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Ricardo Kotscho

Ricardo Kotscho é jornalista e integra o Jornalistas pela Democracia. Recebeu quatro vezes o Prêmio Esso de Jornalismo e é autor de vários livros.

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Jair Bolsonaro não inventou nada de novo: só abriu a porta do armário

"Para quem acha Bolsonaro muito radical, é bom ler o que escrevem seus seguidores nas redes sociais e nas áreas de comentários dos portais", alerta o jornalista Ricardo Kotscho, em texto para o Jornalistas pela Democracia, que fala sobre "a nova cultura bolsonarista solta nas ruas"; "Machismo, xenofobia, racismo e todo tipo de boçalidade passou a fazer parte do “novo normal” deste Brasil verde amarelo, triunfante e barulhento, que está na moda e marcha para o poder. O governo Bolsonaro tem dia para começar e acabar, um dia passa, mas o radicalismo e a estupidez dos seus seguidores mais fiéis vieram para ficar", diz ele

Jair Bolsonaro não inventou nada de novo: só abriu a porta do armário
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Por Ricardo Kotscho, para o Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia - Para quem acha Bolsonaro muito radical, é bom ler o que escrevem seus seguidores nas redes sociais e nas áreas de comentários dos portais.

Em respeito aos leitores, não vou reproduzir as barbaridades ali publicadas, algumas delas bem assustadoras.

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Eles não baixaram as armas depois da campanha eleitoral.

Ao contrário, uma vez vitoriosos, ao perceber que eram muitos, encheram-se de coragem e partiram para a guerra contra os “vermelhos”, a denominação genérica dada aos que não estão do lado deles.

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O bolsonarismo já existia na sociedade brasileira faz tempo, agora sabemos, mas estava escondido nos armários e nos cofres da casa grande, só à espera de um porta-voz e uma bandeira para desfraldar na cara dos inimigos.

Da avenida Paulista dos patos amarelos às favelas e subúrbios, não demorou muito para a turma da senzala correr atrás, achando que também tinha chegado a sua hora de se vingar “contra tudo isso que está aí, táokei?”.

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Atento à direção dos ventos e ao humor do eleitorado, o capitão saiu do quase anonimato para, em pouco tempo, reunir multidões à sua volta nas aparições que fazia em aeroportos desde 2014, quando decidiu ser presidente.

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Ninguém o levou muito a sério, nem seus companheiros da “bancada da bala”. No início da campanha em 2016, os americanos também achavam que Donald Trump jamais seria eleito.

Mal dava para entender o que capitão reformado falava e a quem se dirigia, sempre desafiador em sua linguagem tosca de frases curtas e truncadas, sem ligação uma com a outra, apenas bordões sem nexo.

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Mas todos entendiam seus gestos primitivos, fazendo arminha com as mãos e chutando bonecos de pixulecos, nos palanques improvisados.

Eleito, manteve o estilo despojado, gravando vídeos caseiros em seu bunker, com uma bandeira brasileira torta ao fundo e alguns livros fechados sobre a mesa, destacando-se um de Olavo de Carvalho.

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Quem estranha esta falta de modos para um presidente da República, eleito com 57 milhões de votos, é bom lembrar que ele se dirige apenas aos convertidos, para manter a moral da tropa e animar a galera. Lixa-se para o resto.

Bolsonaro fala para seus iguais, que são milhões, e agora apareceram à luz do dia, multiplicando-se como coelhos furiosos em todas as bandas da sociedade.

Feio ficou bonito, grosseria confunde-se com autenticidade, ignorância tornou-se virtude.

Machismo, xenofobia, racismo e todo tipo de boçalidade passou a fazer parte do “novo normal” deste Brasil verde amarelo, triunfante e barulhento, que está na moda e marcha para o poder.

O governo Bolsonaro tem dia para começar e acabar, um dia passa, mas o radicalismo e a estupidez dos seus seguidores mais fiéis vieram para ficar.

Aquela história de brasileiro cordial, que me perdoe Sergio Buarque de Holanda, foi enterrada para sempre.

Marombados e marombadas mostram sua força por trás dos grandes óculos escuros, a bordo de grifes e carrões blindados, resolvem as diferenças na porrada, enquanto não se liberam as armas de verdade.

No faroeste caboclo que avança pelo país, a nova ordem da farda & toga dá o tom de modernidade ao que é apenas cafajeste.

Se não gostam da imagem refletida no espelho, atiçam seus cachorros contra os jornalistas vendidos, todos a serviço da Globo, que torcem contra porque não querem ver o país dar certo.

“Nenhum jornalista votou no Bolsonaro, pode crer, por isso vocês metem o pau nele. Mas a gente precisava mesmo de um cara como esse. Só um cara meio louco para botar ordem nesse chiqueiro”, disse-me, na manhã desta quinta-feira, um taxista que ouve a Jovem Pan o dia inteiro.

Era um senhor já idoso, que não admitia ser contrariado. “Quem te falou que o Jânio renunciou? Ele se matou porque não conseguiu consertar o Brasil. Agora eu boto fé nesse que vai entrar aí”.

Não adiantava tentar explicar que Jânio não era Getúlio, e nem todo jornalista trabalha na Globo. Típico bolsonarista, acha que nenhum político presta, é tudo ladrão, enquanto fura o sinal vermelho, xinga um pedestre na faixa e dá uma cuspida pela janela do carro.

É a nova cultura bolsonarista solta nas ruas, certamente um modelo para as futuras gerações.

Não importa como, o importante é se dar bem. Para que essa frescura de estudar, fazer uma faculdade, comprar livros, se tem tanto cara com diploma que ganha menos do que eu, não é mesmo?

Bastou correr a notícia na quarta-feira de que a Justiça tinha mandado soltar o Lula, para a fúria antipetista voltar às redes e às conversas como um rastilho de pólvora.

O taxista simplesmente não se conformava. “Já pensou soltar esse homem?”

Fiquei pensando: de onde vem e para onde vai tanto ódio?

O mais estranho é que nem oposição temos, já que parece estar todo mundo de férias, e as milícias internéticas continuam com a faca nos dentes.

Vão acabar se matando uns aos outros, na falta de inimigos.

Vida que segue.

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