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Luís Costa Pinto

Luis Costa Pinto, jornalista, editor especial do Brasil 247 e vice-presidente da ABMD, Associação Brasileira de Mídia Digital

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Lava Jato: é hora de a História acertar contas com a mídia tradicional, que rejeita mea-culpa

Houve um conluio criminoso entre o juiz suspeito, os procuradores que usaram o Estado e veículos que cometeram atentados contra a democracia, diz Costa Pinto

Moro ladeado por João Roberto Marinho e Ascânio Seleme (Foto: Reprodução/Globo)
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“A não ser que nos salvemos, dando-nos as mãos agora, eles nos submeterão à República. Para que as coisas permaneçam iguais, é preciso que tudo mude.”

Tancredi Corbera, Príncipe de Falconeri, em O Leopardo

Memorável, o mais célebre trecho da obra permanente do escritor italiano (siciliano, da vero) Giuseppe Tomasi di Lampedusa encerra sem sobras o exercício que a mídia tradicional brasileira sempre fez para se dissociar da adesão estrutural que deu, historicamente, a todos os golpes destinados a solapar, suspender ou retardar o avanço da consolidação da Democracia no Brasil e a necessária construção de alternativas sólidas e sustentáveis destinadas a reduzir as injustiças sociais e a despudorada e enviesada má distribuição de renda do País. 

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Desde o último sábado, 30 de setembro, quando o site Consultor Jurídico expôs diálogos travados entre procuradores da famigerada e finada “República de Curitiba”, tramando a forma como exporiam na Rede Globo, na GloboNews, no jornal Folha de S. Paulo e no portal UOL, usando a conexão e a linha direta com astros e estrelas do jornalismo desses veículos lançando mão de falsas tessituras de meias-informações que compunham um colcha de retalhos de denúncias destinadas a expor criminalmente o agora (e novamente) presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o tema ganhou tração mais uma vez. 

Tendo sido sócia risonha e franca do processo devastador desencadeado pela “Operação Lava Jato”, que destruiu setores inteiros da economia brasileira - como a indústria de construção pesada, de infraestrutura, naval - e urdiu o golpe parlamentar-jurídico-classista que se consumou com a deposição de Dilma Rousseff em 2016 com um impeachment sem crime de responsabilidade e nos lançou na aventura de extrema-direita e fascistóide de Jair Bolsonaro, a mídia tradicional brasileira se vê face a face com o fantasma que não conseguiu exorcizar. Falo das Organizações Globo e seus canais como GNews, CBN e G1; da Folha de S Paulo e UOL; de O Estado de S Paulo e seu portal; da Band, da Record, do SBT e de veículos menores ainda resilientes à redução paulatina de lucratividade como RBS, Jornal do Commercio (Recife), O Povo (Fortaleza), Correio (Salvador), Correio Braziliense e Metrópoles (Brasília), entre outros.

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A Lava Jato, como sabemos, foi urdida fora do País e teve o Ministério Público Federal brasileiro como sua correia de transmissão. O então juiz (hoje ex-juiz e senador sub-júdice e pré-cassado) Sérgio Moro funcionou como ventríloquo da linha de comando posta no exterior. Usar a imprensa local e os arrivistas nela encastelados como colunistas das direções dos veículos que se criam “formadores de opinião” de toda a sociedade era tática seminal dos lava-jatistas. Antes de a primeira das operações ir às ruas um ambicioso treinamento de ações de mídia, de determinação de porta-vozes e de conquista de associados nas principais redações do Brasil tinha sido desencadeado. 

No já longínquo 2014, o consórcio formado por Moro e pelo seu lugar-tenente no MPF, Deltan Dallagnol, então procurador da República que havia usurpado o posto de um colega que se recusou a vergar a espinha da Procuradoria às determinações táticas e estratégicas ditadas pelo capataz a partir da 13ª Vara Federal de Curitiba, treinaram o então juiz, os procuradores plantados no Paraná, o então PGR Rodrigo Janot e assessores dele e até delgados da Polícia Federal para saberem como lidar com a imprensa. Foram várias sessões de treinamento de mídia. Porta-vozes foram selecionados dentre o grupo de “operadores do Direito”. Uma central de vazamento, que hierarquizava os “furos” baseados nas partes dos inquérito que interessavam ser expostos oferecia denúncias como “pratos feitos” aos jornalistas adestrados e alimentados pelo lava-jatismo: a mídia tradicional brasileira, todos os veículos de comunicação elencados neste texto e mais alguns “blogueiros” que atuam na internet como franco atiradores e são remunerados por tarefa.

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Tudo deu muito certo para esses bandoleiros do Judiciário e da Imprensa entre 2014 e 2019. No curso desses cinco anos foi possível, para eles, abalar o fim da primeira gestão de Dilma Rousseff a ponto de dificultar-lhe a reeleição contra um Zé Ninguém da Política, o neto de Tancredo Neves, um tal de Aécio convertido em tábua de salvação do “mercado financeiro”. Ainda assim, Dilma venceu. No dia da reeleição, a torcida descarada de próceres da mídia tradicional por uma virada nas urnas produziu uma antologia de memes no ecossistema das redes sociais. Com o conluio da imprensa tradicional, Aécio Neves recusou-se a aceitar a derrota, aliou-se ao então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e se começou a construir a narrativa das famigeradas pedaladas fiscais que levaram ao impeachment sem crime de responsabilidade. Ou seja, ao golpe da deposição de Dilma Rousseff - e tudo isso contou com o consórcio midiático a favor deles.

Na esteira do golpe, guindado à cadeira presidencial que ocupou ilegitimamente, Michel Temer viveu uma lua de mel com essa mídia golpista e a alimentou com propaganda maquiada de notícia, com muita verba pública e, sobretudo, com a criminalização de veículos da mídia digital independente. Temer, por meio de seus jagunços colocados na Secretaria de Comunicação e na Secretaria de Imprensa, organizou uma “bula” do que tinha de ser dito pelo veículos financiados com verbas públicas e quais os portais, os sites, os blogs ou os jornalistas que não podiam receber recursos federais. Além disso, empresários que buscavam acesso e ajuda do Palácio do Planalto eram levados a cortar a publicidade dos canais “off-golpe”. Ou seja, de quem se conservava na defesa do Estado de Direito e insistia em denunciar o conluio golpista e antidemocrático.

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Quando a Lava Jato demonstrou fraquejar e percebeu que o Supremo Tribunal Federal, por meio do então relator das ações lavajatistas, Teori Zavascki, dava sinais de que iria cortar as asas de Sérgio Moro na 13ª Vara Federal em Curitiba e se acumulavam atritos dele com o procurador-geral de ocasião, Rodrigo Janot, urdiu-se a operação aventureira de gravar o interino golpista que ocupava a Presidência da República e usar a gravação para derrubá-lo ou para subjugá-lo. O Globo foi o veículo escolhido para o vazamento administrado e o subjugo de Temer, em 2017, foi a meta atingida. O próprio veículo global que detonou as denúncias contra o ocupante da presidência refluiu nas denúncias e tudo se acomodou porque o Comando do Exército entrou na parada com a dupla de generais golpistas Sérgio Etchegoyen (GSI de Temer) e Eduardo Villas-Boas (comandante da Força) e Moro seguiu tutelando o esquema de vazamentos oportunos para a sequência do golpe continuado - inclusive a produção de sentença falsa sob medida para impedir que Lula disputasse a presidência em 2018. Tudo, tudo, tudinho mesmo, com o conluio da mídia tradicional brasileira, que jamais fez o necessário mea-culpa dessas suas páginas vergonhosas de associação com os criminosos que vilipendiaram a Democracia e destruíram o País nos seis anos compreendidos entre 2016 e 2022. 

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