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Bernardo Gomes

Estudante de Gestão Pública UFMG, assessor parlamentar, dirigente municipal do PCdoB em Contagem/MG

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Liberais estão reféns ou são cúmplices do fascismo?

Frente ampla não pode ser um debate genérico, nem mesmo sexo dos anjos, algo inalcançável como a utopia de Galeano que faz caminhar

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O debate sobre uma frente ampla que possa isolar Bolsonaro e conter a sua escalada autoritária sobre as instituições da República esbarra ainda nos motivos que resultaram na própria eleição do líder da extrema direita. Os liberais não conseguem soltar a mão do fascismo enquanto Guedes puder entregar a agenda neoliberal compactuada pela coalizão política que derrubou Dilma Rousseff.

Frente ampla não pode ser um debate genérico, nem mesmo sexo dos anjos, algo inalcançável como a utopia de Galeano que faz caminhar. Infelizmente não podemos realizar certos caprichos quando a tirania bate todo dia a nossa porta prometendo sufocar as liberdades democráticas e destruir a Constituição. Frente ampla se faz na prática e é fruto da necessidade histórica de cada tempo.

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Pois bem, diálogos estão sendo construídos desde a eleição de Jair Bolsonaro e suas primeiras manifestações do desejo de subverter a democracia, sendo que nas últimas semanas a questão da formação de uma frente democrática foi amplamente debatida por diversos atores políticos de diferentes ideologias. Para além da política institucional, a sociedade procurou sair às ruas em resposta aos ataques do governo as instituições democráticas. Em diversas cidades surgiram manifestações antifascistas e pró-democracia.

Quem vai dirigir a frente ampla? Qual será o programa? Quem tem capacidade de liderar? Em primeiro lugar resta saber quem realmente deseja uma frente ampla e qual o seu objetivo. A bandeira que unifica é o impeachment de Bolsonaro? Parece que não. O PSDB o MDB e o próprio presidente da Câmara dos Deputados do DEM, já pronunciaram que não desejam causar mais “instabilidade para o país”, não pensaram assim em 2015/16, naquela época valia a pena inviabilizar o governo Dilma com a paralisia decisória jogando o país em uma recessão econômica.

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Na verdade, a direita que se entende por democrática, ou que se reafirmou democrática na ocasião do governo Bolsonaro, diz que não gosta do atual Presidente mas ama sua agenda econômica. Foi paixão à primeira vista, Bolsonaro é o instrumento da elite neocolonial para aplicar sua agenda sem sujar as mãos e nem ter que debater o seu projeto de país nas urnas. Só que essa direita que hoje legitima o fascismo, na primeira discordância não será poupada.

Com essa insistência na agenda neoliberal o Brasil tem uma das piores respostas a pandemia do novo coronavirus no mundo. O sonho da agenda Guedes parece acabar diante dos grandes desafios que ele não sabe enfrentar. O ultraliberalismo dogmático do Ministro da Economia só sabe vender, vender e vender o país. Para isso, primeiro, precisa destruir tudo que foi feito ao longo da Nova República em políticas sociais, em soberania nacional e desenvolvimento econômico.

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Esse movimento de destruição entra em choque com a realidade material dos brasileiros e brasileiras que não viram suas rendas e sua qualidade de vida melhorarem nos últimos anos com esse receituário, pelo contrário, cada vez mais milhões de trabalhadores ficam desempregados, milhões e milhões de trabalhadores informais surgem sem os seus direitos plenos, a miséria e a fome desfilam pelas ruas, a indústria nacional definha, a economia interna se torna cada vez mais dependente de importações, enquanto o Estado transfere seus recursos do orçamento público para os grandes conglomerados financeiros internacionais.

Portanto antes de pensarmos na frente ampla, devemos pensar qual é a razão da violência política que nos assombra, o fascismo tem objetivo e tem método, não está isolado em uma redoma.

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O capitalismo não está conseguindo dar as respostas que o tempo histórico exige pela complexidade da sociedade, pelas alterações climáticas e pelo abismo da desigualdade entre os povos. Então o que o capital faz é rapinar tudo que pode, sugar ao máximo os recursos colocando um cão de guarda para proteger seus interesses, porque sabe que uma hora esse sistema de produção vai quebrar. Se quisermos pensar um desenvolvimento da humanidade, da sobrevivência em sua relação com a natureza, deveremos pensar em modos de cooperação global, de algum tipo de socialismo entre os povos para a continuidade da existência humana.

A classe que pode fazer essa cooperação é a classe trabalhadora através do seu internacionalismo e pelo seu caráter político colaborativo. Aqui na América Latina, como os países são marcados pelo colonialismo e pelo imperialismo, o proletariado é explorado por uma elite que nem mesmo reside em seu país. Desta forma o desejo é maior em se livrar do explorador estrangeiro.

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Por isso o nacionalismo no sentido da soberania nacional é importante aliado das classes trabalhadoras da América Latina, as revoluções por aqui tiveram caráter de libertação nacional. Esse fascismo que está aí agora é para defender o capital, porque os EUA perderam muita influência na região devido a Primavera Rosa e os governos progressistas que tivemos. Esses governos incomodaram mais pelo fortalecimento de suas soberanias nacionais e pela cooperação entre os países da América do Sul e Caribe, a fim de formar blocos econômicos para depender menos dos países desenvolvidos, do que qualquer ameaça de comunismo.

O que o capital não quer é uma revolução burguesa mesmo de caráter nacional desenvolvimentista nos países que são seus parques de diversões, muito menos que esses países cooperem entre si e negociem com blocos econômicos que não estão alinhados aos interesses do capital, inimaginável então esses países possuírem soberania energética, industrial, tecnológica e autonomia financeira. Por isso o ódio ao Mercosul, por isso o BRICS é quase uma ofensa ao capital, por isso a China é uma ameaça tão grande, porque está mostrando que tem caixa para fazer negócios com muitos países subdesenvolvidos, em condições muito melhores do que as impostas pelos países centrais do capitalismo, influenciando através de seu modelo de produção e da sua economia planificada controlada pelo Estado.

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As frentes amplas que derrubaram ditaduras financiadas pelo capital em toda América Latina tiveram um entendimento entre desenvolvimento nacional soberano e liberdades democráticas, buscando uma independência político-econômica em relação a exploração dos países centrais do capitalismo. Enquanto não houver um entendimento entre esquerda, centro e direita que possibilite um rompimento com o neoliberalismo imperialista que escraviza o nosso país, não nos livraremos do fascismo, pois no limite, o fascismo é a expressão da violência imperialista.

Desta forma resta saber se a burguesia nacional está disposta a abrir mão do seu neoliberalismo em troca de um projeto nacional de desenvolvimento. Não é uma questão dogmática, é a resposta que o nosso tempo histórico exige. Não há solução nesse momento no mercado nem na economia capitalista. A pandemia virou a chave do jogo junto com a conjuntura econômica mundial. O capitalismo mal se sustenta de pé desde 2008. Os países caminham, cada vez mais, para um maior papel do Estado na economia e na proteção social, até mesmo aqueles tidos como ortodoxos. O princípio do capitalismo é a acumulação primitiva do capital, nesse momento o mundo pede cooperação e solidariedade. A violência política do fascismo é também a violência do capital sobre o trabalho, é a violência do individualismo sobre a coletividade.

Diante deste entendimento qual a importância de uma frente ampla na conjuntura nacional? Se o objetivo é derrubar o fascismo, se existe o entendimento que Bolsonaro é uma ameaça real à democracia, é preciso soltar a mão, mesmo que de forma momentânea, da agenda econômica que o sustenta. Não há acordo possível sem isso, não estou pedindo para implementar o comunismo no Brasil, estou pedindo para retomarmos a Constituição Federal de 1988, que ficou incompatível com o neoliberalismo. O pacto político-social da redemocratização foi entre esquerda, centro e direita que formaram as bases da Nova República e decidiram pela democracia como forma inequívoca de governo.

As forças políticas que construíram a Nova República deveriam ser fiéis a Constituição que criaram e não ao neoliberalismo que busca destruir essa mesma Constituição junto com a democracia que a possibilitou. Se muitos ainda não enxergam em Bolsonaro uma ameaça à democracia porque ele não teria forças para dar um golpe, se enganam.

Bolsonaro não precisa falar a palavra golpe, já temos um governo militar autoritário que sufoca as liberdades pela via institucional. É como uma ditadura legitimada pelas urnas, por isso as instituições democráticas não podem ser erráticas nesse momento. Uma vez legitimado esse governo e aparelhada as instituições, pode ser difícil um ponto de retorno pela política. Ai que se define a encruzilhada, vale a ditadura fascista pelo neoliberalismo ou vale a democracia e a soberania nacional?

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