Liberais já querem esconder ajuda a Bolsonaro

"O espantoso não é que nossos liberais tenham ajudado Bolsonaro a chegar ao Planalto, mas que sempre tiveram noção dos riscos que ele representava para a democracia e nada fizeram para impedir sua escalada no segundo turno", escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

Brasilia - economista Paulo Guedes, Ministro da Economia.
Brasilia - economista Paulo Guedes, Ministro da Economia. (Foto: Paulo Guedes)


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Por Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia - Um dos sintomas óbvios da incapacidade do governo Bolsonaro oferecer uma saída para a crise do país se manifesta na atitude daqueles aliados furtivos do segundo turno de 2018. 

Voto nulo declarado na segunda rodada da campanha, a economista Helena Landau, uma das mais ativas da equipe econômica do Plano Real, de Fernando Henrique Cardoso, acaba de publicar um artigo intitulado "Deixem o liberalismo fora disso". (Estado de S. Paulo, 3/08/2019). 

No texto, a economista admite que "os 200 dias de governo não trouxeram nenhuma surpresa. Bolsonaro tem sido fiel a seus princípios. A toda hora desdenha dos que sofreram na ditadura.(...) Seu apreço por torturadores e ditadores é notório. " 

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A economista diz também que o país enfrenta "um retrocesso assustador e um Estado que parece pré-ilumista", para acrescentar:  "Isso nada tem que a ver com uma postura conservadora: é obscurantismo mesmo". 

Embora diga que não viu "nenhuma surpresa" no governo Bolsonaro, na época em que o país escolhia o candidato para governar o país até 2022 a economista e aquela parcela do mundo político que se apresenta como "liberal" tiveram outra postura  -- e não quiseram ficar "fora disso". 

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Há algo de errado com a consciência de quem não se diz surpresa, vamos combinar. 

Naquele momento da história, uma parcela de nosso mundo "liberal" alinhou-se abertamente na campanha de Bolsonaro como fez o Novo, que se juntou à Lava Jato para impedir uma entrevista de Lula a  Monica Bergamo e Florestan Fernandes Jr, autorizada por Ricardo Lewandowsky. 

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Outra parcela foi mais sutil. Em vez de reconhecer que havia duas propostas substancialmente diferentes  -- Fernando Haddad ou Jair Bolsonaro -- para governar o país, preferiu fingir que ambos eram mutuamente equivalentes e nenhum mereceria apoio, mesmo limitado, como esforço para minizar o dano que o pior adversário poderia causar. 

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Quando faltavam duas semanas para o primeiro turno, e até as crianças já sabiam que a disputava fora polarizada entre Bolsonaro e Haddad, Fernando Henrique Cardoso divulgou uma Carta a Eleitoras e Eleitores na qual falava na necessidade de evitar um "candidato que aposte em soluções extremas". 

Na teoria, FHC pedia votos para Geraldo Alckmin. Considerando a derrocada irremediável da candidatura do PSDB naquele momento, fato que certamente não escapava à analise de FHC, o efeito prático de sua Carta foi esvaziar Haddad, atitude que teve a óbvia consequência de beneficiar seu adversário real, Bolsonaro.  A tese de FHC era que ambos ("um salvador da pátria e um demagogo") seriam soluções ruins para o país. 

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Nos quinze dias finais do primeiro turno, o esforço para nivelar as duas candidaturas por baixo só ajudava a esconder pelo menos uma inegável vantagem comparativa de Haddad na disputa. Ele era a óbvia opção democrática contra um concorrente que há muito exibia os traços de uma nostalgia orgulhosa e sem ressalvas da ditadura de 64-85, que hoje já definem governo marcado pelo esforço de submeter e dirigir instituições brasileiras, do IBGE ao Judiciário, da Receita a Comissão de Mortos e Desaparecidos, da Embaixada em Washington ao cinema nacional, os meios de comunicação e o estado laico.  

Na realidade, apenas a falta de um compromisso inegociável com a democracia permite compreender a postura em 2018. Aqueles que se recusaram a apoiar Haddad no segundo turno sabiam muito bem o que estava em jogo mas sua prioridade era outra. Azar do país. 

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No artigo em que foi capaz de denunciar o moderado Haddad como partidário de "soluções extremas", Fernando Henrique cobrava dos candidatos a presidente "uma ajuste inadiável das contas públicas" e uma "lei da Previdência". 

Na prática, eram exigências sob medida para quem queria ignorar a prioridade da questão democrática e precisava de um argumento para ficar longe de Haddad,  que não poderia assumir um compromisso nesses termos naquela conjuntura. Mais do que isso,  as exigências traduziam uma concordância acima de qualquer suspeita com as ideias que Paulo Guedes já vinha anunciando em conversas com empresários. 

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Seis meses depois de votar nulo, numa entrevista em abril de 2019, quando Bolsonaro completava quarto mês de governo, Helena Landau disse: "Paulo Guedes é a nossa esperança no governo Bolsonaro. Torcemos para que ele dê certo". 

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