, pela Legalidade, alinhado ao presidencialismo constitucional, que o senador Davi Alcolumbre(UB-AM) e o deputado Hugo Motta(Republicanos-AL) detonaram, com o semipresidencialismo inconstitucional, para tentar melar a governabilidade lulista; o jogo ainda não terminou.
O enredo do episódio das emendas parlamentares impositivas, como todo mundo manja, está na origem de tudo: é golpe político do Congresso reacionário majoritário contra o Executivo progressista minoritário; é o aborto antidemocrático civilista; Lula, no meio dos golpistas, está de pés e mãos amarrrados, mas não quebrados; se tentar ir para o confronto, dança, como as últimas votações, no Legislativo, comprovaram; o STF está em campo, sintonizado, constitucionalmente, com o Executivo, sabendo que este está sendo golpeado por aquele: semipresidencialismo inconstitucional – aliado à Faria Lima e ao Banco Central Independente(de araque) – para barrar a governabilidade progressista lulista, expressa no presidencialismo constitucional.
O STF, como guardião da Constituição, sabe que Lula está certo e que o papel da Suprema Corte é preservar a constitucionalidade, a democracia, vulgarizada pelo semipresidencialismo golpista; o golpismo bolsonarista, que está na cadeia, salve!, salve!, prova qual o lado está certo; a justiça brasileira, nesse momento, é aplaudida, mundialmente, pela sua postura em salvar o processo democrático; o ministro Alexandre de Moraes, pelo seu protagonismo, foi escolhido pelo Financial Times personalidade do ano; Lula exercitou protagonismo internacional magistral; Gilmar Mendes tem consciência de que os golpistas estão no Legislativo, para impor as emendas impositivas inconstitucionais, de modo a impedir avanço democrático, cercar Lula, para não atravessar 2026 e chegar ao Rubicão do quarto mandato, dando o golpe do impeachment; é um jogo que está sendo jogado, ainda sem vencedores.
Por isso, o decano agiu, deflagrando o anti-golpe, o anti impeachment; determinou que impeachment só com despacho da Procuradoria Geral; protege, dessa forma, não só o presidente, mas, principalmente, o STF, que conduz, constitucionalmente, o impeachment.
CASUÍSMO!
Gilmar Mendes antecipou-se ao Legislativo, aplicando medicina homeopática contra a alopatia golpista: veneno de cobra contra veneno de cobra!
A luta política que está por trás da indicação do Procurador Geral da República, pernambucano, Jorge Messias, escolhido por Lula, para assumir vaga no STF, é isso aí: evitar que o candidato de Alcolumbre, o senador Rodrigo Pacheco(PSD-MG), nascido em Porto Velho(Rondônia), seja indicado para o Supremo, a fim de fortalecer corrente de juízes para dar livre curso às emendas legislativas impositivas inconstitucionais semipresidencialistas, sob análise política da Suprema Corte; seria a receita para enforcar o presidencialismo constitucional capaz de matar politicamente Lula, favorito nas pesquisas para faturar 2026.
REPETECO HISTÓRICO
O governador Brizola(PTB-RS), nacionalista-trabalhista-getulista, em 1961, sentindo cheiro de sangue dos militares golpistas, que não queriam deixar Jango Goulart tomar posse, quando retornava de visita à China para substituir Jânio Quadros, que havia renunciado, ocupou rádio gaúcha e proclamou resistência democrática republicana para defender a Legalidade; heroísmo histórico brizolista; teve o apoio do Terceiro Exército, pressionado pela opinião pública, que estava em armas; os brucutus de farda, apoiados por Washington/UDN, recuaram, e a democracia venceu, naquele instante dramático.
Mutatis mutandis, neste momento, 2025, os brucutus do Congresso, a fonte do golpe de direita e ultradireita fascista bolsonarista, tinham armado o bote: tentar impeachment nos juízes e em Lula; Gilmar Brizola, em lance de audácia calculado, macaco velho, antecipou e deu o seu bote primeiro, afogando o bolsonarismo golpista parlamentar.
O perigo está totalmente afastado?
Talvez, não, mas os golpistas estão acuados porque, desta vez, têm que enfrentar eleição, as ruas, às urnas, onde o povão, segundo pesquisas de opinião, indica Lula favorito; a fragilidade essencial da direita e da ultra direita fascista está no fato de não possuírem programa político-econômico-social, salvo o neoliberalismo impopular, que não deixa o país crescer, sustentavelmente; a sociedade parece vacinada contra a aventura bolsonarista fascista de 2018-2022; terão os antidemocratas, com o golpe civil que ensaiaram em 2023, o apoio dos quartéis, em 2026, eles que sempre foram lá, quando precisaram, pedir para derrubar a Legalidade?
Parece inverossímil, nessa altura do campeonato, depois do processo que acaba de ser concluído pelo STF, mandando os golpistas de 8 de janeiro de 2023 para a cadeia; o golpe está derrotado, aparentemente e legalmente; Gilmar, de caso pensado, porque é um gênio da jurisprudência conservadora, conseguiu o que Brizola alcançou, espetacularmente: assustar e paralisar, pelo medo, mais uma tentativa golpista civil, neste triste, mas vibrante Brasil democrático, desta vez, sem o apoio da farda.
O STF mostra, de fato e de direito, ser o guardião da democracia brasileira, até segunda ordem, porque a história do golpismo tupiniquim pode ter muito gás para seguir em frente, nesses novos tempos trumpistas de ameaça de uma direita mundial em crise na debacle capitalista.
Lula, por enquanto, tem Donald Trump, ao seu lado, a arma que o bolsonarismo pensou que havia conquistado, como triunfo.
Até quando, ninguém sabe.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




