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Carlos Lindenberg

Carlos Lindenberg é diretor do 247 em Minas

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Golpe contra Pimentel pode estar ligado a ressurreição do PSDB

O jornalista Carlos Lindenberg comenta a decisão do deputado estadual Adalcléver Lopes, presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e principal fiador da aliança PT-MDB que comanda o Estado, de ter acolhido e mandado ler um pedido de impeachment do governador Fernando Pimentel: "A estupefação foi geral na própria Assembleia e até mesmo na oposição, que embora viesse acompanhando o distanciamento de Pimentel e de Adalcléver, ou deste daquele, não podia supor que o principal aliado do governador pudesse repetir o gesto de Michel Temer em relação a Dilma"; para ele, "o que se vê nesse pedido de impeachment parece ter mais a ver com a conjuntura nacional do que propriamente com as supostas razões locais"

O jornalista Carlos Lindenberg comenta a decisão do deputado estadual Adalcléver Lopes, presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e principal fiador da aliança PT-MDB que comanda o Estado, de ter acolhido e mandado ler um pedido de impeachment do governador Fernando Pimentel: "A estupefação foi geral na própria Assembleia e até mesmo na oposição, que embora viesse acompanhando o distanciamento de Pimentel e de Adalcléver, ou deste daquele, não podia supor que o principal aliado do governador pudesse repetir o gesto de Michel Temer em relação a Dilma"; para ele, "o que se vê nesse pedido de impeachment parece ter mais a ver com a conjuntura nacional do que propriamente com as supostas razões locais" (Foto: Carlos Lindenberg)
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Ninguém sabe bem como começou. Um pouco de ciúme, excesso de vaidade, orgulho ferido, receio de uma derrota, intervenção do diretório nacional, ninguém sabe exatamente o motivo. O fato é que ontem, inopinadamente e para surpresa geral, o deputado Adalcléver Lopes, presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e principal fiador da aliança PT-MDB que comanda o Estado, acolheu e mandou ler o pedido de impeachment do governador Fernando Pimentel. A estupefação foi geral na própria Assembleia e até mesmo na oposição, que embora viesse acompanhando o distanciamento de Pimentel e de Adalcléver, ou deste daquele, não podia supor que o principal aliado do governador pudesse repetir o gesto de Michel Temer em relação a Dilma, até por que o mineiro é de outra têmpera, embora ambos tenham o DNA do MDB.

Quem apresentou o pedido de impeachment foi o advogado desconhecido Mariel Marra, o mesmo que apresentou pedido semelhante contra Temer e que foi desconsiderado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM). Também poucos sabem por que razão este pedido foi acatado e os outros dois, apresentados anteriormente, foram engavetados pelo presidente Adalcléver Lopes. Ou seja, assim como no impeachment da presidente Dilma, neste também só há hipóteses, até porque nem foi o presidente da Assembleia quem fez a leitura da peça, mas o seu primeiro vice-presidente, Lafayette Andrada, que cumpriu as formalidades e nem teve que explicar porque estava fazendo aquilo, a não ser ler as razões supostamente jurídicas levantadas pelo advogado que voltou a ganhar 15 segundos de fama – ou um pouco mais, talvez – a ausência de repasse de verbas constitucionais para os Poderes Legislativo e Judiciário do Estado, o que ainda que exista, jamais foi questionado em governos anteriores – no que parece repetir-se também em Minas as falsas razões que levaram ao afastamento da presidente Dilma Rousseff, no caso, as "pedaladas fiscais" e a falta de fundos para financiamento do agronegócio.

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Para entender a estupefação que tomou conta dos mineiros nesta quinta-feira é preciso saber o que o deputado Adalcléver Lopes significa ou significava para o governador Fernando Pimentel no jogo do poder em Minas. Primeiro, Adalcléver foi nesses anos todos, indo até mesmo contra a cúpula do seu partido, o MDB, o fiador da governabilidade da coalizão PT-MDB no Estado. É de lembrar que quando o vice-governador Antônio Andrade, presidente do diretório regional do partido, rompeu com Fernando Pimentel foi Adalcléver quem manteve a base parlamentar emedebista em favor do governador, de tal forma que o Executivo não teve até esses poucos dias atrás, quando começou o distanciamento dos dois, a partir do presidente da Assembleia, o menor problema no legislativo. Mas quando começou esse distanciamento?

Há quem cite pelo menos um fato objetivo: foi quando o presidente Lula, já com ordem de prisão e homiziado no Sindicato de São Bernardo do Campo, teria dado a instrução para que Dilma transferisse seu domicilio eleitoral para Minas e aqui disputasse o Senado – vaga que estava reservada para Adalcléver, ao que consta como candidato único da coligação. Aí começou a encrenca para Pimentel. Sentindo-se ofendido por sequer ter sido comunicado previamente, o presidente da Assembleia começou a se afastar do governador Fernando Pimentel, com quem falava diariamente e de maneira influente. Soma-se a isso, ao que se fala na Assembleia, o atraso de fato dos duodécimos constitucionais e, talvez mais grave, a falta de pagamento das emendas parlamentares aos deputados nos últimos meses, verba essa que os parlamentares usam na assistência às suas bases interioranas.

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A possível candidatura de Dilma ao Senado seria, portanto, o ponto de combustão entre Adalcléver e seu parceiro Pimentel, mesmo que a ex-presidente tenha dito no dia da transferência de seu título de eleitora para Belo Horizonte que uma coisa era o domicílio eleitoral e outra qualquer possibilidade de candidatura. Nas últimas semanas o clima entre o presidente da Assembleia e o governador do Estado piorou mais, com Adalcléver recusando-se, por exemplo, a comparecer à solenidade dedicada a Tiradentes, o maior herói mineiro, dia 21 de abril, em Ouro Preto. Por que o pedido de impeachment foi lido ontem ou nos dias seguintes e não no dia nove de abril, quando chegou à Assembleia, é outro mistério. Dilma transferiu seu domicílio eleitoral no dia seis de abril, com a justificativa de ficar mais perto de sua mãe, com 94 anos, e que está sendo levada sempre ao hospital. Nesse dia, aos jornalistas< Pimentel disse que uma coisa era a transferência do domicilio e que outra era a disputa eleitoral.

Mas nada disso tirou do deputado Adalcléver a ideia de que a candidatura de Dilma enterraria a sua, nem mesmo quando foi argumentado que, como são duas as vagas em disputa, os dois poderiam fazer campanha juntos, como aliás fez o então governador Aécio Neves que se elegeu senador e elegeu junto o ex-governador Itamar Franco. Mas ao que parece Adalcléver receou que sendo Aécio candidato talvez a outra vaga pudesse ficar com ele – o que parece pouco provável com a carga que o PSDB faz sobre Aécio para que ele não dispute a próxima eleição. Da mesma forma, o governador Pimentel acenou com a possibilidade de Dilma disputar não o Senado, mas a Câmara dos Deputados, com o que poderia levar mais quatro ou cinco deputados da coligação com a sobra dos seus votos. Mas nem isso demoveu o presidente da Assembleia que, ontem, mandou seu vice-presidente ler o pedido de impeachment, menos de oito dias depois que Adalcléver rebateu uma nota de jornal argumentando que não pensa em ocupar uma vaga no Tribunal de Contas por que seu nome estava sendo lançado "pelas bases" do partido para disputar o governo do Estado.

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É possível. Antes, ele vai ter que chegar a um acordo com o vice Antônio Andrade, que já havia comunicado ao governador Pimentel e ao presidente Michel Temer que será candidato ao Palácio da Liberdade. Pode ser que a hora do acordo tenha chegado, com Adalcléver tentando tirar Pimentel do governo para colocar no lugar dele o vice Antônio Andrade - algo parecido com o que o ex-deputado Eduardo Cunha, então presidente da Câmara, fez com Dilma Rousseff, em benefício de Temer e para atender ao desejo de vingança de Aécio Neves. Não se pode, claro, comparar Adalcléver com Eduardo Cunha, mas é evidente que não deve ser uma suposta candidatura de Dilma ao Senado a razão única ou principal de o presidente da Assembleia aceitar o impeachment do governador do Estado por crime de responsabilidade. A menos que nesse acordo esteja embutida uma possível eleição de Adalcléver para o Senado, coisa que não se faz de uma hora para a outra, nem mesmo com o uso da máquina do Estado operando 30 horas por dia. Pior: se Temer coligar-se com o PSDB, como ficarão os emedebistas do Estado que durante quase quatro anos ajudaram a depenar os tucanos após assumirem o poder de braços dados com o PT? E como ficará o governador Pimentel diante do pedido do impeachment? Primeiro, para ser afastado do cargo, para que o vice assuma, é preciso que o impedimento seja votado em plenário. E para se garantir no cargo, Pimentel precisa apenas de 26 votos dentre os 71 deputados à Assembleia. Esse número, por pior que tenha sido, qualquer governador mineiro teve no legislativo. E para quem acha que esse impeachment é o primeiro que aporta na Assembleia de Minas, não custa lembrar que há 30 anos o então governador Newton Cardoso livrou-se de um, nos mesmos moldes, de cunho unicamente eleitoral.

O que se vê nesse pedido de impeachment parece ter mais a ver com a conjuntura nacional do que propriamente com as supostas razões locais. Segundo colégio eleitoral do país, com mais de 15 milhões de eleitores, Minas tem papel decisivo na disputa presidencial que se aproxima. Com a ascenção da coligação PT/MDB, com outros partidos, na eleição de 2014, em que o PSDB foi triturado no Estado, Minas passou a ser mais ainda estratégico para o futuro dos tucanos até mesmo em nível nacional. Com Temer se aproximando do PSDB, numa possível composição com Geraldo Alckmin, em que Henrique Meirelles poderia entrar como vice, seria imperativo que se quebrasse as pernas do PT no Estado, o que só seria possível com uma manobra dessa arquitetada desde Brasília e com auxílio do MDB local a se prestar como serviçal do PSDB nacional – dai o pedido de Temer, terça feira, ao vice Antônio Andrade, para que seja montado um palanque forte no Estado – e não por acaso dois dias depois os mineiros são surpreendidos com o pedido de impeachment do governador petista Fernando Pimentel, pela mesma Assembleia que recusou outros dois feitos anteriormente. Em suma, não basta prender Lula. É preciso silenciar o lulismo e sepultar o petismo. Minas, passadas as homenagens a Tiradentes, dá o exemplo.

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