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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Laurene Santos, com dignidade e altivez, nos representa

Jornalista Denise Assis homenageia a jornalista da TV Vanguarda, vítima de agressão de Jair Bolsonaro em Guaratinguetá. "Com toda a dignidade que a profissão exige, Laurene Santos prosseguiu em seu trabalho. Não se alterou, como manda os bons manuais de redação, não se curvou. Não transgrediu", afirma

(Foto: Divulgação | Isac Nóbrega/PR)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

Bolsonaro chegou à cidade de Guaratinguetá, sem máscara. Ao descer do carro oficial foi recebido pelos gritos de “genocida” e “fora Bolsonaro”, que têm marcado as suas passagens pelos vários estados por onde anda, em ostensiva campanha antecipada. Há três dias, no município de Marabá, no Pará, exibiu camiseta com dizeres: “É melhor Jair se acostumando. Bolsonaro 2022”. Se isto não é campanha para a reeleição, me digam, por favor, o que seria.

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Acostumado a ter organizadas “claques” , para saudá-lo ao som do bordão “mito”, em suas chegadas, desta vez os disparos das hostilidades fizeram seu sangue ferver. Pior. O levaram de volta às manifestações de sábado, quando 800 mil pessoas em todo o país, gritaram durante todo o dia, pelas ruas: “genocida” e “fora Bolsonaro”. E, desta vez, além dos veículos de mídia terem destacado o sucesso dos protestos, gastaram intermináveis minutos – do seu ponto de vista, é bom que se diga –, registrando as cenas. E, ápice, a Rede Globo de Televisão, em seu jornal mais visto, o Jornal Nacional, fez um editorial apimentado, sinalizando que dali por diante abraçaria, não só a causa dos 500 mil mortos, marca atingida no final de semana, como já vinha fazendo, como apoiaria todos (eu disse todos) que estivessem contra o negacionismo. Faltou falar: “de Bolsonaro”, mas o pingo já estava no “I”, para geral. O editorial, contundente, não deixou dúvidas. E os entendedores atentos entenderam, que o – ainda – principal canal de TV, do país, declarou-se ao lado de uma candidatura que reúna o apoio necessário para desalojá-lo da “casa de vidro”. Claro está, pelos dados de pesquisas exibidos nas últimas avaliações, que o ex-presidente Lula não tem se mostrado palatável apenas para Rodrigo Maia, Fernando Henrique, Armínio Fraga e outros “tucanos” menos cotados.

Pela manhã, antes do embarque, Bolsonaro já havia dito à turma do “chiqueirinho”, no Alvorada, que iria “acabar” com as manifestações da “petralhada”. Mais um dos seus arroubos. Quem pode calar a voz das ruas, quando essas despertam por causas justas? Só sufocada por tanques e baionetas, artifício que soa tão antigo quanto improvável.

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Dalí até o desembarque em Guaratinguetá, no interior de São Paulo, Bolsonaro teve tempo de ruminar com a sua gravata azul calcinha, o quanto havia encolhido, desde sábado. A bordo do “aerolula” - como ficou conhecido o avião oficial da presidência -, deve ter feito um balanço de todas as encrencas em que anda metido. Desmascarado a cada dia, na CPI do Senado, onde desfilam o seu desprezo pela vida dos brasileiros, e também as suas manobras em favor de compras assombrosas da ineficaz cloroquina, (o que já desperta suspeitas de corrupção escancarada); o ministro Roberto Barroso deu prazo de 15 dias para que ela apresente provas de suas declarações sobre uma vitória no primeiro turno das eleições em 2018, “fraudada” pela urna eletrônica. Ou prova, ou se cala e vai responder por isto. A ministra Cármen Lúcia, quer saber em cinco dias, por que o general Braga Neto e o Alto Comando do Exército, baixaram segredo durante 100 anos, sobre um processo que durante todo o mês de maio “gritou” na mídia, contra uma atitude pública e exibida, do general da ativa, Eduardo Pazuello, encarapitado em cima de um caminhão de campanha antecipada pró-reeleição dele, Bolsonaro.

Teve tempo de pensar, que desde a sua saída do PSL, tem batido de porta em porta e não encontra um partido nanico para comprar (é isto o que ele quer, ser dono), e deslanchar a sua candidatura. E, ainda por cima, ao chegar, em vez dos habituais gritos de “mito” - abreviação de “Palmito”, seu apelido de adolescência, por ser branco, fino e comprido -, teve que encarar, pela proa, o “genocida” que já colou em sua testa.

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Não sei dizer, não conheço o espaço, quanto Bolsonaro precisou caminhar até ser parado pelo batalhão de repórteres e cinegrafistas, fortuitamente em um corredor - que, ao contrário do nome, não o permitiu correr do quebra-queixo (entrevista cercado de microfones, na linguagem dos jornalistas). Certo é que, com a cabeça fervilhando das questões pendentes em Brasília, e sob o eco dos gritos dos opositores, lá fora, Bolsonaro se viu diante de uma repórter altiva, destemida, autoconfiante e com clara consciência do seu papel.

“Por que o senhor não usava máscara em sua chegada ao estado, mesmo tendo sido multado em São Paulo, por não usar a proteção?”, quis saber, com propriedade, Laurene Santos, jornalista da TV Vanguarda, afiliada da Globo, canal a quem não teve interesse de responder, depois dos protestos – e posição – do seu editorial.

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Em segundos, um curto-circuito interno entre a adrenalina, a pressão arterial e os sentimentos violentos que cultiva, resultou na seguinte resposta: “eu chego como eu quiser, onde eu quiser. Eu cuido da minha vida”. E num gesto ainda mais arrogante e raivoso, arrancou a máscara da face, passando a despejar sobre a repórter, litros de perdigotos, enquanto aumentava cada vez mais o tom, num discurso em que incluiu o “cala a boca”, de triste lembrança, usado pelo general Newton Cruz, nos idos da ditadura, contra repórteres que ousavam lhe dirigir perguntas.

Com toda a dignidade que a profissão exige, com a elegância que deve ter aprendido em casa, e com a consciência de que estava ali representando a todos nós, fartos das atitudes intransigentes, negacionistas, criminosas e autoritárias de Bolsonaro, Laurene Santos prosseguiu em seu trabalho. Não se alterou, como manda os bons manuais de redação, não se curvou. Não transgrediu. E, por fim, depois de receber o aplauso de quantos apreciam e reconhecem um profissional competente, de atitude e coragem, postou em seu Instagram, um recado que deveria ser enquadrado e pendurados nas redações, país a fora:

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“Não será com gritos nem intolerância que o presidente impedirá ou inibirá o trabalho da imprensa no Brasil. Esta, ao contrário dele, seguirá cumprindo o seu papel com serenidade.”

Estou aqui, Laurene, de pé, aplaudindo e enxugando as lágrimas de emoção. Você nos representa.

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