Inovação na forma e no conteúdo: TV 3.0 deveria trazer canais progressistas
Governo Lula tem uma oportunidade histórica de ir além da melhoria técnica e transformar a TV 3.0 no vetor concreto de democratização da mídia, diz Aquiles Lins
“Vem aí a TV 3.0, sistema que vai fazer o casamento definitivo da TV aberta com internet. Com isso, a população brasileira terá acesso à televisão de última geração com imagens e som de altíssima definição. Isso significa mais informação e mais qualidade para a população brasileira.” A fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante evento que marcou o balanço dos dois anos de governo, aponta o caminho de uma transformação tecnológica relevante: a chegada da TV 3.0, prevista para 2025.
Com salto de resolução do Full HD para 4K — ou até 8K —, som imersivo e novos padrões de interatividade, a TV 3.0 marca o início de uma nova era na televisão brasileira. A navegação se dará por aplicativos, como nos serviços de streaming, com conteúdos ao vivo e sob demanda. Além disso, abre a possibilidade de oferta de políticas públicas, como programas de saúde e educação, personalizados e acessíveis para as famílias de baixa renda. Trata-se de um avanço tecnológico de impacto real para as 68,9 milhões de residências brasileiras que já têm acesso à internet, segundo o IBGE.
Mas se o salto tecnológico é bem-vindo, ele não deve ser encarado como fim em si mesmo. O governo Lula tem nas mãos uma oportunidade histórica de ir além da melhoria técnica e transformar a TV 3.0 em um instrumento concreto de democratização da mídia. Isso significa repensar o atual modelo concentrador das concessões de televisão aberta, que privilegia grandes conglomerados e exclui vozes dissidentes e progressistas do debate público.
Hoje, o sistema de radiodifusão brasileiro está capturado por um oligopólio. Poucas famílias controlam a maioria das concessões, o que limita a diversidade de ideias e interpretações da realidade. Essa estrutura favorece a manutenção de narrativas dominadas pelo capital e, não raro, pelo antipetismo disseminado diariamente por veículos como a TV Globo — uma emissora historicamente contrária aos governos de esquerda, apesar do apoio popular consistente que o PT tem demonstrado nas urnas ao longo das últimas décadas.
Com a arquitetura híbrida da TV 3.0 — que integra transmissão via antena com internet — e sua maior eficiência no uso do espectro, abre-se a possibilidade técnica de ofertar múltiplos canais dentro de uma mesma faixa de frequência. Isso permitiria que veículos como TV 247, Opera Mundi, Revista Fórum, ICL, entre outros, pudessem acessar legalmente o espaço da TV aberta, seja por novas concessões, seja por modelos de multiprogramação ou parcerias com emissoras já existentes.
A Constituição brasileira é clara: a comunicação social deve cumprir uma função pública. O espectro de radiodifusão, por ser bem público e escasso, deve estar a serviço da sociedade — e não de interesses empresariais concentrados ou ideologias restritas. A inovação tecnológica da TV 3.0 cria as condições ideais para tornar esse princípio constitucional uma realidade palpável. Mas, para isso, é preciso vontade política e coragem para enfrentar os interesses estabelecidos.
O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, destacou que a TV 3.0 será gratuita, interativa e com maior qualidade. Isso é essencial. Mas também é essencial que essa qualidade seja acompanhada de pluralidade. Mais vozes no ar — especialmente aquelas que representam trabalhadores, movimentos sociais, povos indígenas, quilombolas, mulheres, juventudes, periferias — são fundamentais para uma democracia viva, vibrante e representativa.
Democratizar a mídia não é censurar ninguém. É garantir que mais brasileiros e brasileiras possam contar suas histórias, formular suas ideias e contribuir com diferentes visões sobre o país. O governo Lula tem, portanto, a chance concreta de deixar um legado duradouro: fazer da inovação tecnológica um motor de transformação democrática. A TV 3.0 será, sim, um avanço. Mas só será um verdadeiro salto civilizatório se, junto com mais pixels e mais som, trouxer também mais vozes.
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