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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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Liberte o Cativeiro Social

"A ditadura militar deixou um legado maior do que toda a violência que costuma lhe caracterizar: a Rede Globo de Televisão", diz o linguista e colunista do 247 Gustavo Conde, ao retratar o histórico de como o grupo de mídia da família Marinho manipula há décadas a sociedade brasileira; "A Globo é uma TV que 'está lá'. Sempre 'lá'. Está nas padarias, nos consultórios, nas praças, nas rodoviárias. É algo mais forte que a mera peleguice social. Ela se impôs como o próprio ar, como a realidade a ser aceita", diz ele; "Nós tivemos 13 anos de relativa soberania e independência. Agora, voltamos ao curso artificial dos acontecimentos, devidamente roteirizado pela Rede Globo. É bom que saibamos o tipo de inimigo a ser combatido neste momento - com indefectível atraso"

"A ditadura militar deixou um legado maior do que toda a violência que costuma lhe caracterizar: a Rede Globo de Televisão", diz o linguista e colunista do 247 Gustavo Conde, ao retratar o histórico de como o grupo de mídia da família Marinho manipula há décadas a sociedade brasileira; "A Globo é uma TV que 'está lá'. Sempre 'lá'. Está nas padarias, nos consultórios, nas praças, nas rodoviárias. É algo mais forte que a mera peleguice social. Ela se impôs como o próprio ar, como a realidade a ser aceita", diz ele; "Nós tivemos 13 anos de relativa soberania e independência. Agora, voltamos ao curso artificial dos acontecimentos, devidamente roteirizado pela Rede Globo. É bom que saibamos o tipo de inimigo a ser combatido neste momento - com indefectível atraso" (Foto: Gustavo Conde)
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A ditadura militar deixou um legado maior do que toda a violência que costuma lhe caracterizar: a Rede Globo de Televisão. O golpe foi em 1964 e a Globo nasceu em 1965, numa ação fraudulenta entre governo brasileiro, Time Life (a gigante de comunicação americana) e família Marinho.

A Globo, portanto, nasceu de uma fraude - está tudo registrado na literatura. Há o livro do Mino Carta, Castelo de Âmbar, que, salvo engano, conta essa história. Há quilos de historiadores e jornalistas estrangeiros que relatam esse evento digno das repúblicas das bananas, é só pesquisar.

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Daí que, há dois Brasis: um pré, outro pós Globo. A emissora demarca nossa história como a ditadura: é uma ferida, um câncer, uma violência.

É preciso, entender, nesse sentido, o que era o grupo Globo antes do golpe de 1964. O grupo Globo era grande, claro. Tinha jornais, rádios e revistas. Mas não tinha TV. E por que a TV é tão definidora do nosso cativeiro social?

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Porque lida com a dramaturgia. É uma Hollywood doméstica. A TV organiza todo o substrato social, cria um tecido de compreensão e organização cognitiva. O áudio-visual é muito forte para o cérebro humano.

As novelas têm esse papel definidor do nosso caráter pleno de passividade política: elas puseram o brasileiro em catatonia diária. São três novelas diárias. É muito. São três horas da vida sensível de cada ser humano, basicamente, jogadas no lixo (porque eles contam sempre a mesma história com os mesmos atores fazendo os mesmos papéis).

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Não bastasse, a Globo domina o futebol (que dá conta do público masculino abrutalhado) e o carnaval. É por isso que o desfile da Paraíso do Tuiuti é historicamente uma inflexão. Jamais uma escola de samba enfiou o dedo na cara da Globo.

Some-se a isso a produção de jornalismo. O Jornal Nacional foi o Diário Oficial do Brasil durante quase 50 anos. Não é mais. Mas as gerações mais velhas têm dificuldade em apagar essa infecção de suas vidas. Confesso que até para mim é difícil.

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A Globo é uma TV que "está lá". Sempre "lá". Está nas padarias, nos consultórios, nas praças, nas rodoviárias. É algo mais forte que a mera peleguice social. Ela se impôs como o próprio ar, como a realidade a ser aceita. A Globo produz realidade. O Projac é o Brasil inteiro. Eles moldam o senso e as sensações do brasileiro (e 'ai' de quem mexer com esses brasileiros adestrados, os manifestoches: eles são também violentos).

A Globo, portanto, pré golpe de 1964, era só um grupo forte de comunicação. A partir de 1965, ela se transforma no mais impressionante núcleo irradiador de realidades paralelas do planeta. É um feito, sem dúvida. Especialistas em comunicação ingleses e americanos não entendem como isso foi possível (eles tentam).

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Não há Cidadão Kane. Não há Orson Welles. Não há James Bond. Não há George Orwell, não há Huxley, não há Burgess, não há distopia. A Rede Globo lhes esfrega na cara, com a brutalidade manipuladora que lhe é peculiar.

A força simbólica desta emissora foi - e ainda é - tão grande que ela repele a própria interpretação épica de sua importância no cenário mundial dos fenômenos sociais do grotesco e do impensável.

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Só quando a Globo for devidamente extinta é que a literatura, seja fictícia, ensaística ou sociológica, vai ter acesso discursivo a este conjunto de situações de ordem cognitiva e social que moldou o perfil psicológico de toda uma nação continental.

A Globo, meus caros, mudou a língua portuguesa falada no Brasil. Isso é um dado impressionante. Ela homogeneizou a língua. Ela teve impacto também em Portugal, levou expressões e acepções lexicais àquele país.

Sem Globo, a riqueza linguística do Brasil seria muito maior. Teria havido aqui uma dialetação, como ocorreu com o latim (guardadas as devidas proporções, uma vez que haveria comunicação de massa, mesmo sem Globo). Países continentais são obrigatoriamente ricos em termos linguísticos.

Salvo as nossas 120 línguas indígenas soberanas (sendo exterminadas neste momento pelo golpe, junto com suas populações de falantes), o Brasil é linguisticamente homogêneo e pobre. A Globo, inclusive, debochou dos falares brasileiros justamente nas suas novelas, entoando dicções fictícias do nordestino, produzidas por cariocas.

É por isso que a nossa história está interrompida. Nós tivemos 13 anos de relativa soberania e independência. Agora, voltamos ao curso artificial dos acontecimentos, devidamente roteirizado pela Rede Globo. É bom que saibamos o tipo de inimigo a ser combatido neste momento - com indefectível atraso.

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