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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Guedes provoca a suspeita de que um novo golpe estaria em marcha no país

O jornalista Ribamar Fonseca avalia que a declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a edição de um novo AI-5 evidencia que "há um novo golpe em marcha no país". Isso porque, segundo ele, "não se trata da declaração inconsequente de um filho mimado do presidente Bolsonaro, mas de um ministro do atual governo"

Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)
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Depois da fala do ministro Paulo Guedes nos Estados Unidos, de onde ameaçou a oposição brasileira com a edição de um novo AI-5, parece não haver mais dúvidas de que há um novo golpe em marcha no país. Não se trata agora da declaração inconsequente de um filho mimado do presidente Bolsonaro, mas de um ministro do atual governo, titular de uma das mais importantes pastas da administração federal, o que deve merecer a mais veemente reação das instituições democráticas, como o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. Com a declaração de Guedes ficou bastante clara a suspeita de que o golpe já vem sendo cogitado nos bastidores do Planalto, onde estão sendo gestadas medidas destinadas a sufocar eventuais manifestações de rua, inclusive com o uso das Forças Armadas, sob a alegação de impedir que se repitam em território brasileiro os atos registrados no Chile e na Bolívia. O projeto de lei recém enviado ao Parlamento, que na prática dá licença às forças de repressão para matar, seria parte do mecanismo em construção para intimidar o povo e conter possíveis manifestações contrárias ao governo. Se essa proposta for aprovada, como pretendem radicais aliados do Presidente, o Congresso será cúmplice do golpe e cometerá suicídio, com o seu inevitável fechamento.

Bolsonaro, que se elegeu presidente graças à prisão de Lula pelo seu atual ministro da Justiça, desde que assumiu o Planalto provavelmente já alimentava a idéia de governar o país num regime de exceção, onde seus atos não dependeriam da aprovação do Parlamento e nem precisaria se preocupar com a Suprema Corte.  Afinal, como defensor declarado da ditadura e apologista da tortura, é óbvio que ele nunca pensou como democrata, mesmo como deputado durante 28 anos. Diante disso, ao longo deste primeiro ano de governo ele lançou alguns balões de ensaio para sentir a reação do povo e, principalmente, dos militares, pois sem o apoio deles não existe golpe. Até agora, porém, à exceção do general Villas Boas que, quando comandante do Exército,  estacionou tanques diante da sede do STF, nenhum militar de patente superior da ativa ou da reserva emitiu qualquer sinal que pudesse ser interpretado como apoio a iniciativas antidemocráticas. Talvez por isso o capitão ainda não se encorajou à aventura, mas parece evidente que a libertação de Lula o deixou amedrontado, sobretudo porque a sua liderança é incontestável, o que teria intensificado os preparativos para uma possível ruptura do regime democrático. É grande o temor de que Lula arraste multidões para as ruas.     

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A reação dos presidentes da Câmara Federal, deputado Rodrigo Maia, e do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Tóffoli, embora oportuna, soou muito tímida, quase uma satisfação ao público, que esperava mais firmeza na defesa da democracia.  Faltou indignação.  O povo, no entanto, que aparentemente estaria apático,  anestesiado pelo bombardeio de fakenews, já não esconde a sua decepção com o presidente que prometeu o céu e está entregando o inferno. A inquietação já se torna visível, com rumores de greve em várias categorias profissionais, o que vem deixando o governo preocupado, temeroso de que a revolta dos chilenos e bolivianos possa se estender aos brasileiros. Daí porque está se tornando rotina o anúncio de propostas destinadas a reprimir manifestações de rua, como a que cria a figura do “excludente de ilicitude”. O temor cresceu após a libertação de Lula, que já mobiliza a população em defesa dos seus direitos, gradativamente suprimidos. O ministro Guedes, o mais apavorado, disse nos Estados Unidos que Lula está estimulando o povo a promover quebra-quebra, uma deslavada mentira que tem o objetivo de justificar as medidas repressivas. “Não se assustem se alguém falar em AI-5”, disse, em tom de ameaça. Ninguém, na verdade, está assustado, mas indignado com esse autoritarismo que pretende subtrair do povo até o direito de protestar. Está claro que esse pessoal não sabe conviver com a democracia, onde o governo pode muito mas não pode tudo. 

O fato é que são declarações como essa do ministro Guedes que afugentam os investidores, que não se sentem seguros para investir no Brasil. Surpreendentemente, é o próprio governo que cria esse clima de instabilidade no país, com declarações autoritárias e irresponsáveis de seus membros. Na verdade, tudo isso é falta de planejamento, o que dá ensejo à improvisação, como a criação de impostos para os desempregados, por exemplo.  Na composição do seu governo Bolsonaro se preocupou apenas com a ideologia, esquecendo a competência, o que resultou na nomeação de ministros como Weintraub, na Educação; Damares, nos Direitos Humanos; e Ricardo Salles, no Meio Ambiente, entre outros, que não fazem outra coisa a não ser acusar a Esquerda por seus fracassos. O Presidente e seus ministros estão mais preocupados com as críticas dos adversários, especialmente da mídia, e vão empurrando a administração de barriga, ao sabor dos acontecimentos. E não querem ser contrariados, razão porque não sabem viver num regime democrático, tentando impor a sua vontade a qualquer preço. Não há diálogo, sobretudo com o Parlamento, buscando-se a aprovação das matérias do seu interesse mediante o toma-lá-dá-cá que o capitão condenou durante a sua campanha, inclusive com a compra de votos através da liberação de verbas para as emendas dos parlamentares.

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Enquanto os problemas nacionais se agravam, o governo se preocupa, por exemplo, em aprovar uma emenda constitucional que assegure a prisão após condenação em segunda instância, como se isso fosse de fundamental importância para solucionar questões urgentes como a falta de saneamento, o desemprego, etc. O ministro Sergio Moro, à saída de uma reunião com parlamentares, chegou a declarar, com aquela sua conhecida empáfia,  que a aprovação da PEC  era “uma questão de segurança”.  Parece piada. Até a decisão do Supremo Tribunal Federal que restaurou o respeito à Constituição, quanto à presunção de inocência, centenas de pessoas foram presas após condenadas em segunda instância e nada mudou em relação à segurança. Por que, então, essa pressa e preocupação em legalizar esse dispositivo agora, de forma açodada? Essa celeuma, na verdade, que tem consumido grande parte do tempo do governo, tem nome: Lula. Eles querem levar o ex-presidente de volta à prisão o mais rápido possível, porque ele é um perigo  para as pretensões de Bolsonaro de conquistar um segundo mandato. E acreditam que alterando a Constituição de maneira casuística, apenas para tirar Lula do cenário político, poderão ter mais tranquilidade para destruir o país, como estão fazendo, entregando nossas riquezas naturais para as multinacionais e curvando-se ao controle do Tio Sam. 

Uma das estratégias conhecidas para minar a oposição, especialmente para desacreditar as críticas da mídia e o posicionamento, por exemplo, de ministros do Supremo quanto às ações da Lava-Jato, é dizer que todos são “favoráveis à corrupção”.  Desde o funcionamento da operação de Curitiba que “corrupção” passou a ser a palavra da moda, acusando-se de defensores da corrupção qualquer um que seja contrário à prisão após condenação em segunda instância ou que faça criticas aos abusos da Lava-Jato. No tempo da ditadura militar acusava-se de “comunista” todos os que criticavam o governo, hoje são rotulados de corruptos. Muita gente, porém, já não se deixa mais embair por semelhante estratégia, exaustivamente empregada sobretudo nas fakenews. O ministro Paulo Guedes, que é quem vem governando de fato o país, pois é quem realmente manda na economia – até porque o próprio presidente Bolsonaro já confessou que não entende nada de economia – precisa mudar o tom do seu discurso, inclusive evitando ironias como fez na entrevista nos Estados Unidos, se quiser ganhar o respeito sobretudo dos investidores, do contrário ficará marcado na história como o grande coveiro do governo do capitão, hoje mais perdido do que cego em tiroteio. A não ser que acredite, efetivamente, na possibilidade de um golpe com a edição de um novo AI-5. Como disse Eduardo Cunha quando viabilizou o golpe contra Dilma: “Deus tenha misericórdia desta Nação”. 

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