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Lucivânia Nascimento dos Santos Fuser

Lucivânia Nascimento dos Santos é mestra em Estado e Sociedade pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).

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Incompetência e descaso do governo Bolsonaro contra os nordestinos

O governo se esquece de suas obrigações em nome de uma vingança devido à sua rejeição dos eleitores do Nordeste, e à xenofobia que ele expressa

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Passados dois meses que as primeiras manchas de petróleo cru apareceram no litoral do Nordeste, em 30 de agosto, na Paraíba, os moradores do litoral nordestino continuam tendo pouquíssima assistência do governo federal e das forças armadas sob seu comando. Somente no dia 21 de outubro o governo Bolsonaro acionou o exército para conter o petróleo nas praias. Apenas 1.583 militares da Marinha agiram nas praias, sabendo-se que o litoral do Nordeste se estende por 3 mil quilômetros, dos quais mais de 286 pontos foram atingidos pela mancha de petróleo, que continuou a aparecer, chegando ao Extremo sul da Bahia. 

Os bombeiros locais também têm atuado na coleta do petróleo nas praias, mas a maior parte do trabalho que deveria ter sido feito e coordenado pela Marinha e pelo Exército, desde o início, tem sido feito pelos moradores das cidades atingidas, de forma voluntária e sem apoio técnico do governo federal em instruções e equipamentos. 

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A população tem tido ajuda de ambientalistas e da comunidade acadêmica das universidades, como a UFSB – Universidade Federal do Sul da Bahia, que estabeleceu pontos de doação de materiais para coletar o óleo nas praias do Sul da Bahia, e criou uma Comissão Interna Emergencial sobre o incidente do óleo no litoral sul e extremo sul da Bahia a fim de monitorar os recifes de corais, prestar apoio às comunidades tradicionais, fazer trabalhos voltados para a Saúde Pública afetada direta ou indiretamente pela intoxicação e outras ações relacionadas ao problema ambiental. Ações que, obviamente, não foram idealizadas ou efetuadas pelo governo, mas pelos próprios discentes e docentes da universidade.

O secretário da pesca, do governo Bolsonaro, Jorge Seif Júnior, agiu de forma indigna às atribuições de seu cargo. Argumentou como alguém que tenta ludibriar os cidadãos subestimando sua capacidade de entender a gravidade da contaminação dos animais marinhos. Para se isentar das responsabilidades de seu cargo, com um pronunciamento de vídeo condizente com uma idade mental de 7 anos de idade, alega que “o peixe é um bicho esperto e foge quando vê o óleo”. 

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Se estivéssemos falando de um governo sério, ocupado por pessoas responsáveis e equilibradas, o secretário da pesca estaria a essa altura apresentando um programa de subsídios aos pescadores do Nordeste, algum tipo de solução emergencial para a crise que está se abatendo sobre esse setor. Esperava-se de um governo federal, numa situação dramática em que a população do litoral do Nordeste se encontra, uma mobilização maior de militares que são pagos com o dinheiro público dos impostos. Tais ações deveriam ter sido feitas para conter a mancha antes que ela chegasse às praias, ou retirá-la das praias quando fosse impossível a ação de conter ainda em alto mar todo o petróleo vazado. Porém, as forças armadas e esse governo eleito sob o mote “o Brasil acima de tudo”, têm feito ações ínfimas e de forma negligente, ineficiente e irresponsável.

Moradores de várias localidades do litoral do Nordeste, sem assistência da Marinha e do Exército – esse se pronunciou quase dois meses depois da tragédia ser divulgada –, foram expostos ao petróleo na tentativa de salvar as praias, que não são apenas locais de lazer dos moradores e dos turistas do Sul e Sudeste: as praias são o lugar onde muitos nordestinos ganham o pão de cada dia, de onde conseguem sustentar a família e sobreviver trabalhando na pesca, ou no comércio, ou na prestação de serviços, que precisam atrair turistas para gerar renda. Até o mês de outubro, dezenas de pessoas apresentaram sintomas de intoxicação. Os danos à saúde e os prejuízos financeiros são graves. Mas Bolsonaro conseguiu debochar da situação

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Em seu recente vídeo que ele teve a coragem de divulgar ao vivo, fez deboche com o drama ambiental vivido no Nordeste: “De vez em quando fica uma tartaruga na mancha de óleo, um golfinho, mas tudo bem”, disse Bolsonaro. O cargo de presidente da República está ocupado por alguém que não tem a capacidade de agir como adulto, e governa através das redes sociais, como se essas redes fossem o novo Diário Oficial da União. 

Além disso, estão evidentes nesse descaso de seu governo, uma vingança devido à sua derrota no Nordeste, e o racismo espacial e ambiental do qual são vítimas pessoas que habitam em espaços racializados, cujas vidas valem menos para o Estado e a sociedade. 

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A xenofobia contra os nordestinos, que está constantemente em suas falas antes e depois das eleições, referindo-se aos governadores do Nordeste como “paraíbas”, e na fala de seus eleitores do Sul e do Sudeste, evidenciam que nascer no Nordeste ganhou status de raça inferiorizada, com estereótipos e inferiorização, vendo-os como um corpo estranho na sociedade brasileira e um entrave para a civilização. 

Tem sido assim com o Nordeste desde antes de sua perda de hegemonia reconhecida no território nacional, conforme Albuquerque Júnior (2011), quando foi inventado como região em documentos oficiais da IFOCS – Inspetoria Federal de Obras Contra a em 1920, mas teve a invenção de sua identidade estereotipada muito antes, quando o país ainda era imagético-discursivamente regionalizado apenas entre Norte e Sul. A República Federativa do Brasil teve como seu primeiro ato a Guerra de Canudos, que culminou no genocídio de 25 mil sertanejos, cometido pelo Exército e com participação da antiga Guarda Nacional, em 1897. Nesse contexto, os sertanejos nordestinos eram vistos pela imprensa como fanáticos, ignorantes, mestiços, inferiores, primitivos, um entrave para a civilização e a República, Cf. Zilly (1999). 

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Quando o Nordeste foi classificado como região pelo IBGE, no ano de 1940, ele já nasceu com o estigma que o Sul havia dado ao Norte, e que se perpetuou e se reproduziu na literatura a partir da própria área estigmatizada. Portanto, a xenofobia contra os nordestinos não surgiu nas eleições que deram vitória ao PT. É histórica e está no cotidiano das relações entre sulistas que têm regionalismo de superioridade e os nordestinos. Sempre que se trata de uma questão nacional, essa xenofobia ganha evidência. Mas estamos vivendo em um governo fascista que instrumentaliza mais uma vez a xenofobia para relativizar a importância da vida no Nordeste. O baixo empenho do governo Bolsonaro e das forças armadas para resolver o problema ambiental que afeta o Nordeste é racismo ambiental e espacial, resultantes do racismo simbólico, além de um comportamento infantil típico de um psicopata.

O governo se esquece de suas obrigações em nome de uma vingança devido à sua rejeição dos eleitores do Nordeste, e à xenofobia que ele expressa, mas, ao ser irresponsável na questão dramática vivida por pescadores e outros trabalhadores nordestinos que tem o mar como fonte de renda, ele pode atingir agências de turismo e empresas aéreas que lucram todos os anos com as viagens de férias para a região que é o destino mais procurado do Brasil durante o verão: o Nordeste.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval. A invenção do Nordeste e outras artes. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

ZILLY, Bethold. Sertão e Nacionalidade: Formação Étnica e Civilizatória do Brasil Segundo Euclides da Cunha. In Estudos – Sociedade e Agricultura. Rio de Janeiro: UFRJ/CPDA, nº 12, abril de 1999.

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