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Hélio Rocha

Repórter de meio ambiente e direitos sociais, colaborador do 247

119 artigos

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Lições dos anos de dominação na China

Sempre que se fala em Shanghai, fala-se de uma cidade rica lembra mesmo Nova York e pretende se tornar um polo de tecnologia que seja referência internacional nas próximas décadas. Entretanto, poucos vislumbram o quanto Shanghai foi um polo de dominação dos chineses, sobretudo pelos ingleses

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Sempre que se fala em Shanghai, fala-se de uma cidade rica que, como foi discutido em texto anterior, lembra mesmo Nova York e pretende se tornar um polo de tecnologia que seja referência internacional nas próximas décadas. Entretanto, poucos vislumbram o quanto Shanghai foi um polo de dominação dos chineses, sobretudo pelos ingleses, durante todo o século XIX e metade do século XX. O século da humilhação, como alguns costumam nomear o período de invasões e submissões a várias potências ocidentais e ao vizinho Japão, que só se encerrou com a Revolução Popular de 1949, é hoje para os chineses motivo de lembrança para manter a cultura da resistência. Para o Brasil, deixa lições de como se constrói uma potência mesmo sob ataques internacionais como se vive hoje no país.

Até a década de 1830 a China era uma potência continental, que convivia com certas restrições com os países do ocidente. Grande ponto de comércio no país, a região de Shanghai era rica pelos mercadores que vinham de todas as partes do mundo, principalmente na área de influência da China no Oceano Índico, e também pela pesca. Até o período das caravelas, a distância e a maior disponibilidade de produtos de interesse dos europeus na região das Índias manteve a China segura do interesse ocidental. No século XIX, porém, o navio a vapor tornou viável a exploração das riquezas do extremo oriente. Os ingleses chegaram no começo do século e iniciaram seu processo de colonização.

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A princípio, foram recebidos pelo imperador, que buscou implementar com os forasteiros a doutrina filosófica da harmonia, defendida por variados pensadores, dentre eles Confúcio, para estabelecer uma relação cordial com os estrangeiros. Abriu-lhes as portas, cobriu-lhes de presentes e agrados, chamando-os a conhecer sua avançada cultura. Os britânicos, no entanto, rapidamente implementaram sua agenda de dominação, que passava pela circulação de drogas para degradação do povo chinês e desestabilização política do país.

O ópio passou a circular por todo o então chamado País do Meio (ainda o nome da china em mandarim, Zhongguó) e em dez anos havia milhares de pessoas dependentes da droga em todo o país, o que enriquecia os cofres londrinos e ainda ajudava na exploração das riquezas chinesas, minérios, tecidos, rotas comerciais etc. Em 1839, porém, o imperador Daoguang (1782-1850) intimou a Inglaterra a interromper a circulação do ópio no país, ameaçando a rainha Vitória (1819-1901) com a possibilidade de uma guerra. O mais provável é que a senhora da casa de Hannover jamais tenha recebido a carta do líder da dinastia Qing. Os ministros britânicos viram aí, na verdade, uma oportunidade de submeter de uma vez por todas a grande potência do ocidente. Com o projeto de submissão da dinastia Meiji também no Japão, a conquista da China era fundamental para o domínio das rotas marítimas no oriente.

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No mesmo ano, teve início a guerra que encerrou-se em 1942. Depois, entre 1850 e 1866, outro ciclo de conflitos devastou a China, que chegou ao período da Imperatriz Cixi (1835-1908) convulsionada por revoltas internas, como a Revolta dos Boxers. A decadência do Império Chinês nas mãos das potências ocidentais seria a responsável pelo fim do tempo dos imperadores. Em 1912, o líder Sun Yat Sen proclamaria a Primeira República, governada pelo Partido Nacional, o Kuomintang. A crise, porém, continuaria por mais quarenta anos, agora sob as invasões japonesas do século XX, que aqui serão tratadas mais tarde.

O importante a se perceber sobre o triste século de 1839 a 1949, da Guerra do Ópio à Revolução Popular, é que nesse período de invasão a China resistiu por meio da transformação, que está presente na filosofia chinesa por meio da doutrina do yin e do yang, da complementaridade que leva à mutação com conservação, avanço social com preservação das tradições. Revoltas sociais como a dos Boxers, em 1899 e 1900, depois a Revolução Xinhai, que depôs o Imperador Puyi (1908-1912), foram decisivas e mostram o perfil revolucionário da China. Não está indo bem, transformemos!

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Da Revolução Popular trataremos mais tarde. Importante agora, é perceber o quanto a China encontrou caminhos para resistir ao não ter medo de se transformar. Do ponto de vista da modificação da ordem social, o país e seu povo não têm medo da mudança, sempre realizada em harmonia com seus princípios filosóficos. Isso vale para a implantação de um governo de base marxista, do lançamento da Revolução Cultural para formação de consciência, da abertura ao mercado nos anos 1980, tudo que diferenciou a China dos demais países do bloco socialista no século XX e permitiram que ela não caísse. Ainda hoje, os presidentes chineses costumam escrever suas doutrinas para Governo da China e publicá-las como livros, que são lidos por acadêmicos de todo o mundo. Os últimos são "A teoria dos Três Representantes", de Jiang Zemin (1989-2002) "A construção de uma sociedade harmoniosa", de Hu Jintao (2003-2012), e o "A Governança da China", de Xi Jinping (2013-atualmente).

A noção de não ter medo da transformação social, posta a serviço do bem-estar social e do avanço econômico, lapidado pela China durante os anos da dominação e implementado após a libertação em 1949, é fundamental para se compreender caminhos para o Brasil, ameaçado pelo conservadorismo que impede as mudanças sociais que tentamos implantar no contexto de nossa história e cultura.

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