Haddad não deveria fazer piadas com o MPL

Haddad declarou, nesta quinta-feira, que é melhor elegermos um mágico pra resolver o problema da isenção da tarifa. Disse, ainda, que a discussão sobre a Tarifa Zero (que é um projeto sério, criado pela gestão Erundina quando foi prefeita de São Paulo pelo PT) e o transporte público como direito social constitucional, que priorize a população ao invés do lucro dos empresários de transporte (que financiam o prefeito), valem menos do que uma viagem à Disney, e ainda lançou de relance o argumento do "almoço grátis", perdendo, de uma só vez, o senso de ridículo e a oportunidade de abrir diálogo com a sociedade sobre uma questão que foi central durante toda a sua gestão, em um momento em que grande parte das militâncias de esquerda condenavam o silêncio sepulcral do prefeito sobre o assunto.

Depois de sua sofrível performance humorística, ironizando e desrespeitando todos os manifestantes e militantes (inclusive do PT) que gastam tempo, energia e saúde marchando nas ruas, apanhando de polícia, promovendo debates, organizando reuniões, criando material informativo e estudando a questão, o prefeito, já bastante conhecido pela dificuldade em dialogar com movimentos sociais, exigiu que os manifestantes façam o debate "com seriedade".

É preciso reconhecer que Haddad tomou muitas medidas efetivas e corajosas no tocante à mobilidade urbana, e isso lhe garantiu amplo reconhecimento internacional. Entretanto, ainda se recusa a tratar abertamente com a população justamente as questões de mobilidade urbana.

Não se trata apenas de não ceder aos protestos, mas sim de se recusar a pensar e discutir, em fórum aberto, uma demanda política genuína e realizável, apenas porque ainda se mantém subalterno ao cartel empresarial que privatiza nossos direitos e parasita os sistemas de transporte. Diz que a única possibilidade de repensar a tarifa seria a aprovação da municipalização da CIDE, fazendo de conta que não existe a possibilidade de se municipalizar o sistema de transportes e cortar os lucros das empresas privadas.

Ignorar e deslegitimar movimentos sociais com esse discurso de ridicularização é algo que se espera de políticos conservadores e intransigentes, como Alckmin, e não de um gestor moderno e inovador que ganha elogios internacionais, toca guitarra e picha pato donald no túnel. Não precisa ser mágico e nem precisa bancar o palhaço. É só ser coerente.

Nada contra a Disney e piadinhas ridiculamente infames, mas, se eu fosse o prefeito, priorizaria o diálogo aberto e os direitos e demandas do povo. Do contrário, vai precisar ser muito malabarista pra dançar no picadeiro eleitoral que se aproxima.