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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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Indignação da imprensa com ataque a jornalista durou 48 horas

"Perdemos uma presidenta que era insultada todos os dias por todos os setores da sociedade brasileira e que, ainda assim, respeitava a imprensa e a liturgia do cargo, para ganharmos um presidente que insulta todos os dias todos os setores da sociedade brasileira e que ainda insulta a imprensa e fere a liturgia do cargo".diz o colunista Gustavo Conde

Bolsonaro, Patrícia Campos Mello e capa da Istoé (Foto: Marcos Corrêa/PR)
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Como se previu, a indignação da imprensa com Bolsonaro durou apenas 48 horas.

A lua de mel voltou: a preocupação agora é com o crescimento e com Paulo Guedes. Todos juntos, no mesmo barco, pra frente Brasil, salve a seleção.

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E o viés é sempre pró-Bolsonaro. É ele que quer um PIB maior que 2%, não o mercado, não Paulo Guedes - que têm de cumprir a missão do "chefe".

As editorias políticas, decrépitas, confundem cargo com legitimidade. É um misto de inocência e burrice. Acham que o fato de Bolsonaro 'estar' presidente da República basta para que ele seja tratado como alguém dotado de legitimidade política - e, portanto, de lastro para cobrar seu governo de alguma coisa.

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É o exato contrário do tratamento que foi dedicado à ex-presidenta Dilma Rousseff. Dilma não era dotada de legitimidade pelas editorias dos grandes jornais. Eles esvaziavam sua legitimidade todo o santo dia nas manchetes e no tom das reportagens.

Era comum ler que Dilma não tinha o controle do governo, que o mercado estava indisposto com suas políticas, que ela não tinha competência para fazer o país crescer, que as políticas sociais do governo configuravam um gasto inaceitável para o erário público.

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A rigor, era um festival histérico de deslegitimação estampado em todos os veículos de imprensa que acabou por resultar naquilo que aceitamos nomear equivocadamente de 'impeachment'.

E olhe que Dilma não insultava jornalista, pelo contrário: era e é uma das maiores defensoras da liberdade de imprensa, no conceito prático e na extensão teórica.

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Aliás, era o contrário: Dilma era insultada por jornalistas (jornalistas, médicos, dentistas, caminhoneiros, professores, empresários).

Vejam vocês como as coisas mudaram.

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Perdemos uma presidenta que era insultada todos os dias por todos os setores da sociedade brasileira e que, ainda assim, respeitava a imprensa e a liturgia do cargo, para ganharmos um presidente que insulta todos os dias todos os setores da sociedade brasileira e que ainda insulta a imprensa e fere a liturgia do cargo.

Não bastasse, esse presidente que insulta a todos é generosamente poupado por essa imprensa - que também é atacada por ele - sendo novamente investido de legitimidade 48 horas depois de desferir o mais abjeto ataque sexista a uma jornalista.

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E para não esquecer: enquanto Dilma era diariamente vítima de ataques sexistas por parte de quase toda a sociedade brasileira, Bolsonaro faz ataques sexistas diariamente à praticamente toda a sociedade brasileira.

O comportamento das editorias políticas é um misto de misoginia, machismo rudimentar e canalhice barata.

Caracteriza também imensa falta de respeito com a jornalista Patrícia Campos Mello, já que volta-se a tratar o monstro insultuoso que a atacou com a deferência aristocrática e frívola das solenidades bajulatórias.

Era, ademais, completamente previsível esse comportamento da imprensa.

A imprensa brasileira não vai "se curar", essa questão não está posta. Ela seguirá sua função de navegar conforme o vento do mercado e do patronato. Seria demais pedir, em uma sociedade desigual e atrasada como a brasileira, que os jornalistas desenvolvessem alguma consciência profissional e técnica. Eles apenas querem sobreviver.

Faltou um Lula para politizar os jornalistas deste país. Até aqueles que orbitam ao redor da esquerda amealham idealismos mofados de prática textual, acumulando pressupostos argumentativos dos tempos da ditadura e se recusando a reciclagens técnicas do mundo da interpretação e redação.

A cobertura noticiosa dos fatos em um país como o Brasil tem a qualidade dos próprios fatos, porque ela é, a rigor, também um fato.

A possibilidade de se produzir informação crítica de qualidade em uma sociedade como a brasileira é, justamente, desocupando as fileiras do jornalismo tradicional, apodrecido cognitivamente por esse universo pretensioso que lhe habita as entranhas.

A pretensão de ser "neutro", "factual" e "objetivo", conceitos formidavelmente ainda pronunciados em redações como se fosse possível crer em quaisquer um deles.

O resultado é esse: uma indignação que dura 48 horas com um canalha, torturador e bandido versus uma histeria que durou 13 anos com o mais democrático dos governos.

A amarga constatação de que somos todos um pouco suicidas talvez seja o nosso consolo emergencial.

O Brasil não é para ser 'entendido'. O Brasil é para ser 'sentido'.

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