Justificativa de Trump para taxar em 50% o Brasil atenta contra nossa soberania
Ao defender Bolsonaro e impor tarifa de 50%, Trump tenta pressionar instituições brasileiras e interfere na soberania nacional
Desde 1964, quando os Estados Unidos, sabidamente, fomentaram o golpe militar que impôs ao Brasil mais de 20 anos de trevas, em que crimes e abusos foram cometidos por ditadores que se alternaram no comando do país, não se via ação tão escancarada de intromissão de um chefe de Estado daquele país.
A carta de Trump, de 10.06, revela os objetivos no primeiro parágrafo ao dizer: “A forma como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Bolsonaro... ...deve acabar IMEDIATAMENTE!”. Os termos iniciais podem ser considerados uma tentativa de golpe às instituições do Brasil. Isso se dá via imposição de tarifas alfandegárias sem qualquer razão ou justificativa. Representa, ainda, interferência direta nas instituições do Brasil em favor da família que tentou um golpe de Estado.
A iniciativa do governo americano é abusiva e trata-nos como um país sem leis, onde qualquer um poderia alterar decisões dos poderes constituídos. Pior: o presidente americano se coloca como o senhor das leis, com poder para decidir sobre o Judiciário, Legislativo e Executivo de países mundo afora. Os mesmos EUA que fornecem armas para derrubar governos querem agora determinar as decisões a partir de um comando dado pela Casa Branca — ou seja, é uma forma de Trump se colocar como o imperador do mundo.
Olhando a taxação pelo lado econômico, a conclusão é que ela não faz sentido, pois tende a penalizar mais a população americana, que depende da importação dos principais produtos exportados pelo Brasil, para os quais não há substituição fácil. Sete em cada dez litros de suco de laranja consumidos por americanos têm origem aqui (o Brasil produz 70% do suco de laranja consumido no mundo); do mesmo modo, é o café oriundo do Brasil que representa 40% do consumo estadunidense; e a carne bovina, com 500 mil toneladas exportadas por ano para aquele país. A outra parte da pauta de exportação do Brasil afetada inclui produtos manufaturados, como aviões e autopeças, além de ferro e petróleo bruto.
Nós compramos dos Estados Unidos essencialmente produtos manufaturados com grande valor agregado — ou seja, tecnologia, como motores, remédios, partes de aviões e motores não elétricos. Essa pauta faz com que o Brasil seja deficitário na relação econômica entre os dois países há décadas. Nos últimos 16 anos, segundo dados do portal G1, acumulamos um déficit de mais de US$ 90 bilhões (noventa bilhões de dólares, ou R$ 450 bilhões), o que mostra a ausência de justificativa para o tarifaço imposto. Mais ainda: revela que a verdadeira razão para querer nos prejudicar está contida no primeiro parágrafo da carta do presidente americano — a intenção de interferir nas nossas instituições em favor de um condenado pela Justiça.
O governo brasileiro tem razão em resistir, buscar aliados para se contrapor ou ainda aplicar medidas de reciprocidade — ou seja, taxar produtos norte-americanos também, ou substituir produtos que importamos dos EUA. Do ponto de vista das exportações, um caminho pode ser encontrar novos parceiros comerciais, pois a guerra tarifária iniciada por Trump contra o mundo deve perdurar, e não sabemos como serão os ajustes para restabelecer a normalidade nas relações comerciais.
Em relação ao Brasil, não é preciso ser profundo conhecedor para saber que não temos a mesma força que outras nações. Mas uma coisa é preciso ter em mente: nenhuma nação pode se agachar diante de decisões de entes externos, nem aceitar a louvação de oportunistas internos que enaltecem medidas que prejudicam o Brasil.
A hora é de união para denunciar com toda força medidas que possam nos prejudicar, gerar desemprego e prejuízos econômicos para as pessoas, nossas empresas e o país.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

