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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Impunidade de Pazuello acende o sinal amarelo

"O episódio Pazuello é apenas a ponta do iceberg. O perigo que ronda a nossa democracia é muito maior e envolve não apenas as Forças Armadas mas, também, as polícias militares", escreve o colunista Ribamar Fonseca

Eduardo Pazuello (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
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O Brasil, conduzido por Bolsonaro, enveredou por um caminho muito perigoso que pode desaguar numa nova ditadura, caso as forças civis  não reajam  a tempo. Depois de demitir recentemente  o comando  das Forças Armadas por não alinhar-se ao seu projeto de poder, Bolsonaro agora humilha o comando do Exército, obrigando-o a engolir a indisciplina do general Pazuello, que participou – e até discursou – de ato político de apoio a ele, infringindo regulamento militar. O comandante do Exército, general Paulo Sérgio, arquivou o procedimento disciplinar contra Pazuello, decepcionando seus próprios colegas de farda, que não escondem a sua preocupação   com a indisciplina que, sem punição, pode minar a hierarquia e desmoralizar a tropa. Aparentemente, o capitão tem agora os oficiais-generais nas mãos, sob controle, o que lhe permitirá chamar com propriedade as Forças Armadas de “meu exército”.  

A verdade é que, embora eleito no regime democrático, Bolsonaro nunca escondeu seu desprezo pela democracia e antes mesmo de assumir a Presidência já sinalizava, através de um dos seus filhos, o seu projeto ditatorial, ameaçando de fechamento o Supremo Tribunal Federal. “Para fechar o STF – disse o filho na época – basta um cabo e um soldado”. O então presidente da Corte, ministro Dias Tóffoli, não reagiu. Fechou-se em estranho silêncio, talvez porque tinha um general como assessor. E a Suprema Corte, diante da covardia do seu presidente, passou a ser alvo de manifestações agressivas de bolsonaristas radicais que, inclusive, lançaram rojões contra o seu prédio-sede. Só após a reação do ministro Alexandre de Moraes, que abriu inquérito para apurar os responsáveis pelos atentados e inclusive mandou prender a bolsonarista Sara Winter, é que a fúria contra a Corte arrefeceu, o que, no entanto, não significa que tenha saído do foco do projeto do capitão. 

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O episódio Pazuello é apenas a ponta do iceberg. O perigo que ronda a nossa democracia é muito maior e envolve não apenas as Forças Armadas mas, também, as polícias militares. Na verdade, desde o início do seu governo Bolsonaro vai levando a política para dentro dos quartéis, conquistando a simpatia dos militares com sua presença nos eventos, com seu discurso armamentista  e, também, com medidas que beneficiam os profissionais fardados. Paralelamente, nomeou mais de seis mil militares da reserva e da ativa para cargos civis em todos os escalões do seu governo. Até o Chefe da Casa Civil da Presidência é um general. Como reflexo disso, policiais militares de Pernambuco atacaram, sem qualquer motivo e de forma violenta, os participantes das manifestações contra ele,  Bolsonaro, no Recife, inclusive cegando duas pessoas com balas de borracha. Até a vereadora Liana  Cirne Lins, da Câmara Municipal de Recife, foi agredida com gás de pimenta só porque pedia calma aos policiais.

Em Goiás um tenente da PM algemou e prendeu um professor simplesmente porque tinha em seu carro um adesivo em que chamava Bolsonaro de genocida. E o que aconteceu com esses policiais? Foram todos afastados das ruas e premiados com trabalhos administrativos. Sabe-se agora que  em Pernambuco quem deu a ordem para a repressão violenta contra os manifestantes foi o próprio comandante geral da PM que, espertamente, pediu exoneração antes de ser descoberto. Isso, porém, não deve isentá-lo de punição, ou será que ele e os outros policiais envolvidos  igualmente terão seus inquéritos arquivados como no caso do general Pazuello? Se os governadores não começarem a agir com rigor em breve perderão a autoridade e  ninguém mais poderá fazer manifestação contra Bolsonaro, pois estará sujeito a balas de borracha, cassetetes, gás lacrimogêneo e gás de pimenta. Em contrapartida,  as manifestações de apoio a Bolsonaro terão a segurança dos mesmos policiais, como aconteceu no Rio de Janeiro, onde centenas de homens da PM carioca acompanharam e protegeram o passeio de moto do capitão.

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Bolsonaro, ninguém mais tem  dúvidas, desde que assumiu o governo vem desconstruindo o país e, aparentemente,  trabalhando para transformar as Forças Armadas em milícias, conforme um  antigo projeto do governo dos Estados Unidos para a América Latina,  denunciado pela Maçonaria num encontro em Curitiba, que deixava para o seu exército a segurança dos países do continente latino-americano.  O episódio Pazuello pode ser o vírus da anarquia que ameaça enfraquecer a tropa, deixando-a à mercê das injunções norte-americanas. Com o controle do Exército, do Congresso Nacional e das polícias militares não será muito difícil ao capitão concluir seu projeto pessoal de poder, até porque, surpreendentemente, ele ainda conta com o apoio de expressiva parcela da população que, ao que parece, ainda não sentiu os efeitos deletérios da sua administração. Ele sabe, porém, que essa parcela do povo não é suficiente para reelegê-lo e, por isso, deverá  usar de todos os instrumentos possíveis para manter-se no poder. Afinal, ele  já deixou bem claro que não pretende desocupar o Palácio do Planalto quando disse: “Só Deus pode me tirar da Presidência”. Acendeu o sinal amarelo.

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