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Jean Menezes de Aguiar

Advogado, professor da pós-graduação da FGV, jornalista e músico profissional

219 artigos

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Hamas é terrorista; Israel não é flor que se cheire

O Hamas não tem defesa pelo que faz enquanto sua natureza: é uma gente brutal, previsível e terrorista. Israel é um Estado com traços ditatoriais

Palestinos se reúnem no local de ataques israelenses a casas em Jabalia, no norte da Faixa de Gaza (Foto: Anas al-Shareef/Reuters)
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‘Somente a cooperação direta com os árabes pode criar uma vida digna e segura. O que me entristece não é tanto o fato de que os judeus não sejam inteligentes o bastante para entender isso, mas sim que não sejam inteligentes o bastante para querer isso.’ Albert Einstein, carta a Hugo Bergman, 19.6.1930.

Realmente, a falta de inteligência é danosa. Vão-se décadas e o pensamento belicista fossilizado se mantém. Não há sabedoria aí.

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Algumas coisas são incomparáveis. Mas, o que seria ‘mais’ bárbaro: um ataque originário que mata 1000 inocentes em Israel, ou um reativo que mata 5000 em Gaza? Qualquer resposta ideológica é imprestável.

O Oriente Médio engana. E não engana. Porém, exige algum estudo. Há panos de fundo escondidos ali. Talvez o mais central nem seja a disputa de território ou etnias, desprezos e ódios rácicos ou étnicos vitalícios, ensinados em escolas e famílias. Mas a causa, a questão religiosa, envolvendo deuses e crenças, cada uma com suas geolocalizações ‘sagradas’, na região da Palestina.

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Em maio passado, publiquei artigo intitulado A ‘Democracia’ de Israel, com aspas. Abordava o novo ‘golpe’ que o necessariamente ultraconservador qualquer-que-seja primeiro-ministro de Israel, no caso Benjamin Netanyahu, no sexto mandato, aplicava no conceito de democracia. O texto expõe uma indefensável discriminação daquela sociedade, com o preconceito da ‘religião oficial’ de Israel contra os 20% da população que nasce e vive lá – isso mesmo-, mas não adota a religião oficial.

Uma das fontes é o notável ex-judeu e professor de história contemporânea Shlomo Sand, da universidade de Tel-Aviv. Sand, após mostrar o fracasso de se procurar um DNA judeu; qualquer pureza genética; ou uma impressão digital judia, relata uma Israel jamais comprometida com uma autêntica teocracia rabínica, mas, em troca, com uma malandra etnocracia sionista. Diz que vive ‘em uma das sociedades mais racistas do mundo ocidental’, apontando que este racismo ‘é encontrado no espírito das leis, ensinado nas escolas, difundido nas mídias... Em consequência disso, Israel se tornou referência para uma maioria integrante de movimentos de extrema-direita no mundo, onde outrora o antissemitismo era bem conhecido’ (Como Deixei de Ser Judeu, p. 131) .

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A realidade frustra deslumbrados. Já sua revelação enfurece mentirosos.

Há quem acredite que Israel, na lógica do Oriente Médio, seja um eternamente ‘perseguido’ por ataques infames à sua religião oficial. O fato é que Israel conseguiu se inventar e se reinventar como potência em vários sentidos. Só que como a epígrafe de Einstein, já passou da hora de alguém esclarecido lançar mão de uma inteligência racional e objetiva para buscar o único convívio possível com os palestinos: a paz.

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Ainda que isso seja culturalmente difícil. Palestinos sentiram-se traídos com a independência de Israel, os sionistas, que sempre negaram o judaísmo, note-se, e queriam não apenas um lugar para judeus, mas a criação de um Estado judaico – religioso-. Palestinos chamaram essa independência de al-nakba, a catástrofe. O Estado israelense foi conseguido, discriminando populações judaicas primordiais – os que se declaram judeus-, da população oficial pela lei rabínica (Halacha), ditatorial sistema estatal em que é o Ministério do Interior que diz quem pertence ou não à religião. O Estado propagandeia um ethnos judeu; crédulos acreditam. Não à toa a suprema corte de Israel disse que não existe nação nem cidadania israelenses, no famoso caso Georges Rafael Tamarin. O que existe é Estado judeu.

O Oriente Médio acaba sendo previsível. Os preconceitos religiosos ali, antes de serem atrasados, sempre foram trágicos e assassinos. O ‘mate um dos meus que mato mil dos seus’, lógica daquelas guerras, nunca criou sabedoria cultural ao longo da educação para as muitas gerações. 

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Agora, o outro lado, o Hamas. O Movimento de Resistência Islâmica, um grupo protogeneticamente terrorista. Mais um bando de fundamentalistas que, como se não bastasse, efetiva atos homicidas contra civis inocentes de Israel, sendo que toda vez que mata e explode alguém invoca Deus. O patético Allahu Akbar! para assassinar. Aí, um grito de guerra sagrado para matanças e explosões terroristas. Nesta visão, a religião islâmica deveria ‘interditar’, pelo menos formalmente, o uso da frase-adoração por terroristas. A propaganda massificada com a expressão vem se tornando marca indelével do terror.

A hipótese Deus, no Oriente Médio, continua sendo um ponto inflexível em praticamente todas as movimentações bélicas e terroristas da região. Num plano aparente, a questão palestino-israelense se reduziria ao problema da terra, mas retroagindo-se em razões, chega-se aos fundamentos, a tríplice geolocalização ‘sagrada’, das três crenças monoteístas. Não é à toa a frase do cineasta espanhol Luis Buñuel: ‘Deus e a Pátria são um time imbatível; eles quebram todos os recordes de opressão e derramamento de sangue.’

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No plano do Direito Internacional há um pensamento debilitado. Israel, como Estado constituído e potência militar ocupante não pode, em nome de uma reação ao terrorismo do Hamas, agir como exterminador em massa. Mutilar e matar civis intencionalmente, destruindo inacreditáveis 64 mil prédios residenciais em Gaza, em dias, conforme a imprensa mundial, não pode ser mera reação. A fatura jurídica do crime de guerra deverá vir. Tanto para o Hamas, quanto para Israel. Para o Hamas, dane-se: ele é o que é e não vai se importar com esta admoestação jurídica, nem tem como ser responsabilizado. Já para Israel, como Estado, é péssimo.

Assim, duas frentes. A primeira, o fato de o Hamas ser um grupo terrorista e Israel ser um Estado constituído. Situações incomparáveis. Estados têm impedimentos jurídicos e internacionais de agir com vinganças e ferocidades. A segunda – de novo e sempre-, é Israel não guardar alguma proporção entre o ataque terrorista sofrido e a reação exterminadora de civis e cidades. No famoso evento de Qibya, em 1953, por exemplo, Israel matou 69 aldeões palestinos em vingança pelo assassinado de um israelense e dois filhos. Outros episódios sabidamente idênticos houve na História, sempre trágicos.

Desde a 2ª Guerra, apenas o ano de 1947 transcorreu sem conflito armado, situação que em todas as vezes envolveu civis, mortos e feridos por bombas, foguetes, mísseis, carros-bomba, artilharia, ônibus explodidos, franco-atiradores e todo tipo de barbáries e taras homicidas. Sempre cada lado com suas ‘razões’ empedernidas e austeríssimas. E o resultado, um só: guerra.

Enquanto perduram os ataques do Hamas, é legítima e necessária uma reação de Israel que, admita-se, pode se estender à neutralização daquela caterva terrorista, desde que, sempre e obviamente, não dizime inocentes.

O saldo histórico, pelo Atlas do Oriente Médio, de Dan Smith (Publifolha), no rol de atrocidades da região é 1) Israel sempre se impôs militarmente, de uma forma assimétrica e danosa a problemas na região. 2) Não atendeu à resolução 242 da ONU. 3) Invadiu o Egito, na guerra de 1967. 4) A partir de 1970 foi considerado um Estado com armas nucleares. 5) Os assentamentos na Faixa de Gaza foram considerados todos ilegais, pela 4ª Convenção de Genebra. 6) O Tribunal Internacional de Justiça considerou, em 2004, o Muro ilegal. 7) A escandalosa discriminação de recursos hídricos em Gaza dá a palestinos 60 litros de água por dia, mas aos da religião oficial de Israel, 350 litros, isso em poços palestinos. 8) H&aa cute; e sempre houve um ataque permanente à esperança e à dignidade dos palestinos. 9) Com a Intifada, Israel teve seriamente sua imagem prejudicada.

Uma síntese: o Hamas não tem defesa pelo que faz enquanto sua natureza: é uma gente brutal, previsível e terrorista. Quanto aos palestinos, há, infelizmente e em parte substancial da população, muito ódio desenvolvido culturalmente, o que leva a muitos, ainda que sem estarem efetivamente nas fileiras do Hamas, a apoiar o Hamas. Isso complica severamente uma solução de paz. Mas ela se impõe e os palestinos têm que fazer a sua parte nisso. Já quanto a Israel há o fato de ser um Estado constituído, ainda que com traços ditatoriais nítidos e sociais degradantes, orgulhando-se de uma discriminação rácica com a coisa de um povo de primeira, e um povo de resto, aqui incluídos os palestinos, o que sempre impediu conve rsações igualitárias.

Enquanto tais fundamentos religiosos e deísticos, sabidamente atrasados porque aí geradores de guerras ferozes, não receberem um toque de inteligência racional, o que alguém diria ‘milagre’, a situação no Oriente Médio, com guerras, perdurará. E os pais continuarão a ser vistos na TV, aos berros, carregando seus bebês mortos, em prantos, e em ódios viscerais à religião inimiga, ao deus inimigo, e ao país que então precisa ser exterminado da face da Terra.

Que todos aprendam com Einstein.

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