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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Jornal Nacional afrouxa. Faltou contraditório

'No que depender da mídia subserviente, corre-se o risco de repetirmos 2018 e, após quatro anos, não haverá país nenhum', escreve a jornalista Denise Assis

Jair Bolsonaro no Jornal Nacional (Foto: Reprodução)
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Por Denise Assis, para o 247

No início, a dupla de apresentadores do Jornal Nacional parecia ter feito o seu dever de casa. Deram a entender ter observado os pontos fracos do candidato que entrevistariam, a fim de ver como ele se desvencilharia ou argumentaria sobre as questões – e não as “qüestões” -, como irritantemente Bolsonaro insiste. Bastaram duas alterações de voz e uma esticada de pescoço por cima da mesa, para que Renata Vasconcellos se colocasse em posição de defesa e William Bonner de subserviência, a ponto de usar a expressão: “o senhor tem todo o direito de...” Sem continuar por alternativas do tipo: “o senhor tem todo o direito de discordar, mas nós insistimos em dizer, conforme nossas apurações, que o senhor...”

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Não por acaso, dois gatos pingados na vizinhança, no final, foram para as suas janelas aos gritos de “Mito” e “é Bolsonaro”. Não foi criado a ele nenhum embaraço. O candidato (que começou dizendo ter Bonner cometido fake news, sem que lhe fosse exigida uma retratação) falou o que quis e, sim, seguiu mentindo. Por exemplo, quando afirmou ter dado imediatamente o auxílio emergencial na pandemia. Nós e o papagaio da vizinha sabemos que esse auxílio foi adiado, negociado, regateado, até que o Congresso e o STF entrassem para decidir que, sim, era uma emergência, pois quem não morresse de Covi-19, morreria de fome. 

Ao ceder (sim, esse é o verbo!). Bolsonaro teve de ceder e propôs um auxílio de reles R$ 200,00. Foi a oposição que convenceu os deputados a votarem um auxílio de R$ 600,00. Não houve por parte da bancada do JN – nem Bonner nem Renata – quem o redarguisse e relembrasse esta situação. O caso a gente conta como o caso foi. E foi assim que foi. Sem tirar nem por.

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Ele voltou com a sua falácia sobre o “fique em casa”, e ficou por isso mesmo, com Bonner dizendo cordatamente: “vamos mudar de assunto”. Não!!! O assunto é esse. O uso desprezível de uma desculpa esfarrapada de que ele não agiu porque o Supremo transferiu a autoridade e as decisões para os governadores e prefeitos. Mentira. Era dever de Bolsonaro criar e coordenar uma força tarefa que centralizasse no governo federal as iniciativas de combate à pandemia. E ele só não o fez de pirraça, sentindo-se bay passado. Ou todo poder para ele, ou nenhum. Cruzou os braços. Foi o que fez.

Rolou fácil daí por diante a entrevista, para o candidato, que se sentiu à vontade para defender uma equipe mequetrefe e corrupta de ministros, sem que os apresentadores reagissem. Renata ainda tentou, na questão dos tratores empregados no desmatamento, mas vendo que não teria o respaldo do editor, trocou de tema, mais uma vez, permitindo que Bolsonaro elogiasse Ricardo Salles, acusado de contrabando de madeiras nobres e de se beneficiar do afrouxamento na fiscalização das queimadas.

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Frustrante. Foi o que foi a entrevista, dando chance de Bolsonaro mentir sobre a compra de vacinas, mentir sobre a sua equipe, mentir sobre desmatamento, faturar a redução do preço dos combustíveis e, no final, deitar falação favorável às suas medidas, sem nem sequer ser questionado sobre a alteração da Constituição, para burlar a lei eleitoral que proíbe a compra de votos. E é disso que se trata. Bolsonaro ganhou R$ 41 bilhões para comprar a sua reeleição, sem que o respeitável público nem sequer tivesse, hoje, uma chance de vê-lo desmascarado por aqueles que o ajudaram a se eleger em 2018 e, novamente, abriram chance para que a crônica política que lhe é favorável, o poupem amanhã. 

Não que mereça, mas é que faltou o contraditório. Pobre do país que não tem voz. Às ruas em defesa da democracia, porque no que depender da mídia tímida, subserviente e titubeante, corre-se o risco de repetirmos 2018 e não haverá, depois de quatro anos, país nenhum.

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