Justiça é cega, mas não pode ser caolha
Enquanto houver ministros, desembargadores, juízes, procuradores, promotores, policiais, jornalistas e cidadãos caolhos (com olhos de águia de um dos lados e completamente cegos do outro), sejam culposos ou dolosos, essa ode à moralização do país não passará de cinismo

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Palavras da Ministra Cármen Lúcia, do STF:
"Na história recente da nossa pátria, houve um momento em que a maioria de nós brasileiros acreditou no mote de que uma 'esperança havia vencido o medo'. Depois, nos deparamos com a ação penal 470, e descobrimos que o cinismo havia vencido aquela esperança. Agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo. O crime não vencerá a Justiça. Aviso aos navegantes dessas águas turvas de corrupção: criminosos não passarão a navalha da desfaçatez e da confusão entre imunidade e impunidade.
Não passarão. Não passarão sobre os juízes, e há juízes no Brasil. Não passarão sobre a Constituição do Brasil."
Belas palavras, sem dúvida. Não obstante, insuficientes para fazer dissipar em mim a percepção quanto à urrante e aberrante seletividade dessa volúpia moralizadora - seja entre os "juízes que ainda há no Brasil", entre os membros do Ministério Público ou entre agentes policiais.
Enquanto houver ministros, desembargadores, juízes, procuradores, promotores, policiais, jornalistas e cidadãos caolhos (com olhos de águia de um dos lados e completamente cegos do outro), sejam eles caolhos culposos ou dolosos, essa ode à moralização do país não passará de cinismo, prevaricação ou, na melhor das hipóteses, desinformação dirigida.
"Instaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos", já brincava o inesquecível Stanislaw Ponte Preta. Concordo. Acrescento: "duela a quien duela", como arriscou há décadas, em espanhol, aquele grande anti-heroi brasileiro que não falava espanhol. Mas que essa moralidade seja equânime, e que essa equanimidade seja vigiada de perto por milhões de brasileiros que, ousando se livrar dos grilhões da ignorância programada, recuperem a visão do lado cego.
Isso, ou rasguemos de vez essa diuturnamente espancada Constituição - tão cara à simpática Ministra das belas palavras.
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