Lá vem a Argentina descendo a ladeira

Aconteceu o que muitos não estavam dando bola, achando que jamais poderia acontecer: Javier Milei é o novo presidente da Argentina. Como alguém que pega conselhos com seu cachorro morto através de seu espírito, cuja profissão é professor de sexo tântrico, consegue ser presidente da República Argentina? Parte dos analistas esquece que tivemos a eleição de Bolsonaro. Estamos entrando em uma era em que dentro das crises, fascistas deitam e rolam se dizendo salvador da pátria. E não se aprende. Por isso a vigilância precisa ser constante e aprender a dialogar com o público, assim como eles fazem.

A bizarrice de falar com o cachorro morto é a cereja do bolo. Juan Luis Gonzalez escreveu uma biografia não autorizada de Milei chamada EL LOCO, la vida desconocida de Javier Milei y su irrupción em la politica Argentina. Uma radiografia da nova direita argentina. Os segredos de Milei como a morte de seu cachorro Conan, os clones que fez do cachorro, suas conversas com o animal morto através de uma médium e suas conversas com Deus, que diz que o colocou em uma missão. A última passagem lembra alguém em terras Brasileiras. Fora o envolvimento escuso, como condenações por corrupção, recebeu ajuda monetária do peronismo que fala em combater e ameaçou inimigos, o que deverá levar a população Argentina a uma nova crise.

A pergunta que não quer calar: As medidas que prometeu que fizeram ele se eleger serão cumpridas? Acabar com o Banco Central, acabar com vários ministérios, dolarizar a economia e cortar relações com quem ele aponta como comunistas. Dificilmente a maior parte será cumprida, por que ao contrário do Brasil, a Argentina elegeu um extremista de direita, que não entende de governança nem de relações interpessoais, com um congresso progressista. 

Dolarizar a economia é impossível, pois não existem dólares suficientes para isso. Acabar com dez ministérios não será possível, porque não existe um centrão para apoiar em peso suas medidas. Muitos desses ministérios são importantes do ponto de vista até da direita moderada argentina. Acabar com o Banco Central, apenas se dinamitar o prédio. A menos que fosse regulado pelo Banco Central dos Estados Unidos. 

Acabar com as relações com Brasil e China é possível, mas é um tiro no pé, porque são seus principais parceiros comerciais e a despeito da sua intenção de sair do Mercosul, fará o país se isolar cada vez mais das condições internacionais.

O que falar de alguém que se apresenta como anarcocapitalista? Uma expressão contraditória, mas que é a princípio definida como anarquismo de livre mercado ou anarquismo de propriedade privada, que seria a soberania do indivíduo através do livre mercado. Esse sistema seria soberano aos tribunais. Na década de 1940, quando Murray Rothbard cunhou o termo, sintetizou os elementos da escola Austríaca, liberalismo e anarquia. Lembrando que os economistas mais sérios rejeitam a economia austríaca, pois são avessos ao uso da matemática e da estatística na economia. A verdade é que ou você é anarquista ou é capitalista. Os dois não combinam. A liberdade que ele tanto fala é tão somente novamente uma tática para não precisar ser taxado como extrema-direita.

O problema econômico da Argentina se apresenta há décadas. Estive no país no começo dos anos 2000 e o país já estava mergulhado em uma crise sem precedentes, com artistas se apresentando em parques públicos, tendo que passar o chapéu literalmente. A crise se apresenta com um cansaço da população, querendo soluções milagrosas para sair do buraco. O seu slogan: A Argentina vai voltar a ser grande! Isso não lembra um outro slogan americano?

Alterar todo o sistema como prometeu não será possível, mas pode criar um colapso ainda pior tentando romper as estruturas. Mas falar que é o antissistema é uma tática da extrema direita no mundo inteiro, apenas para abarcar os jovens e aqueles muito desiludidos com a crise instalada. E a armadilha está aí. Acaba votando na extrema direita que tem características de flertar com o autoritarismo, retirada de direitos, romper contratos sociais, 

Mas a Democracia funciona desta forma, porém da festa de posse pode passar para panelaços muito rapidamente. Dou um dólar que possivelmente fugirá da casa Rosada de helicóptero, tal qual Mauricio Macri, que, aliás, apoiou Milei. Choro por ti Argentina.