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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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História sempre igual

"Brasil, nos teus mares tão bravios/Quebram ondas de petróleo derramado dos navios,/E esses navios com bandeiras do além-mar/Ninguém sabe se estão indo ou se estão vindo para nos modernizar, devagar" , escrevem Zé Rodrix e Miguel Paiva

Espelho, Espelho Meu (Miguel Paiva)
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Por Miguel Paiva

Fui colega e parceiro do saudoso Zé Rodrix, compositor e artista multitalentoso durante anos, desde garotos. Estudamos juntos no Colégio de Aplicação da UFRJ onde eu o sucedi na página de humor do jornal do colégio. Depois ficamos amigos e viramos parceiros. Juntos, escrevemos Heleno, um homem chamado Gilda que contava através de um musical a história do grande jogador do Botafogo, Heleno de Freitas. Depois montamos Band-Age, que virou um sucesso da época e contava o rito de passagem de uma turma de vestibulandos. Fizemos a trilha do Analista de Bagé baseada no personagem do Veríssimo que circulou durante anos os teatros do Brasil e algumas músicas para novelas. Foram mais de 40 músicas. Recebi hoje estas duas letras da Júlia, viúva do Zé que mostram que não éramos profetas e sim que a História se repete e com isso tenta nos ensinar. A primeira revela alguns modismos dos anos 80, quando foi escrita, e a outra uma expressão artística que era moda à época, quase um diálogo de cordel que tentava revelar as diferenças sociais. O que não muda nessa história toda é o capitalismo, as injustiças sociais e a luta de classe. Muitas vezes vira música.

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BRASIL ACIMA DE TUDO

Zé Rodrix e Miguel Paiva

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Existe uma terra sagrada chamada Brasil

Amada, beijada, e louvada por Nosso Senhor!

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Meu peito se enche de glória e de orgulho viril

Por isso é que nesse momento eu te canto, ó Brasil

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Brasil, tuas matas verdejantes

Foram todas derrubadas, transformadas em papel,

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E esse papel vai voando pelo céu

Como notas promissórias, tão lindas, e recibos de aluguel, a granel

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Meu Brasil, tuas fontes murmurantes

Foram todas encanadas pra fazer refrigerante

E esse refresco é o que dá tanta saúde

Pra essa nossa juventude moderna dos anúncios de Hollywood

Ai, que sucesso.

Jujuba, hambúrguer, prancha de surf, skate, milk-shake, mini K7

Vídeo tape feito em Manaus,

Cigarro mentolado, shampoo de coco importado, rádio de pilha

Kitchenette e vidro ray -ban,

BNH, PP, CPF, PIS-PASEP, INPS, IPASE, PDS

de encantos mil,

Mas essas coisas todas são só algumas das riquezas do meu Brasil

Brasil, nos teus mares tão bravios

Quebram ondas de petróleo derramado dos navios,

E esses navios com bandeiras do além-mar

Ninguém sabe se estão indo ou se estão vindo para nos modernizar, devagar

Meu Brasil e o teu povo varonil

Trabalhou sempre em silêncio pro progresso que surgiu

E esse progresso nós fará a todos dançar

E nós vamos explodir em harmonia numa orgia nuclear.

Quá, quá, quá, quá.

PELEJA DO CAMPONÊS COM O DONO DA VENDA

Zé Rodrix e Miguel Paiva

- Me diga quanto custa esse pão dormido que, dependendo, eu acho que posso comprar?

- Custa a tua alegria, teu sorriso, teu prazer e o carinho doce da tua mulher.

- Então me diga quanto custa esse leite azedo que, dependendo, eu acho que posso comprar?

- Custa o calor do fogo, dez noites de luar e o barulho das crianças a brincar.

-E se eu quisesse ter uma roupa nova?    - Ia custar os dedos da tua mão.    - E se eu quisesse ter uma casa grande?

-Ia custar teus olhos e coração.

- Me diga quanto custa esse sal amargo que dependendo eu acho que posso comprar?

- Custa uma cachoeira, custa um amanhecer, custa os filhos que ainda estão pra nascer

- Então me diga quanto custa esse arroz bichado que dependendo eu acho que posso comprar?

- Custa a tua vontade, custa a tua canção, custa os sonhos da tua imaginação.

- E se eu quisesse ter uma terra boa?  - Ia custar teus dentes e teu pulmão.

- E se eu quisesse ter o meu arco-íris?

- Ia custar a chuva do teu irmão.

-Acho que não vai dar pra fazer negócio. O preço é muito alto, eu não posso pagar.

- Então abra um crediário e pague com a própria vida em suaves prestações até o dia de morrer.

-E os juros?

- No inferno a gente vê.

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