Guerreiros de lápis e teclas!

Doze mortos e onze feridos, quatro em estado grave. Entre as vítimas, chargistas, policiais e jornalistas, gente que usava desenhos e palavras como armas e, no caso dos policiais, armas de verdade para proteger as demais.

Somente os semeadores do ódio, os que usam as religiões para pregar o fanatismo; os que estimulam preconceitos e os pregadores da fé seletiva contra a moral alheia tentarão fazer um esforço estúpido no canto mais obscuro do cérebro para buscar alguma explicação para o atentado contra o Charlie Hebdo. É a serviço, voluntário ou involuntário, desse tipo de gente - e de governos que armam outros governos, ora amigos, ora inimigos - que atentados como esse são cometidos.

O ataque ao Charlie Hebdo não foi contra guerreiros comuns e suas armas, fabricadas em larga escala e utilizadas por mãos de todas as cores e credos em todos os continentes, quase sempre contra seu próprio povo ou povos que tiveram suas terras invadidas. Foi um ataque contra quem praticava um outro tipo de combate, usando apenas lápis e teclas. Gente que lutava contra quem quer fazer valer um pensamento e uma moral únicos. Gente que lutava pelo direito de pensar e criticar governantes, governos, empresas e religiões.

A luta dos chargistas e jornalistas do Charlie Hebdo não visava garantir, via poderio militar, a exploração e o abastecimento de petróleo e outras matérias primas, muito menos prometer um paraíso sempre distante das necessidades do cotidiano de homens e mulheres em eterna mutação.

Com todos os excessos, a luta dos guerreiros do Charlie Hebdo continuará tendo como objetivo apenas provocar no leitor a capacidade de reflexão sobre a escravidão do pensamento fundamentalista e de qualquer outra religião ou ideologia que coloque a liberdade como uma concessão e não como um direito. Charb, o diretor de redação do Charlie Hebdo, disse uma frase que simboliza a luta e o terreno onde ela acontecia e que já ganhou a eternidade: "Não tenho a impressão de assassinar alguém com nossas caricaturas".

Quem luta sem ter o ódio como profissão de fé e de política não pode, mesmo sob ameaça, se deixar vencer pelo medo, nem pela desesperança!