Janot esfregou a lei na cara de Gilmar. Foi de lavar a alma
O que vai dar a investigação de Aécio no Supremo? Não vai dar nada? Não tenho tanta certeza. Como a sociedade não está aceitando impunidade, e como está, até, exagerando na dose, tendo desencadeado uma cultura persecutória e “punitivista” que chega a preocupar, parece que Justiça, Ministério Público e Polícia Federal decidiram jogar merda no ventilador
Passou batido um dos momentos mais edificantes dos últimos tempos para aqueles que anseiam por Justiça. Um magistrado que, na OPINIÃO desta página, desonra o Poder Judiciário ao se posicionar de forma escancaradamente partidária e histriônica, apesar de seu cargo requerer distanciamento e circunspeção, acaba de levar um corretivo público de outra autoridade.
Em resposta de 41 páginas ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, usou um tom que beira a indignação e se assemelha a bofetada desferida em resposta a uma agressão.
Essa briga surda entre o ministro do Supremo e o Procurador Geral da República foi travada sem ser percebida como tal, mas ocorreu.
Por duas vezes seguidas, Gilmar devolveu a Janot pedidos de investigação do senador Aécio Neves feitos por ele. O argumento usado foi um insulto. Simplificando e resumindo, Gilmar perguntou a Janot se este tinha “certeza” de que queria mesmo investigar o tucano. Na prática, o ministro chamou o procurador de irresponsável, despreparado, desinformado.
Ou não seria irresponsabilidade, despreparo e desinformação de um procurador-geral da República ele pedir investigação de um senador dessa República sem ter verificado bem, antes, o que estava fazendo? Ou seja: sem ter motivos razoáveis para pedir a investigação.
Gilmar estava certo de estar baixando um decreto do Olimpo contra os mortais, já que parece acreditar que vale tudo contra uns e a favor de outros. A resposta do PGR pretendeu mostrar ao agressor que não é bem assim, que Gilmar deu um passo maior do que a perna ao achar que pode simplesmente enterrar investigação contra Aécio sem maiores explicações.
A resposta de Janot foi uma traulitada. Abaixo, a “capa” da resposta, que tem 7 tópicos
1 – Processo penal [ainda não instalado]
2 – Inquérito [preparatório da ação penal]
3 – Termos de declaração colhidos no âmbito de acordos de colaboração premiada
4 – Indicação do envolvimento de parlamentar [Aécio] no recebimento de vantagens indevidas mediante estratégia de ocultação de sua origem
5 – Suspensão, a partir de simples petição do investigado, das diligências solicitadas pelo “Dominus Litis”
6 – Impropriedade
7 – Elementos suficientes ao prosseguimento das investigações
Chamam atenção os tópicos 5 e 6. Os anteriores tratam do processo penal que pode vir a ser instalado contra Aécio, do inquérito que deve prosseguir para apurar indícios e provas, das delações que originaram o inquérito, das suspeitas contra Aécio e da necessidade de o Supremo investigar o parlamentar.
Os tópicos 5 e 6, porém, contém críticas a Gilmar. O tópico 5 diz que ele suspendeu o processo a partir de “simples petição do investigado”, ou seja, que Gilmar suspendeu o trâmite legal da investigação ante uma simples petição argumentativa que não tinha prova alguma, ou seja, Aécio pediu, sem acrescentar nada ao que foi apurado, e Gilmar atendeu sem pedir nenhum fato novo, “confiando” no investigado.
O trecho final do documento de 41 páginas escrito por Janot ao ministro do Supremo revela a carraspana que o procurador-geral da República passou em Gilmar.
Não se está, aqui, fazendo nenhum juízo de valor sobre Janot. Nem se é isento, nem se é parcial. Aqui está sendo apontado um fato: Gilmar foi duramente criticado pelo procurador-geral da República pelo ato inusual de perguntar a quem detém o “Dominus Litis”, ou seja, ao autor da ação, ao dono da lide, se sabe o que está fazendo.
Compete ao Ministério Público, na condição de dominus litis, avaliar se as provas obtidas na fase pré-processual são suficientes para a propositura da ação penal, não cabendo, pois, ao magistrado assumir o papel constitucionalmente assegurado ao órgão de acusação e, de ofício, determinar o arquivamento do inquérito policial.
Eis a carraspana que o PGR passou em Gilmar. Isso não apaga ou justifica eventuais decisões erradas que eu e outros como eu acham que o PGR tomou, mas mostra que nem todo mundo está disposto a ser desrespeitado por Gilmar e que este ficou bem quietinho diante da reação daquele, o que também diz muito sobre a situação.
O que vai dar a investigação de Aécio no Supremo? Não vai dar nada? Não tenho tanta certeza. Como a sociedade não está aceitando impunidade, e como está, até, exagerando na dose, tendo desencadeado uma cultura persecutória e “punitivista” que chega a preocupar, parece que Justiça, Ministério Público e Polícia Federal decidiram jogar merda no ventilador.
Nesse contexto, já sobrou até para FHC. E Aécio, esse já foi rifado. Se precisar, se as acusações de partidarismo dos órgãos de controle e investigação, da Justiça, do Legislativo e da imprensa brasileira continuarem ganhando o mundo, como estão, os tucanos serão sacrificados em prol da imagem das instituições, pois está claro que essas autoridades estão preocupadas com ela.
Aécio, como disse Romero Jucá, será “o primeiro a ser comido”, mas, como o delator Sergio Machado disse a Renan, no PSDB e no PMDB não vai sobrar ninguém, a menos que as instituições brasileiras estejam dispostas a virar chacota diante do mundo, tornando o Brasil uma republiqueta na qual nenhum país sério vai confiar.
Particularmente, acho que o Brasil passou desse estágio. Por sua importância, cedo ou tarde a lei vai ter que começar a valer para todos. Se não houver prisões dos corruptos tucanos e peemedebistas, a imagem do país estará destruída. O próprio mercado vai se preocupar com isso. Empresariado vai perder, todos vão perder.
De certa forma, o Brasil talvez saia mais forte disso tudo. O povo já está percebendo que foi enganado, a esquerda radical já está vendo que os governos do PT não foram de direita coisa nenhuma, está vendo agora o que de fato é um governo de direita. Muita gente que apoiou o golpe vai comer o pão que o diabo amassou por conta de suas próprias ações.
Tudo isso se chama aprendizado democrático. O que aconteceu no país nos últimos três anos, com “jornadas de junho”, “não vai ter Copa”, caça às bruxas, desmerecimento da governabilidade, chama-se aprendizado democrático. Este povo vai aprender muito com seus erros. Não é de todo ruim o que está acontecendo no Brasil.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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