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Olavo Brandão Carneiro

Doutor em Ciências Sociais em Desenvolvimento Agricultura e Sociedade (CPDA/UFRRJ)

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Hora de avançar na disputa política: muita luta e nenhuma conciliação de classe

Não devemos sofrer ou lamentar desembarque do Centrão do governo, devemos intensificar a luta política nas ruas

Hora de avançar na disputa política: muita luta e nenhuma conciliação de classe (Foto: Ricardo Stuckert)

As eleições de 2026 continuarão polarizadas entre o lulismo e o bolsonarismo, em outros termos, entre o projeto democrático popular e o projeto neofascista neoliberal. Os neoliberais tradicionais permanecerão divididos entre os dois polos com adesão majoritária ao segundo.

Ninguém da esquerda duvida que as eleições serão dificílimas. Mas não podemos abrir mão programática e simbólica da justiça tributária, fim das desigualdades, da democracia e da soberania. Portanto esses são os elementos para a construção das alianças. Elementos do nosso projeto de Brasil, em que os dois primeiros mais nos conecta com as massas populares.

A defesa da soberania voltou a ser uma necessidade, mas é a taxação dos ricos, fim da escala 6x1, distribuição de renda, emprego com qualidade, alimentos baratos são as pautas que nos conectam com o povão. Tudo isso precisa ser objeto de lutas políticas nos campos institucional, social e ideológico.

A recuperação da popularidade do governo Lula é fruto da decisão de travar a luta nesses campos contra o decreto que derrubava o aumento do IOF patrocinado pelo Centrão e as elites, demonstração explícita da disposição dessas forças em proteger os bilionários e milionários e sacrificar mais ainda os pobres e as classes trabalhadoras em geral. Importante lembrar que a luta foi intensa no STF e nas redes com a campanha Hugo Nem Se Importa. O tarifaço de Trump e o viralatismo da extrema-direita e parte da direita potencializou a intensidade e as agendas de luta vinculadas ao ideário de esquerda e aspectos nacionais do seu projeto de sociedade.

Cabe destacar que antes de partir para a luta política liderada por Lula, ainda não plenamente incorporada por parte da esquerda que busca sempre conciliação, os indicadores socioeconômicos do país já tinham melhorado e a popularidade caía. Inegável o papel da luta política. Enquanto programas eleitorais do PT enfatizavam uma realidade maravilhosa, os programas e atuação do PL, PP, União Brasil batiam e  faziam disputa ideológica e simbólica.

Também nada ajudou na popularidade do governo os atendimentos ao mercado de: arcabouço fiscal, déficit zero, crescimento do PIB e taxa de inflação melhores do que especuladores projetavam no boletim Focus. Sempre querem mais no arrocho ao povo sob a cantilena eterna de ajuste fiscal e corte de gastos. Querem menos dinheiro na saúde e educação com o fim dos vínculos institucionais, mais autonomia ainda do BC, reforma administrativa que fragiliza serviços e servidores públicos.

Governo acreditou que ao entregar elementos centrais da agenda neoliberal como o arcabouço e o déficit zero, as elites, o Centrão e a Globo iriam aceitar e contribuir com agendas de justiça tributária e diminuição das desigualdades. Mesma ingenuidade que viu empresários e políticos palacianos da era Lula atuarem e comemorarem na prisão golpista de 2018. Novamente uma esquerda que acredita mais na conciliação do que na luta de classes.

As pesquisas eleitorais demonstram que prevalece na sociedade brasileira a tese eleitoral dos três terços. Um terço vota na esquerda, um terço na direita/extrema-direita  e um terço oscila. A realidade nos mostra que a aliança eleitoral mais poderosa é a aliança com as camadas populares e não com cúpulas e lideranças partidárias. Estas se movimentam à luz da popularidade e intenção de voto.

Não devemos sofrer ou lamentar desembarque do Centrão do governo, devemos intensificar a luta política nas ruas, nas redes, no imaginário popular, nas instituições.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.