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Hélio Rocha

Repórter de meio ambiente e direitos sociais, colaborador do 247

119 artigos

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Jornalistas latinos e africanos em solidariedade a Lula

As redações e centros de imprensa que se reúnem para eventos e coberturas em Pequim, sobretudo de países africanos e latino-americanos, sentem até agora o impacto da prisão política sofrida por Lula e pouco compreendem sobre seus motivos

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Quem vive limitada ou limitado aos infinitos quilômetros quadrados de nossa extensão territorial e ao cerceado leque de informações providas a brasileiras e brasileiros pelos poderosos oligopólios da imprensa nacional não tem ideia do quanto é forte a onda de solidariedade internacional ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT, 2003-2010), bem como o frisson que causou sua entrevista, concedida ao jornalista Florestan Fernandes Jr. e à jornalista Mônica Bergamo nesta sexta-feira (26).

Como já afirmado neste espaço, as redações e centros de imprensa que se reúnem para eventos e coberturas em Pequim, sobretudo de países africanos e latino-americanos, sentem até agora o impacto da prisão política sofrida por Lula e pouco compreendem sobre seus motivos, a não ser que parece claro a qualquer profissional que não se trata de um processo justo, visto à disparidade entre as sanções adotadas contra Lula (bloqueio de bens, condução coercitiva, prisão) e contra os outros, que pouco pagaram por terem causado mais dano ao patrimônio e à soberania do Brasil (ou causado efetivamente dano, porque Lula jamais o fez).

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Uma vez explicada a situação que levou ao sequestro do ex-presidente pela própria Polícia Federal de seu país, sob a carapuça de “condenação judicial”, caem-se as máscaras da Justiça brasileira e inicia-se o sentimento de inconformidade. Em um mês em Pequim, o Brasil 247 pôde conversar com jornalistas de 12 países da América Latina (Argentina, Uruguai, Chile, Peru, Equador, Venezuela, Panamá, Costa Rica, El Salvador, Cuba, República Dominicana, México) e outros vários africanos (Guiné Bissau, Moçambique, Argélia, Etiópia, Congo – Brazaville, Nigéria, Egito) além de alguns asiáticos, entre eles o distante e arrasado Afeganistão.

Em comum entre quase todas/os essas/es jornalistas, a sensação de que algo que muito errado se passa no Brasil. Entre africanas e africanos, reina a perplexidade e o pouco entendimento, dada as necessidades mais urgentes impostas pelos inúmeros problemas políticos locais, mas que rapidamente se transforma em uma comparação que faz muito sentido aplicando o caso Lula à história de luta pela soberania na África: de Moçambique, Nigéria e Congo veio a comparação com o líder pan-africanista Patrice Lumumba, que promoveu a luta pela igualdade e união dos povos africanos nos anos 1940, até ser assassinado em 1961, quando era primeiro-ministro constitucionalmente eleito da República Democrática do Congo, e dar lugar à ditadura sanguinária e subserviente às grandes potências implantada pelo coronel Joseph Mobutu, que só terminaria em 1997. O paralelo Lumumba-Mobutu/Lula-Bolsonaro salta aos olhos dos africanos.

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Entre latinas e latinos, o sentimento que se espalha é de um misto de indignação e um perigoso sentimento de desilusão e impotência que já atinge a maior parte da esquerda brasileira e, exceção feita a Cuba, Venezuela e, hoje, México, espalha-se por todo o continente. Da Argentina, a sensação de que o mesmo ocorrerá a Cristina Kirchner, que no muito preservará sua liberdade sem conseguir ser candidata, preferida disparada entre os cidadãos de seu país. Para reeleger Macri, a experiência brasileira das “fake news” pode muito bem ser reutilizada. Do Chile, a sensação de que Piñera é melhor que Bolsonaro (quem não o seria? No muito, o próprio Mobutu, Idi-Amin, o Talibã, Estado Islâmico), mas que o presidente brasileiro se torna o “bode na sala” para que o chileno apresente-se como ponderado aos seus cidadãos, enquanto mantém as mesmas políticas semi-pinochetistas (ou pinochetistas disfarçadas) do ultra-liberalismo chileno. Do Uruguai, o desespero para que a instabilidade do Brasil não faça a extrema-direita bater às portas do último oásis de bem-estar social no cone-sul.

Do México, por sua vez, que talvez é dos grandes países latino-americanos aquele mais subtraído pelas grandes potências na história (territorialmente, inclusive, visto que historicamente foi alijado de mais da metade do seu território original – hoje Califórnia, Nevada, Texas, Arizona e, o mais cruel, Novo México), uma das mais bonitas palavras de conforto que recebi, como jornalista brasileiro. Ao apresentar a entrevista do ex-presidente Lula a seu pedido, ao fim do vídeo de sete minutos uma frase curta, porém emblemática: “parece que ele fala para todos nós”.

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Somos um povo com tantas similitudes que, mesmo que não falemos a mesma língua, nos encontramos nos costumes, nas afetividades e, claro, nas nossas trajetórias políticas marcadas por idas e vindas, infindáveis percalços, pequenas vitórias polvilhadas de suor e sangue da luta latina. Assim, de certa forma, hoje o ex-presidente Lula fala, sim, por toda essa imensa América vilipendiada e com suas veias ainda abertas.

Em tempo…

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Sempre tive dificuldade de entender as subtrações territoriais pelas quais passou o México no século XIX, a princípio cedidas tão facilmente em conflitos esparços com invasores dos Estados Unidos, até então pouco mais que as Treze Colônias originais da Guerra de Independência. O motivo central, segundo relato da mesma jornalista do México, foi a centralização excessiva do Governo e a dificuldade em proteger as fronteiras dada a distância da Cidade do México para seus territórios ao norte.

Lembrei que, até os anos 1960, tínhamos no Brasil o mesmo problema, com uma cultura pouco difundida nacionalmente, poucas iniciativas de integração nacional, comunicação social rarefeita e uma capital, o Rio de Janeiro, que distava 4 mil quilômetros do norte do país. Graças às iniciativas conjuntas de Getúlio Vargas e Juscelino Kubistchek pela modernização do Brasil e integração nacional, com os erros e acertos de cada um (Getúlio foi um ditador, matou pessoas; JK foi perdulário e nos legou o início dos longos anos de hiperinflação), construiu-se um Brasil moderno que pôde, ao contrário dos irmãos do norte, manter sua soberania territorial, principalmente sobre a tão prezada Amazônia.

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E nesse âmbito podem entrar também, além dos dois presidentes, Darcy Ribeiro, Leonel Brizola, Oscar Niemeyer, Orlando e Cláudio Villas-Boas, Luís Carlos Prestes, Olga Benário, João Goulart, Clodesmidt Riani, Jorge Amado, Zélia Gattai e tantas outras mulheres e homens.

É urgente que o país volte a autogovernar-se sob o espírito daqueles e daquelas que fundaram Brasil moderno.

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