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Lelê Teles

Jornalista, publicitário e roteirista

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Jair, e os bibliófobos

O sujeito esculachava o gigante Paulo Freire e jactava-se ao anunciar um grande feito pedagógico previsto para o ano da graça de 2021: colocar uma bandeira na capa dos livros escolares e grafar, também, a letra do hino nacional. A proposta do capetão, porém, gerou grande debate entre a equipe de çábios do desgoverno, todos alérgicos a livros

Jair Bolsonaro (Foto: Wilson Dias/ Agência Brasil)
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O ano mal começa e o analfabeto funcional que nos preside - até quando?  -  já começa a dar coices e proferir asneiras.

Dessa vez, a vítima foram os livros; os didáticos.

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Na semana passada, no portão de casa, o sujeito esculachava o gigante Paulo Freire e jactava-se ao anunciar um grande feito pedagógico previsto para o ano da graça de 2021: colocar uma bandeira na capa dos livros escolares e grafar, também, a letra do hino nacional.

O gado, mugindo atrás do cercadinho, aplaudiu o relinchar presidencial.

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A proposta do capetão, porém, gerou grande debate entre a equipe de çábios do desgoverno, todos alérgicos a livros.

A letra do hino parece que vai cair.

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Consultado, o ministro sem educação obtemperou: “num sei, presidente, a letra do hino é muito extensa, tem palavras bastante sofisticadas, parece coisa de maconheiro, um tal de ‘ouvirum du’ que ninguém sabe em que língua é; acho que tem muita coisa escrita ali, tem que suavizar”, respondeu, repetindo o mestre, como um papagaio.

Cofiando a barba, para dar-lhe fumos sapienciais, o bardoto do itamarati opinou: “também num gosto desse hino, muito poético, a criança num entende, nenhum jogador de futebol consegue cantá-lo do início ao fim. isso é ruim pra imagem do país no exterior”.

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“Não tinha pensado nisso”, disse o Jair. “o que você sugere?”

O barbudinho não perdeu tempo: “sugiro a letra de azul caneta, é simples, popular e faz uma leve referência - quase subliminar - ao uso da bic que o senhor anda a fazer, num grande gesto de despojamento e humildade, típica de um messias”.

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Depois de falar, ele tirou a mão do saco presidencial e coçou novamente a barba.

À medida que os minutos iam passando, mais sugestões foram surgindo.

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Carluxo, o onipresente, abriu sua colorida cauda em leque e sugeriu que usassem o método tuítico, no qual foi desalfabetizado. “acho que cada página dos livros didáticos tem que ter 140 caracteres no máximo”, disse o pavão, “muita imagem e bastante emojis... tipo uns gibis modernos”.

Todos o aplaudiram, batendo os cascos no chão.

Passaram o microfone para o cabra do meio ambiente que estava a desembaçar os óculos, bafejando o hálito esquentado pelo cafezinho e encerando com a ponta da gravata:

“Nada sei sobre pedagogia, meu negócio é o agronegócio. os pseudoambientalistas e agroterroristas querem implantar o kindle nas escolas como forma de proteger as árvores. somos contra, senhor presidente, não sei para que serve um livro, mas sei que árvores servem para fazer livros... pois que arranquem todas as árvores e encham as bibliotecas, o progresso não pode parar por causa dessas ongs e do greenpeace...”

O presidente emitiu um esgar de boca, como se fosse um macabro sorriso.

Em teleconferência, malafaia, ministro informal para assuntos aleatórios, gritava como um cachorro louco: “os livros didáticos são marxistas e darwinistas, temos que ensinar o criacionismo para as nossas crianças. tem muito livro nas mochilas, aquilo pesa, os meninos andam tudo curvados, um livro apenas é o suficiente... a bíblia, senhoras e senhores, em uma palavra. temos muitas bíblias pra vender, dá pra abastecer todas as escolas...”

Da virgínia, também em videoconferência, o fiofólogo e mestre de todos os bibliófobos, com uma mamadeira de piroca na mão, iniciou um bate-boca com o desbocado evangélico:

“Para acabar com o método Paulo Freire não dá simplesmente pra enfiar a bíblia no rabo das crianças. se o livro é um amontoado de coisa escrita, a bíblia, por definição, é um amontoado de livros, e livros escritos em fonte minúscula...”

Iniciou-se um tremendo bafafá, todos reclamavam do tamanho das letras bíblicas. “minha vó não consegue ler... as crianças podem ter problemas de vistas com aquilo...” etc.

É sempre bom lembrar. a única vez que Jair foi visto com um livro na mão foi durante a campanha eleitoral, de frente para Fátima e Bonner, e ele usava o livro como uma arma para alvejar seu adversário e mentia, ao afirmar que tratava-se de uma cartilha distribuída em escolas para putificar as meninas e taradificar os meninos, enviadando outros durante esse processo.

Falso como uma nota velha de três dólares.

Sobre a pedagogia infantil antifreiriana, vimos o seu Jair aplicá-la em um palanque, onde ele ensinava uma criança a fazer uma arminha com a mão.

Seu Jair disse que os pais iriam aplaudir a nova pedagogia dos bibliófobos, muitos pais o farão.

Sabemos que o rebanho que segue o rastro por onde passa esse garrote é formado por midiotas que detestam o saber, o ensino e os livros.

Para eles, tudo poderia ser trocado por palestras virtuais do virtuoso Olavo de Carvalho ou por youtubers terraplanistas.

Mas a palavra final, afinal, é do homem da caneta azul.

Então, meteram um tuíte no teleprompter para ele fazer o grande anúncio sobre a decisão pedagógica que vai tirar nossas crianças do limbo existencial e torná-las tão competentes em escrita, aritmética e leitura como os infantes escandinavos.

O diabo é que Jair se atrapalhou todo para lê-lo, balbuciava cada sílaba com grande dificuldade. então, desistiu, brigou com o porta-voz e partiu pro improviso, nervoso.

“Eu falei pro meu filho Carlos, nem todo tuíte tem que ter 140 caracteres? pô, nenhum emoji, nenhuma imagem? tem que suavizar isso aê. e já falei com o ministro moro, tem que tirar livro dos presídios, praquê issodaê de livro em presídio?  tem que colocar serrote, parafuso, martelo... botar esses caras pra trabalhar; viram o Lula, passava o dia todo lendo, pô. inventaram até um tal de Lula Livro, livro é coisa de esquerdista. talquei? tá encerrada a reunião”.

Deu um tapa na mesa e se retirou, foi a alguma quitanda comprar uma tapioca com o cartão corporativo, para desestressar.

Antes de sair, todos fizeram uma oração: “deus me livre desses livros que tanto quero me livrar, o livro aberto é um livre arbítrio e eu quero mesmo é arbitrar, se o livro livra, leva luvas mentes livres a evitar.”

Palavra da salvação.  

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