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Juca Simonard

Jornalista, tradutor e professor de francês. Trabalhou como redator e editor do Diário Causa Operária entre 2018 e 2019. Auxiliar na edição de revistas, panfletos e jornais impressos do PCO, e também do jornal A Luta Contra o Golpe (tabloide unificado dos comitês pela liberdade de Lula e pelo Fora Bolsonaro).

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Ho Chi Minh: operário, militante comunista e dirigente contra o imperialismo

Biografia política de Ho Chi Minh, luta contra a dominação francesa e japonesa, as traições do stalinismo e a derrota do imperialismo norte-americano no Vietnã

Ho Chi Minh (Foto: Reprodução)
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Por Juca Simonard

No dia 2 de setembro de 2020 completou-se 51 anos da morte do líder revolucionário vietnamita Ngyuen Sinh Cung, conhecido como Ho Chi Minh (“aquele que ilumina”, em sua língua natal). Nascido em 10 de maio de 1890, há 130 anos atrás, ele foi responsável por um dos maiores acontecimentos da segunda metade do século XX: a libertação do Vietnã das forças imperialistas mundiais.

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O acontecimento, além de ser extremamente importante para a definição da crise capitalista mundial que perdura até hoje, é também um fator fundamental na história dos explorados de todo o mundo.

Ho veio de uma família de intelectuais vietnamitas militantes nacionalistas contra a dominação das forças estrangeiras. Desde cedo ele foi influenciado pelo que marcaria toda sua trajetória: a luta pela libertação de seu país.

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Ho Chi Minh sai do Vietnã

Aos 21 anos, embarcou como cozinheiro em um navio francês, no qual conheceu o mundo enquanto imigrante. No mesmo ano, porém, o vietnamita contraiu uma doença e foi deixado para morrer em um porto do Rio de Janeiro. Ele sobrevive e passa a trabalhar de garçom no bairro central da Lapa enquanto mora em Santa Teresa.

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Durante sua estadia na cidade brasileira, na época a capital do País, frequentemente vai ao porto buscar um navio para embarcar e encontra o cozinheiro negro pernambucano José Leandro, um sindicalista que liderou uma greve no porto com reivindicações como jornada de trabalho de 8 horas e salários iguais entre negros e brancos, conforme mostra artigo da Jacobin.

Este porto, na época, era um dos centros da luta política no Brasil. Alguns anos antes, em 1910, havia ocorrido a Revolta da Chibata, liderada pelo Almirante Negro, João Cândido, contra o uso de chibatadas por oficiais navais (alta patente) brancos contra marinheiros (baixa patente) negros.

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A luta no movimento operário

No final de 1912, Ho Chi Minh, já influenciado pela luta do movimento operário brasileiro, consegue um navio e vai para os Estados Unidos, onde passou pouco tempo até se estabelecer em Paris, na França.

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Na década de 1920, ele começa a se envolver com o movimento socialista na França, mas conforme explicou no texto “O Caminho Que Me Levou ao Leninismo” - publicado em abril de 1960 - junta-se ao bolchevismo e à IIIª Internacional, fundada por Lênin, para defender e se dedicar à luta pela soberania dos povos oprimidos pelo imperialismo.

Ho conta que a “Tese sobre as questões nacionais e coloniais” de Lênin, publicada pela L’Humanité - órgão dos comunistas - influenciou-o no sentido de se juntar à política leninista, uma vez que os partidos sociais-democratas, como a Seção Francesa da Internacional Operária (hoje Partido Socialista), haviam apoiado a Grande Guerra imperialista (1ª Guerra Mundial). Ele ajuda a fundar o Partido Comunista Francês, apesar de não ser um dos elementos mais importantes deste processo.

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O militante ainda inexperiente narra desta forma seu início com os comunistas franceses:

“Formalmente, durante os encontros no comitê do Partido, eu apenas escutava a discussão; tinha uma crença vaga de que tudo era lógico, e não conseguia diferenciar quem estava certo de quem estava errado. Mas a partir daquele momento, passei a me envolver nos debates e a discutir com fervor. Ainda que me faltassem palavras em francês para expressar todas as minhas idéias, eu rebatia energicamente os ataques feitos a Lênin e a Terceira Internacional. Meu único argumento era: ‘Se vocês não condenam o colonialismo, se vocês não estão alinhados com a população das colônias, que tipo de revolução vocês estão buscando’?”

Minh também mostra que foi justamente seu sentimento nacionalista em relação à Indochina (ainda não existia Vietnã) que o tornou marxista. Algo extremamente comum, uma vez que a burguesia nacional dos países atrasados não só não conseguem ter uma política consequente na luta contra a dominação estrangeira, como estão intimamente ligados, pela economia, com os capitalistas internacionais.

Em 1923, ele vai a Moscou, na Rússia, para treinamentos de táticas de guerrilha e oficialmente entra para o braço internacional do Partido Comunista Russo. Vai para a China em 1927, onde assiste a derrota do movimento operário chinês, causada pela política do stalinismo de capitulação com a burguesia, e é expulso. Em seguida, segue para Hong Kong e inicia a luta contra a dominação imperialista da Indochina, controlada desde 1854 pelos franceses. Assim inicia seus trabalhos de organização do movimento operário do sudeste asiático.

Segunda Guerra Mundial: expulsão dos japoneses e dos franceses

Durante a Segunda Guerra Mundial, quando a Indochina estava sendo disputada entre os exércitos aliados e do eixo, o Partido Comunista da Indochina, orientado pelo stalinismo, alia-se aos exércitos franceses e expulsa os invasores japoneses da região. 

O mérito não foi tanto dos franceses quanto foi da organização de uma guerra de guerrilhas pelos comunistas, liderados por Ho Chi Minh, que organizou um exército popular para expulsar os japoneses. Essa organização do povo para expulsar o imperialismo do Japão deu início ao processo revolucionário na Indochina.

A aliança promovida pela União Soviética com a França, porém, quase causou a total derrota do movimento operário e camponês no país. Na época, o stalinismo estava em uma frente ampla internacional com setores do imperialismo “democrático” contra o imperialismo alemão, italiano e japonês. 

A IIIª Internacional, já desmoralizada pelas derrotas promovidas por Stalin e seus capangas em anos anteriores à guerra, escondia a verdade sobre a segunda grande guerra e, para justificar uma aliança com o imperialismo supostamente democrático, referia-se à matança mundial como a luta entre a democracia e o fascismo - algo que até hoje é repetido por setores da esquerda mundial.

Desta forma, aliado com o imperialismo “democrático”, o stalinismo promoveu grandes derrotas do movimento operário. Na França, os operários e militantes do movimento da Resistência que expulsou os invasores alemães foi desarmado para favorecer a manutenção de um governo da burguesia francesa. Na Itália, os operários que derrubaram a ditadura fascista de Benito Mussolini também foram desarmados para formar um governo de coalizão com a participação de comunistas e ex-integrantes do governo fascista.

Porém, algo omitido pela propaganda imperialista e stalinista é a verdadeira onda revolucionária que tomou conta da Europa e da Ásia no final da 2ª Guerra. A glorificação do exército norte-americano e até soviético causa uma confusão tremenda sobre o que, realmente, derrotou o fascismo. Na França e na Itália, foi a população armada que derrotou os alemães e os italianos. Foram traídos pelo stalinismo no momento em que poderiam tomar o poder. Na Grécia, os guerrilheiros também sofreram a mesma traição.

Na Rússia, não foi a estratégia de Stalin que expulsou os nazistas, mas a verdadeira guerra popular de guerrilha. O povo pegou em armas e montou barricadas para apoiar o exército vermelho na expulsão das tropas de Hitler. Da mesma forma, na China, não foi o Kuomintang (partido burguês aliado a Stalin e aos EUA) que expulsou os japoneses, mas os camponeses e trabalhadores armados por Mao Tsé-Tung, que em seguida, já quatro anos após o fim oficial da guerra, em 1949, não deu ouvidos à orientação do stalinismo de cooperação com os capitalistas e tomou o poder.

No Vietnã, algo parecido com a Revolução Chinesa aconteceu. A orientação de Moscou era expulsar os japoneses e entregar o poder de volta aos franceses, que há quase um século impunham uma verdadeira ditadura contra o povo indochinês. Ho Chi Minh, entretanto, não disposto a adotar tal política seguiu adiante na Revolução Vietnamita, tomou o poder e declarou a independência do país, expulsando não só os japoneses, como também a França e alguns outros exércitos imperialistas.

A Guerra do Vietnã

A independência vietnamita, todavia, não foi aceita pela França, que apenas oito anos depois irá ceder, reconhecendo a independência do norte do país, separando-o em dois - algo parecido com o que foi feito na Coréia. O Sul do país continuou funcionando enquanto uma colônia francesa com o apoio dos Estados Unidos através da política iniciada pelo Plano Marshall.

Ho Chi Minh continuou treinando a Frente de Libertação Nacional do Vietnã do Sul, os Vietcongues, que buscou libertar o Sul das forças imperialistas. O militante comunista foi eleito presidente do Vietnã do Norte e liderou a luta pela reunificação do país, levando à invasão dos EUA, que se intensificou no início da década de 1960. O aumento das tropas norte-americanas no Vietnã deu início ao que é conhecido como Guerra do Vietnã, ou Segunda Guerra da Indochina.

A guerra se estendeu para Laos e Camboja, onde também movimentos nacionalistas estavam ameaçando o controle do imperialismo. A intervenção imperialista durante cerca de 20 anos, de 1955 a 1975, foi um verdadeiro genocídio. Eles utilizaram-se de bombas incendiárias, como o napalm, e armas químicas, como o agente laranja, para destruir plantações e desfolhar as árvores de florestas, que eram usadas como esconderijo pelos vietcongues. Milhares de inocentes foram queimados vivos e vilarejos inteiros foram destruídos e sua população chacinada.

A política da burocracia soviética, dando continuidade (de forma mais direitista) à política de Stalin, era de apoio formal aos vietnamitas revolucionários, sem ajudar realmente o processo revolucionário. O argentino Ernesto “Che” Guevara, dirigente da Revolução Cubana, criticou os soviéticos por isso, denunciando a política de coexistência pacífica com os EUA e a política de transição para o capitalismo dos russos.

A Guerra do Vietnã foi um dos principais fatores da crise capitalista na segunda metade do século XX. O imperialismo, debilitado pelas revoluções na Argélia, Congo, Cuba e os processos revolucionários na América Latina, África e Ásia, buscou fazer do Vietnã um laboratório para a destruição do movimento operário internacional e do movimento anti-imperialista nas colônias e subcolônias.

O tamanho da crise pode ser observado a partir do final da década de 1960, com um impasse que já preparava o terreno para a grande crise econômica de 1974 (Crise do Petróleo). Até 1968, a instabilidade capitalista mundial se resumia à sua periferia, os países atrasados. Neste ano, porém, mobilizações contra a guerra do Vietnã tomam conta dos principais centros do imperialismo mundial, principalmente os Estados Unidos e a França. A reivindicação somou-se a outras reivindicações tradicionais do movimento operário e estudantil - e negro, nos EUA.

Internamente, o exército mal treinado e mal armado de esfomeados vietcongues conseguia, cada ano, derrotar um pouco mais as tropas do país com a maior potência bélica do mundo, mostrando a determinação revolucionário do povo vietnamita.

Nos anos de 1970, perdendo a guerra, pressionados pela crise política interna e a crise econômica mundial, os EUA, presidido por Richard Nixon, assinaram um cessar-fogo, dando fim à participação americana na guerra em 27 de janeiro de 1973. Em junho do mesmo ano, o senado norte-americano aprovou ainda uma emenda proibindo novo envolvimento do país na guerra.

O governo do Vietnã do Sul ficou sem o apoio dos EUA, seu principal sustentáculo, e acabou perdendo Saigon (renomeada para Ho Chi Minh) em 1975. O país foi reunificado em 1976. Ho, porém, não chegou a ver essa extraordinária vitória de seu povo, pois sete anos antes em 1969, acabou falecendo. Seu trabalho de organização revolucionária foi forte o suficiente para continuar, mesmo após sua morte, até conquistar a vitória. É por isso que Ho Chi Minh precisa ser lembrado como um dos grandes homens da História. Um líder da humanidade em sua luta pela emancipação contra o capitalismo.

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