Justiça para Thomas Sankara?
A resolução desse caso foi uma vergonha, já que os fatos quanto ao atentado e a autoria do crime são claros
Décadas se passaram desde o golpe de Estado em 1987 ocorrido em Burkina Faso. O assassinato do presidente à época, Thomas Sankara, assim como doze de seus companheiros, permanecia sem que a justiça fosse feita. A resolução desse caso foi uma vergonha, já que os fatos quanto ao atentado e a autoria do crime são claros, algo que inclusive discuto em meu livro “Sankara: o herói esquecido”, publicado no ano de 2021.
Finalmente, em 06 de abril de 2022, fez-se justiça a partir da sentença anunciada pelo Tribunal Militar de Ouagadougou. Por assassinato Hyacinthe Kafando foi condenado à prisão perpétua, por supostamente ter liderado a ação que matou Thomas Sankara, condenados a mesma pena, porém devido a sua cumplicidade, estão Blaise Compaoré e Gilbert Diendére. Os três, deve-se destacar, eram muito próximos de Sankara na época, sobretudo, Compaoré, este considerado seu braço direito e melhor amigo. Além dos citados, outros oito envolvidos tiveram penas que variam de 3 a 30 anos de prisão, e outros três foram absolvidos.
Os anos que se passaram para que a justiça fosse feita quase ultrapassam a idade que Thomas Sankara tinha quando assassinado. Mas de fato, houve justiça? Embora alguns envolvidos tenham sido condenados, dois grandes nomes daquele fatídico dia permanecem livres. Blaise Compaoré vive em exílio desde 2014 na Costa do Marfim, curiosamente recebe abrigo do país ao qual atribui-se apoio no golpe de 1987. Já Hyacinthe Kafando não se sabe o paradeiro desde 2016.
Mas e quanto aos demais envolvidos? Países como Costa do Marfim, França e Estados Unidos da América vão sair impunes? Me pergunto, sobretudo no que se refere as grandes potências, quando admitirão e pagarão por todos os crimes cometidos ao longo dos anos contra os países do terceiro mundo. O golpe contra Thomas Sankara não se tratou de um golpe contra um simples homem, mas foi um golpe contra uma ideia potencialmente perigosa para aqueles que detinham poder e influência na época.
Thomas Sankara foi um líder a frente de seu tempo, que chegou ao poder com forte apoio popular e honrou isso até seus últimos dias. Colocou-se contrário aos poderosos e se posicionou lado a lado com os mais fracos e humildes. Sankara defendeu que Burkina Faso, assim como todo o continente africano, obtivesse sua autonomia política e econômica, através da ideia de um continente unido e da recusa da submissão perante o ocidente que a muito tempo ocorria e ainda escravizava o povo africano.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

