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Eliane Lobato

Jornalista

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Jango, golpe, Bolsonaro

No documento, Muricy explica o golpe: “Chamamos ‘informe’ a noticia e ‘informação’ a certeza. Esses informes interpretados convenientemente deram a convicção de que o golpe estava sendo tramado (por parte de Jango)

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Um esculacho a mais não faz diferença no combalido governo brasileiro. Mas decidir comemorar o golpe de 1964, e ter licença oficial para isso, é consagrar o triunfo da morte. E isso faz diferença. Tive acesso a um documento raro intitulado “Os Motivos da Revolução Democrática Brasileira”, que reúne duas palestras feitas pelo General Antônio Carlos Muricy (1906/2000), então comandante da 7º Região Militar, para o Canal 2, de televisão, nos dias 19 e 25 de maio de 1964. Ele explica como foram compostas as “convicções” que levaram o país ao golpe que arrancou João Goulart (1961-1964) do poder e colocou no lugar uma carreirada de militares que instalaram uma sangrenta ditadura e um espetacular atraso de 21 anos no Brasil. Comemorar isso, ainda que de modo pífio, como foi, é pisar sobre centenas de cadáveres e de desaparecidos no período de torturas em porões.

No documento, Muricy explica o golpe: “Chamamos ‘informe’ a noticia e ‘informação’ a certeza. Esses informes interpretados convenientemente deram a convicção de que o golpe estava sendo tramado (por parte de Jango).” Ele afirma que o então presidente queria “dominar o Brasil” e que, por isso, o pessoal de farda resolveu derrubá-lo antes. 

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Por, repito as palavras dele, “informes interpretados convenientemente” que “deram a convicção”. 

O General dá a versão powerpoint da época. “Fontes das mais diversas corroboraram os informes, entre elas, as que eram controladas pelo General Golbery do Couto e Silva que, embora na reserva, esteve sempre na linha de frente.” 

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Se a força militar se uniu para combater um presidente que supostamente tentava ‘dominar o país’ atravessando a Constituição, em 1964, por que não faz o mesmo agora? Disse Muricy, em sua primeira palestra, que Jango queria “invadir as atribuições do Congresso através de decretos inconstitucionais.” Não é isso que vem acontecendo no Brasil, seguidamente? Por que o Exército não impede o Presidente, como fez há 57 anos?

Leonel Brizola, então deputado federal, era uma das mais corajosas vozes a incomodar os articuladores do movimento. Muricy narra o que poderia ter levado Brizola à morte. “Em um dos seus mais subversivos discursos, chamou-me de “gorila”, de “golpista” e, mais ainda, com a maior solércia, de “fujão”, o que pôs a minha dignidade em choque e me ofendeu profundamente.” Um dos oficiais revoltados com o político declarou ao General que “estavam preparando para ‘pendurar o deputado’” Muricy, apesar do ódio que sentia, achou que não era hora. Havia algo maior a ser feito e iria atingir Brizola em grande estilo, a derrubada de Jango, seu genro e parceiro político.

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Candidamente, Muricy afirma que ninguém queria, nos quarteis, interromper a escala de civis no poder. “O desejo dominante era de que nós pudéssemos chegar às eleições em 1965 com um Brasil ainda governável.” Em seguida, apela aos “senhores telespectadores” para que acreditem nas “palavras sinceras de um soldado”: “Se o sr, João Goulart houvesse permanecido no Centro e ficado contra os comunistas, ele ainda seria Presidente da República.” Mas, como ele era fiel à sua ideologia de esquerda, “sentiu-se que a ideia de demover o Presidente e levá-lo para o bom caminho não podia mais continuar. Era preciso contê-lo. A ideia de orientá-lo estava ultrapassada, era preciso anteciparmos-nos ao golpe.” Este foi o grande “problema” de Jango: ser de esquerda. Felizmente, há muitos indícios, as Forças Armadas não estão mais unidas na ideia de interromper uma democracia por questões partidárias.

Muricy dá detalhes da articulação golpista. “Os chefes militares começaram a se preparar, em dezembro de 1963, para a contrarrevolução” que seria no início do ano. Porém, “quando chegou perto do Carnaval, tivemos informações de que esse golpe tinha sido transferido para fins de abril ou maio.” Quem acabou com o perrengue da data foi o próprio Jango, ao marcar o comício da sexta-feira 13 de março de 1964, naPraça da República, em frente à estação da Central do Brasil. De tocaia, os militares esperavam que Jango se comprometesse publicamente para justificar o golpe de Estado. Como se isso fosse preciso.

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“General, há um grupo que está disposto a acabar com o comício e se prepara para destruir o coreto e arrebentar tudo”, foi a frase que ele ouviu. E retrucou: “Não façam isso, pelo amor de Deus, esse comício tem que ser realizado.” Dia seguinte ao evento que ficou conhecido como o Comício da Central, Muricy comentou que “a conspiração entrou numa fase de franca atividade quase, digamos assim, livre.” E dia 1º de abril de 1964 o Brasil iniciava seu mais sombrio e violento período da história. 

Dizer que derrubar um presidente democraticamente eleito foi um ato libertário a ser comemorado não é pensamento único nos meios militares – e este é o centro da crise atual entre o presidente Jair Bolsonaro e as Forças Armadas. Um dos principais erros de Jango foi, segundo o General Muricy, algo que pode estar acontecendo com o atual governo: “Ele tinha alguns comandos (militares) mas nunca a tropa.” Jango contava com esses comandos para se defender. Bolsonaro pensa que conta com a tropa para atacar.

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