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Marcelo Zero

É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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Jeddah não foi a lugar nenhum

Apesar de desejarem a paz, Brasil, Índia, China e outros países não abandonarão suas corretas posições de não apoiar as agressivas ações da Otan na Ucrânia

Representantes de mais de 40 países, incluindo China, Índia e Estados Unidos, posam para foto durante conversas em Jeddah, Arábia Saudita, em 6 de agosto de 2023 (Foto: Agência de Imprensa Saudita/Folheto via REUTERS)

A pior paz é melhor que qualquer guerra. Não há dúvida disso.

Portanto, qualquer esforço pela paz merece apoio. Mas convocar uma “cúpula pela paz” sem a presença de um dos lados do conflito beira o ridículo.

Entretanto, foi o que que aconteceu agora em Jeddah, na Arábia Saudita. Representantes de cerca de 40 países se reuniram com Zelensky para debater, sem a presença da Rússia, o conflito da Ucrânia.

Zelensky quer o que mundo apoie seu “plano de paz” de 10 pontos, que inclui a rendição incondicional da Rússia, a retirada total dos russos, inclusive da Crimeia e do Donbass, regiões de maioria russa, e a criação de um tribunal especial para julgar Moscou por crimes de guerra e para exigir volumosas reparações.

Moscou, estranhamente, não aceita os termos do assim chamado “plano de paz”.

Na realidade, todo o mundo sabe que tal plano, do jeito que está formulado, é totalmente inviável. Todo o mundo sabe também que negociações de paz sem a participação da Rússia não produzirão efeitos concretos.

A bem da verdade, essas “negociações” não passaram de tentativa de pressionar países do chamado “Sul Global”, como o Brasil, a abandonar sua posição de neutralidade e aderir às posições de Kiev e da Otan.

Por isso, no cardápio das conversas foram incluídos temas como a segurança alimentar, assunto que interessa muito a todos os importadores de alimentos e/ou fertilizantes.

Em vão.

Embora as autoridades ucranianas digam que a reunião foi “produtiva”, não se chegou a consenso algum.  

Apesar de desejarem a paz, Brasil, Índia, China e outros países não abandonarão suas corretas posições de não apoiar as agressivas e insensatas ações da Otan na Ucrânia, as quais só tendem a intensificar e ampliar a guerra, com o sacrifício da população ucraniana e das populações mais pobres do mundo.

A Arábia Saudita, anfitriã do encontro, quer reconstruir seus laços com Washington e o Ocidente. Direito dela. Porém, também sabe que a paz requer muito mais que um palco para que Zelensky faça sua propaganda.  

Jeddah, como a “contraofensiva ucraniana”, não foi a lugar algum. E o mundo não se mexeu.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.