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Ricardo Nêggo Tom

Cantor, compositor, produtor e apresentador do programa Um Tom de resistência na TV 247

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Jair e o caminhão da transição

Bolsonaro e caminhão de mudança no Palácio do Planalto (Foto: Marcos Corrêa/PR | Reprodução/Twitter)
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É, meus caros! Como diria a segunda-feira para o domingo, nada como um dia após o outro. Depois de quatros anos desfrutando de uma vida confortável, morando num verdadeiro palácio sem pagar um tostão sequer, Jair se prepara para deixar a mansão que abrigava a sua família e onde ele recebia os seus amigos mais secretos sob sigilo de cem anos. Alegando que o inquilino não estava cuidando bem do imóvel, o senhorio rescindiu o contrato e decidiu alugar a residência para outro morador. Alguém que já havia residido no local, e cumpria melhor as exigências contratuais de locação do imóvel.

É. Jair! Por essa você não esperava, né? Já havia até mandado reformar a dispensa e construir uma enorme prateleira apenas para guardar o seu estoque de leite condensado, iguaria que ele não abre mão de degustar, sobretudo, quando se tranca no banheiro para refletir antes de tomar decisões. Dona Michelle, sua esposa, também havia mandado construir um espaço onde organizaria reuniões da sua seita religiosa e o seu filho Carlinhos estava projetando a sua nova brinquedoteca, de onde comandaria os seus robôs e governaria o seu mundo paralelo. A família inteira estava arrasada, e a preparação para a mudança faria chorar até os mais insensíveis dos homens que já habitaram este planeta. Jair era a cara da derrota.

Michelle: Você já agendou com o caminhão de mudança, Jair?

Jair: Sim. Já deve estar chegando.

Michelle: Espero que não seja uma daquelas carroças velhas que você alugou para obstruir as rodovias depois da eleição.

Jair: Não enche, porra! Vai ficar de frescura escolhendo caminhão para levar as suas trouxas?

Michelle: Não chama as minhas coisas de trouxas, seu grosso! A única trouxa que eu carreguei esse tempo todo foi você. Mas acabou, porra!

Jair: Acabou nada! Eu ainda tenho a caneta aqui em casa. E vou usá-la se você ousar a me desobedecer. Eu ainda sou o comandante em chefe dessa família.

Michelle: Que mané vai usar caneta. Essa caneta nem tinta tem mais, seu velho chorão! Você não comanda mais nem manifestação de ex-combatentes.

Jair: Não me faça sair das quatro linhas com você, Michelle

Michelle: Tá me ameaçando? Vai fazer o que? Vai me colocar de castigo na porta de um quartel, pegando chuva e prestando continência para um pneu?

Carlinhos: Pai? Cadê o meu cubo mágico?

Jair: Eu lá vou saber onde está seu cubo.

Carlinhos: Eu tinha emprestado ele para o senhor usar no intervalo do debate na Band

Jair: Eu não tenho paciência para essas coisas. Um monte de cores num quadrado. Devo ter jogado fora

Michelle: Quem pegou duas caixas de papelão que eu tinha separado para embalar meus produtos de maquiagem?

Carlinhos: Eu peguei para colocar as minhas armas de brinquedo

Michelle: Quem mandou? Você tinha que me pedir

Carlinhos: Meu pai deixou. E eu não tenho que te pedir nada. Você não é minha mãe.

Michelle: Foi você quem estragou esse menino, Jair! Se tivesse dado umas palmadinhas nele na infância, ele não teria ficado assim

Jair: Vão ficar brigando por uma caixa de papelão agora? Esvazia aquelas caixas com cloroquina e ivermectina que estão lá no porão e usa. Eu tenho que me livrar daquilo mesmo.

Michelle: E onde eu vou botar aquele monte de remédio?

Jair: Dá para as emas comerem. Elas pensam que é biscoito.

Michelle: Você tá maluco, Jair? Quer matar as emas do palácio de overdose?

Jair: E daí? Elas vão morrer um dia mesmo

Carlinhos: Eu não estou encontrando aquele livro do Hitler que eu emprestei para o senhor, pai.

Jair: Joguei fora! Tinha um monte de coisa escrita, não consegui ler aquilo.

Carlinhos: E como o senhor aprendeu a agir igual a ele se não leu o livro?

Jair: Já estava no sangue.

Michelle: Jair, você viu aquela Bíblia que a Damares nos deu de presente?

Jair: Joguei fora. Tinha um monte de coisa escrita também e eu só consegui ler até o velho testamento. Depois era só coisa de comunista. Papinho de repartir o pão, amar ao próximo, oferecer a outra face, ajudar os pobres...

Michelle: Como assim jogou fora? Não se joga a palavra de Deus fora, seu animal!

Jair: Como não? Foi o que você mais fez durante esses quatro anos, dizendo que estava orando pela nação. Hahaha!

Michelle: Fiz para te ajudar, seu ingrato! Porque você sozinho com essa cara de nazista, não convenceria a ninguém de que éramos uma família cristã.

Jair: Vai ficar jogando na cara agora?

Carlinhos: Pai? Como é a casa que o tio Valdemar vai pagar para a gente morar? Meu quarto é grande?

Michelle: Para a gente morar? Seu quarto? Quem disse que você vai conosco?

Carlinhos: E não vou?

Jair: Meu filho! Você já é adulto e o tio Valdemar só vai bancar a mim, a Michelle e a sua irmã Laurinha. Você pode morar na nossa casa no Vivendas da Barra, com toda a segurança que os nossos vizinhos milicianos podem te garantir.

Carlinhos: Não acredito que o senhor vai me trocar por essa mulher. Depois de tudo o que eu fiz para o senhor chegar ao poder. Isso é uma verdadeira facada no meu intestino.

Michelle: Para de fazer drama e cuida de enviar os seus trapos para a sua nova casa. E vê se não esquece o Índio no armário. Tem que ficar tudo desocupado para o novo morador.

Carlinhos: O senhor não pode me cuspir assim, como se eu fosse aquele frango com farofa que o senhor espalhou para todo lado aquele dia na feira.

Michelle: Ah, coitadinha da dona formiguinha!

Carlinhos: Você me paga, sua cobra! O seu passado virá à tona. Vou ligar para o Léo Dias e acionar os meus robôs no Twitter. Amanhã todo mundo vai saber que você era dama da noite antes de ser primeira dama da república

Michelle: Dama da noite era a sua mãe. Seu....

Jair: Acabou, porra! Vamos parar com essa discussão, talkey? Temos muita coisa para arrumar e fazer a transição para a nova casa.

Michelle: E eu preciso de mais caixas para guardar os meus vestidos e os meus sapatos.

Carlinhos: Eu vou ligar para o Queiroz e ver se ele me ajuda com as minhas coisas.

Jair: Eu ainda não me conformo em ter que me mudar daqui. Esse lugar tem a minha cara.

Carlinhos: Lógico, né pai! O senhor botou quadros com a sua cara em todos os cômodos da casa.

Michelle: Ele vai é sentir saudades dos seus rolezinhos de moto lá pelas bandas de São Sebastião, onde ele ia admirar as jovens venezuelanas bonitinhas e arrumadinhas.

Jair: Não começa, Michelle! Eu já expliquei essa história aí.

Michelle: E não me convenceu

Carlinhos: O que tem nessa caixa que está escrito “confidencial”?

Michelle: Se não for algumas coisas que o seu pai colocou em sigilo de 100 anos, deve ser leite condensado.

Jair: Deixa isso aí! Essa caixa é para os patriotas verem e seguirem acreditando que eu tenho um plano para impedir a mudança do novo morador.

Carlinhos: E o senhor já decidiu se vai passar as chaves da casa para ele?

Jair: Nunca! Vou deixar na caixa do correio. Ele que pegue lá.

Michelle: Você vai levar aquela moto de madeira que fizeram em sua homenagem?

Jair: Claro! É a lembrança das motociatas em plena pandemia, que eu vou guardar para sempre.

Arrumadeira: Com licença, dona Michelle! Aquele quadro da família Adams é para embalar também?

Jair: Que família Adams, sua imbecil? Ali sou eu, Michelle e Laurinha.

Arrumadeira: Desculpa, presidente! É que...

Michelle: Eu também não gostei daquilo. Pode jogar fora! Só não joga fora aquele que eu estou parecida com a Elza da Frozen. Foi Damares quem me deu de presente.

Jair: E aquele que eu estou ao lado de Jesus Cristo e uma criança?

Michelle: Jesus mandou jogar fora. Disse que não quer ser fotografado ao seu lado

Jair: Pisa mesmo, sua ingrata! Eu vou ser presidente de novo e vou trocar você por uma novinha venezuelana mais arrumadinha

Michelle: Só se for presidente do pavilhão A de Bangu 8. Velho tarado!

Jair: Se eu for preso, você também vai. Você é minha cúmplice, esqueceu?

Michelle: Eu faço acordo de delação premiada, reduzo a minha pena e aumento a sua.

Carlinhos: Eu avisei para o senhor não confiar nessa mocreia, papai.

Michelle: Mocreia é a sua mãe.

Carlinhos: Não fala da minha mãe, sua...

Jair: Chega, porra!

Mordomo: Seu Jair!

Jair: Seu Jair, não! Presidente!

Mordomo: Mas o outro já foi diplomado. O senhor não é mais presidente. Não acabou?

Jair: Não acabou, porra! Como ousa me desafiar, seu vagabundo comunista? Eu ainda posso te colocar no pau de arara, talkey?

Mordomo: Eu hein! Eu só queria avisar que o caminhão chegou.

Michelle: Já? Mas eu nem acabei de embalar o ouro que o pastor do MEC me deu.

Carlinhos: E eu ainda nem formatei os HDs dos meus computadores secretos.

Jair: Não precisa ter pressa. Eu aluguei o caminhão por 72 horas. Se atrasar um pouco mais eles vão saber esperar.  Ai que vontade de chorar!

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