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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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Grampo de Lula extrapolou limites legais e éticos

"Embora o ato de grampear, mesmo quando o grampo é legal, ou seja, tem autorização da Justiça, seja clandestino e ultrassecreto, ele não pode ultrapassar certos limites, que foram ultrapassados nos grampos do ex-presidente Lula", diz o colunista Alex Solnik; "Conversas dele que não tinham relação com a Lava Jato foram grampeadas e divulgadas e – mais grave – a presidente e o ministro Jacques Wagner também foram grampeados, sem autorização do STF"

"Embora o ato de grampear, mesmo quando o grampo é legal, ou seja, tem autorização da Justiça, seja clandestino e ultrassecreto, ele não pode ultrapassar certos limites, que foram ultrapassados nos grampos do ex-presidente Lula", diz o colunista Alex Solnik; "Conversas dele que não tinham relação com a Lava Jato foram grampeadas e divulgadas e – mais grave – a presidente e o ministro Jacques Wagner também foram grampeados, sem autorização do STF" (Foto: Alex Solnik)
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Embora o ato de grampear, mesmo quando o grampo é legal, ou seja, tem autorização da Justiça, seja clandestino e ultrassecreto, ele não pode ultrapassar certos limites, que foram ultrapassados nos grampos do ex-presidente Lula.

   Conversas dele que não tinham relação com a Lava Jato foram grampeadas e divulgadas e – mais grave – a presidente e o ministro Jacques Wagner também foram grampeados, sem autorização do STF.

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   Os grampos da Polícia Federal são realizados através do Sistema Guardião, um computador alimentado por um software capaz de gravar centenas de telefones ao mesmo tempo.

   A central do Guardião fica em Brasília, mas há vários deles nas superintendências regionais.

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   Os leigos imaginam que o computador fica lá gravando os telefonemas 24 horas por dia e de tempo em tempo alguém recolhe as gravações e as transcreve. Mas não é assim que funciona.

   Foi o que me contou o delegado Protógenes Queiroz, comandante da Operação Satiagraha, que, em 2007, grampeou o banqueiro Daniel Dantas e outros envolvidos na investigação. Por sinal, a Satiagraha foi instalada, segundo Protógenes a pedido de Lula, porque Dantas, por meio da Kroll, teria grampeado Lula e outras autoridades do governo federal.

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   Protógenes instalou a central de grampo em dois quartos de hotel do centro de São Paulo sem, evidentemente, revelar à administração o que estava fazendo e com as janelas tampadas por grossas cortinas.

  Cada linha grampeada era monitorada por um agente que ficava na escuta, em tempo real, tendo a CPU do seu computador conectada à central do Guardião, em Brasília, selecionando as conversas pertinentes à investigação, que eram gravadas e transcritas. As demais eram desprezadas.

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   Não havia motivo, portanto, para serem gravadas e transcritas conversas de Lula com o prefeito Eduardo Paes ou com o presidente da CUT, que não tinham nada a ver com a Operação Lava Jato. Tanto o comandante da operação, quanto o diretor-geral da PF e o juiz Sergio Moro a autorizaram e divulgaram por razões que escapam ao objeto da investigação.

   Para cada linha a ser grampeada, Protógenes pedia autorização ao Juiz Fausto de Sanctis e esse pedido era enviado à operadora. Todo número de telefone que ligasse para o investigado também tinha que ser autorizado pelo juiz. A operadora, com o documento em mãos, desviava a linha solicitada para o Guardião. Se a pessoa que ligou para o investigado tivesse foro privilegiado, a escuta, gravação e transcrição precisava ser autorizada pelo STF.

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   Se é assim que funciona, cai por terra declaração do procurador Rodrigo Janot. Segundo ele, a ordem do juiz Sergio Moro de paralisar o grampo no telefone de Lula, expedida às 11h20 do dia em que ele tomou posse no ministério, obtendo foro privilegiado, só foi cumprida duas horas depois, a tempo de gravar sua conversa com a presidente Dilma, devido à demora entre a expedição da ordem e o seu recebimento pela operadora.

   Não faz sentido porque não é a operadora que grava, ela apenas desvia a linha para o Guardião. A ordem foi enviada ao delegado da Polícia Federal que comanda a operação – cuja identidade é desconhecida – que poderia ter, imediatamente, suspenso o trabalho que estava sendo realizado por um dos agentes. Na mesma hora.

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   Também não faz sentido declaração de Janot – repetida por todos os meios de comunicação empenhados na luta pelo impeachment – de que a presidente Dilma não foi grampeada, o grampeado foi Lula, ela apenas entrou na conversa por acaso.

   Embora o Guardião não grampeie todas as linhas que falam com o investigado, ele grampeia, sim, indiretamente.

   Para melhor entendimento cito trecho de reportagem da revista Isto É daquela época:” a Justiça autoriza grampear o telefone 1. Quando o 2 liga para o 1, a conversa é gravada, mas não significa que todas as ligações do 2 serão grampeadas. Quando o 1 recebe a ligação do 3, ela também é gravada, sem que outras ligações do 3 passem a ser monitoradas. O que o Guardião permite – e está sendo usado para isso – é gravar, a partir daí, todas as ligações que o 2 e o 3 fizerem entre si”.

   No caso em tela, foram grampeadas conversas de Lula com Dilma e com o ministro Jaques Wagner, que também tem foro privilegiado.

   Supondo que Dilma seja o 2 e Wagner o 3 da nossa hipótese, as ligações entre Dilma e Wagner passariam a ser grampeadas caso o processo não fosse interrompido naquele dia.

   Esses são alguns sinais que indicam que o grampo do presidente Lula extrapolou os limites legais e éticos de um grampo legal.

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