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Adilson Roberto Gonçalves

Pesquisador científico em Campinas-SP

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Golpismo e a imprensa comedida

Da complacência com o golpismo à demissão seletiva, a imprensa brasileira expõe seu alinhamento político e fragilidade democrática

Golpismo e a imprensa comedida (Foto: Gerada por IA/DALL-E)

O Estadão, é claro, não gostou quando afirmei que concordei integralmente com o editorial “Golpismo explícito” (8/8), apenas trocando “travestidos” por “disfarçados”, em respeito às pessoas travestis. A crítica levou a ignorarem o comentário. No entanto, pelas próprias reportagens daquela edição, vemos que há pouca dignidade entre os presidentes do Parlamento, que já negociam medidas espúrias para salvar tanto os políticos criminosos de ontem quanto os de hoje. Ou seja, não apenas não punirão os que tomaram as mesas diretoras no motim, como também há suposto acordo para restringir o foro privilegiado, com o intuito de beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro, inelegível e em prisão domiciliar. É também provável que negociem o impedimento de Alexandre de Moraes, aprovando a impunidade dos invasores. Se esses são os representantes do povo, ou somos todos criminosos, ou um redesenho da forma como os escolhemos precisa ser urgentemente feito. E que não seja um redesenho como Trump quer fazer no Texas!

Por sua vez, o outro jornalão paulista publicou o editorial “Bolsonaro tem direito à livre expressão” (Folha de S. Paulo, 6/8), que não difere daqueles da Alemanha nos anos 1930, em que diziam que, dos dois bilhões de habitantes do mundo, apenas Adolf Hitler não podia falar. Também se assemelha ao editorial do The New York Times de fevereiro de 1939, defendendo o direito do German-American Bund de protestar contra a democracia. Praticamente um século atrás, ainda achavam que a liberdade de expressão era absoluta. Deu no que deu.

E, coroando nossa imprensa marrom, a demissão dos jornalistas, digamos, mais progressistas da GloboNews ao longo do mês indica uma sedimentação do grupo Globo pelo apoio à direita ou uma reacomodação para substituí-los por outros profissionais, de menor salário e mesma linha política? Creio que ambas as respostas foram satisfeitas com as mudanças. Sabemos que não há jornalismo isento, e alguns veículos procuram manter “quotas” com opiniões múltiplas, mesmo desalinhadas de sua política principal. Vamos ver o quanto esse princípio de passaralho global vai contaminar a imprensa em geral ou se foi puro azar Daniela Lima ser demitida no dia da notícia quente da prisão do inelegível ex-presidente.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.