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Lech Wałęsa, um paradoxo ambulante ou um Lula que não deu certo?

Talvez tenhamos dificuldade em perceber como é que um eletricista de 37 anos, com óbvias dificuldades de expressão, foi capaz de liderar uma greve num estaleiro naval e comandar o Solidariedade, movimento político que chegou a dez milhões de membros

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Nos início dos anos 80, o mundo começou a falar dele. Virou quase uma lenda, que voltou recentemente a ser assunto por causa de um filme do diretor polonês Andrzej Wajda, em comemoração aos seus 70 anos.

"Daqui a 100 anos haverá um monumento à memória de Lech Wałęsa em todas as cidades deste país", declarou uma vez o antigo presidente polaco e ex-líder do Solidariedade num célebre discurso.

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A sua megalomania vem à tona durante quase toda exibição do filme, diz o jornalista polonês Włodzimierz Knap, no Polska The Times, que acrescenta: É preciso salientar que, desde o dia em que se tornou numa personagem pública, nunca faltaram bajuladores à volta de Lech Wałęsa.

O mundo parece ter se esquecido dele. Mas Walesa continua a ser extremamente controverso na sua Polônia natal. Os seus opositores, como o historiador e jornalista Adam Michnik e Jarosław Kaczyński, líder do partido da oposição Lei e Justiça, e o resto da direita polaca dirigem-lhe palavras muito duras.

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Na sua passagem pelo poder foi qualificado de personagem diabólica, mas também acusado de encarnar a mediocridade. Na verdade, falar mal de Wałęsa é menosprezar os dirigentes de esquerda ou de direita seus contemporâneos. Durante anos, Walesa não se preocupou com eles, apenas os utilizava quando precisava deles e depois os descartava.

Era Wałęsa quem tomava as grandes decisões, desde a greve de agosto de 1980 no estaleiro naval de Gdańsk ao braço de ferro contra os comunistas no final da década de 1980, cujo último desenlace foi a queda do regime.

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A altivez de Lech Wałęsa inspira sentimentos contraditórios. É um comunicador por excelência. O que não quer dizer que muitas pessoas aprovem quando dizia que derrubara o comunismo sozinho, ou quase, e de ter sido o principal fator na libertação da Europa de Leste do jugo soviético.

Não seria melhor deixá-lo com as suas versões sempre auto-elogiosas?, indaga Włodzimierz Knap. Talvez acabemos por admitir que não existia oposição organizada no seio do bloco soviético. Na Polônia, no final dos anos 80, os anticomunistas ativos não seriam mais de uma pessoa em cada dez mil. Se o comunismo desapareceu da Europa, é porque tinha chegado a sua hora.

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O jornalista Knap lembra da capacidade Waleska de fascinar multidões. O compara ao fascínio exercido hoje por Lionel Messi no futebol.

Talvez tenhamos dificuldade em perceber como é que um eletricista de 37 anos, com óbvias dificuldades de expressão, foi capaz de liderar uma greve num estaleiro naval e comandar o Solidariedade, sindicato/movimento político que, no seu apogeu, chegou a dez milhões de membros.

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A 30 de novembro de 1988, às 8 da manhã, a Polônia parou. Uma sondagem efetuada posteriormente apurou que, em Varsóvia, oito em cada dez pessoas seguiram o debate televisivo entre Wałęsa e o seu rival, Alfred Miodowicz, líder dos sindicatos favoráveis ao regime comunista.

Extrapolado à escala nacional deveria corresponder a uma audiência de 20 milhões de pessoas. O debate marcou uma virada.

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O Solidariedade fez nascer a esperança nos corações e nos espíritos de muitos dos seus compatriotas. As pessoas sentiam-se próximas de Walesa. Desde o primeiro minuto, quando olhou o público e disse: "Boa noite. Estou muito contente de estar convosco. E agradeço aos que nunca perderam a esperança ao longo destes últimos sete anos".

Estava se referindo ao dia 13 de dezembro de 1981, data da introdução da Lei Marcial que tornou o Solidariedade ilegal e colocou na prisão Lech Wałęsa e milhares de outras pessoas.

Quando se leem recortes de imprensa do período entre o debate televisivo e a formação do primeiro governo não comunista liderado por Tadeusz Mazowiecki, fica claro que Wałęsa era uma espécie de ditador no seio do Solidariedade.

Na época, brincava-se com isso. Dizia-se que se "Lechu" fosse fotografado com um poste durante a campanha das eleições de 4 de junho de 1989 (como fez com cada um dos candidatos do Solidariedade), o poste teria muita chance de ser eleito para o Parlamento.

Em 1990 finalmente disputou a presidência. E ganhou, claro.

Durante a campanha roçou o populismo, prometendo a cada polonês um crédito não reembolsável equivalente a 2500 euros hoje e triplicando este montante na campanha para a sua reeleição em 1995, quando perdeu.

Wałęsa parece ser a única pessoa a fazer um balanço positivo da sua presidência. Mas não se pode negar que teve um papel importante nas negociações para a retirada das tropas soviéticas do território polaco em 1993.

Também conseguiu que Boris Ieltsin bebesse tanto vodka que assinou um protocolo reconhecendo que a Rússia não se opunha à integração da Polônia na NATO.

Lech Wałęsa é um paradoxo ambulante, escreve Knap. Por um lado dá a impressão de ser amargo, violento, egoísta. Por outro, revelou-se extremamente sagaz e combativo na conquista dos seus objetivos.

Correu grandes riscos. Orgulhava-se da sua intuição, até porque ela lhe foi útil em várias ocasiões. Até ao dia em que perdeu a presidência.

Aos 52 anos, na flor da idade, retirou-se da vida política, após 15 anos na ribalta, dez dos quais na linha de frente. Tinha o dom de atrair multidões. Ainda hoje Wałęsa tem defensores e apologistas, mas a sua última aparição no papel de líder carismático remonta a duas décadas.

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