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César Fonseca

Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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Governo perde controle da inflação e pode colher protesto nas ruas

A inflação está sendo determinada pela falta de demanda e não de produção; na realidade, o culpado central é o modelo neoliberal, em que a prioridade é corte de gastos sociais, para promover ajuste fiscal, de modo a sobrar mais dinheiro para pagamento de juros e amortizações da dívida pública, que se aproxima de 100% do PIB, algo em torno de R$ 7 trilhões

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No próximo dia 19, quando está marcada nova mobilização popular contra o governo Bolsonaro, a inflação, que está aumentando, incontrolavelmente, os preços dos alimentos, pode virar estrela dos protestos, ao lado da reivindicação por mais vacinas e impeachment presidencial pela gestão desastrosa da pandemia; o descontrole da inflação se intensificou em maio, quando registra alta de 3,22% no ano e avança 8,06%, em 12 meses. O pico inflacionário em 12 meses, para 2021, está previsto para julho, quando deverá bater em 8,5%; a alta de preços dos alimentos é um paradoxo diante da redução dos salários que diminui o consumo; teoricamente, haveria queda de preços, no cenário em que a oferta não entrou ainda em colapso; ao contrário, como é comum, no sistema capitalista, em tal circunstância, produzida pelo subconsumismo, imposto pela falta de renda, os empresários promovem escassez relativa para manter preços altos e constante a sua taxa de lucro.

A inflação, portanto, está sendo determinada pela falta de demanda e não de produção; na realidade, o culpado central é o modelo neoliberal, em que a prioridade é corte de gastos sociais, para promover ajuste fiscal, de modo a sobrar mais dinheiro para pagamento de juros e amortizações da dívida pública, que se aproxima de 100% do PIB, algo em torno de R$ 7 trilhões; o teto de gastos sociais, previsto para durar de 2016, ano do golpe neoliberal, a 2036, está se transformando na principal causa da inflação; mata o consumidor e compromete sobrevivência do produtor; o teto foi, aparentemente, concebido para combater inflação, mas, na prática, virou maior fator inflacionário; a inflação de demanda requer renda para elevar o consumo, mas isso se tornou impossível depois da reforma trabalhista e da aprovação do teto de gastos.

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Arrocho salarial permanente

Os salários, com a reforma, não seguem mais regras vigentes até 2016 quando eram reajustados pela inflação passada mais correção determinada pelo crescimento do PIB nos dois anos anteriores; havia, com isso, correção salarial no universo das cadeias produtivas, graças à melhor distribuição da renda nacional; a economia crescia, mesmo, diante do tripé neoliberal – metas inflacionárias, câmbio flutuante e superávit primário(receitas menos despesas, exceto pagamento de juros da dívida) –, imposto pelos credores; na nova regra neoliberal em que o negociado prepondera diante do legislado, o salário médio real desabou e ocorreu, consequentemente, desequilíbrio entre oferta e demanda, puxando os preços para cima, mesmo com emergência do subconsumismo; o modelo neoliberal demonstra que os cortes de gastos elevam em vez de diminuir a inflação, na medida em que a prioridade não é mais o social, mas a concentração de renda, que eleva desigualdade social e fuga de capital.

Privatização pressiona inflação

Ademais, o neoliberalismo, ao partir para sucateamento das empresas estatais – Petrobrás e Eletrobrás – desorganizou o sistema que funcionava como organismo oligopolizado tendo como função flexibilização de preços para não pressionar inflação; o descolamento da extração de petróleo da produção, refino, circulação e distribuição, para esquartejar, via privatização, o oligopólio estatal do petróleo, joga os preços dos combustíveis para cima, para atender não o interesse público, mas o dos acionistas privados; o mesmo acontece com a eletricidade, cujos custos de produção, a partir do maior ativo desse setor que é a água, submetido à privatização, produz, como resultado, aumento incontrolável das tarifas de água e luz, como, também, dos combustíveis, no caso da Petrobras; a formação dos preços deixou de ser feita pelos custos internos baixos dadas pelo monopólio do petróleo e da água; ambos, agora, são submetidos à política de preços ditada pela paridade de importação, que obedece variação do dólar; como a população ganha em reação sua renda e não em dólar, sofre os efeitos da dolarização forçada, imposta pela privatização; o impacto dessa nova política de preços dos produtos das estatais privatizadas é, portanto, dado pelo aumento descontrolado da inflação; a privatização da Eletrobrás, por medida provisória, já aprovada na Câmara e pendente para ser aprovada no Senado, criará, na avaliação do especialista em energia elétrica e petróleo, Paulo César Lima, consultor legislativo, um monstrengo privado, cujas consequências serão tarifas altas de luz, gasolina, diesel e gás, em escala capaz de achatar, ainda mais, brutalmente, os salários; haveria, dessa forma, mais choque de demanda que implicará queda de consumo e, contraditoriamente, aumento de inflação.

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