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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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João Pedro Mattos Pinto, estudante, 14 anos: inocente!

"Ele não morreu vítima do Coronavírus, que no dia de ontem registrou 227 mortes no Rio. João Pedro foi atingido pelas rajadas dos tiros da Polícia. Esta mesma, que deveria proteger os garotos inocentes, como atestaram as autoridades, e descreveram os pais e parentes", escreve Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia

João Pedro (Foto: Arquivo pessoal)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

Preto não tem casa com piscina. Preto e morador da periferia tem casa sem reboco, sem quintal e sem espaço para brincadeiras. Casa bonita em comunidade carente é esconderijo de traficante. O resultado para os que se atrevem a construir vida digna e patrimônio em lugares cercados de gente simples, preta e pobre é virar alvo de tiros de uma Polícia que tem no manual os dez mandamentos do preconceito, nas mãos uma arma e na coordenação a ordem de atirar para matar.  

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Na foto de Guto Moreto (O Globo), o comerciante Neilton Mattos grita a sua dor sobre o corpo inerte do filho, João Pedro Mattos Pinto, 14 anos, estudante do 9º ano do ensino fundamental. Não. Ele não morreu vítima do Coronavírus, que no dia de ontem registrou 227 mortes no Rio. João Pedro foi atingido pelas rajadas dos tiros da Polícia. Esta mesma, que deveria proteger os garotos inocentes, como atestaram as autoridades, e descreveram os pais e parentes.

Os tiros de fuzil atravessaram a barriga de João Pedro, que não pôde receber socorro. Impedidos de entrar na casa invadida pelos agentes da Coordenadoria de Recursos Esperiais (CORE) - da Polícia Civil e da Polícia Federal -, onde estavam uma tia do menino e os amigos dele, os parentes o viram sair carregado no ombro do primo, um adolescente também. 

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“A vida do meu filho era casa, igreja escola e jogo no celular”, descreveu Neilton, que se confessou morto, tal como o restante da família. Morto, mortificado, alquebrado, e tantos outros adjetivos que cabem aqui e na vida de outros pais que também perderam os filhos para uma sociedade desigual, violenta. A cena se repete. Os rostos mudam, mas a dor é a mesma. 

Antes da invasão policial o canto perto da janela da sala era para a foto, eternizando a paixão do adolescente pelo vídeo game. A piscina, esta peça que pareceu aos homens da Lei, fora de lugar naquela comunidade simples, outro cenário para eternizar numa selfie o conforto e a alegria de ter vida confortável e “protegida”.

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Do ombro do primo, aos solavancos dos seus passos desesperados, João Pedro foi transferido para o helicóptero dos policiais. Saiu das mãos da família para as que o alvejaram. Tentativa desesperada de socorrê-lo. Teria ele algum dia voado em um helicóptero? 

Dali, atravessou a baía de Guanabara rumo ao heliponto da Lagoa Rodrigo de Freitas (informação que só agora se tem). João Pedro voou. Passou próximo ao monumento do Cristo. Teria ele visitado, feliz, com a família, em dia de domingo, o Cristo Redentor? Durante 17 horas ninguém soube dele. Enquanto os pais e familiares buscavam notícias, aflitos, o menino que, é possível, nunca tenha atravessado a baía para ir até a lagoa Rodrigo de Freitas, morreu sobrevoando o Rio de Janeiro. 

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O último percurso foi o retorno para São Gonçalo. Não. Não foi para a sua casa, na Praia da Luz. Seus pais o reencontraram morto, numa gaveta do IML. E ele nem pôde contar que voou de helicóptero, contornou o Cristo, esteve na Lagoa. Como numa cena dos seus jogos de vídeo game.

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