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Marco Mondaini

Historiador e Professor da Universidade Federal de Pernambuco. Coordena e apresenta o programa Trilhas da Democracia, exibido aos domingos na TV 247.

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Lições sobre o fascismo

Continuo, aqui, de maneira editada, o trabalho de recuperação de fragmentos de alguns textos escritos por mim em fins dos anos 1990 sobre os comunistas italianos e sua interpretação do fascismo

Comunista italiano Palmiro Togliatti
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Continuo, aqui, de maneira editada, o trabalho de recuperação de fragmentos de alguns textos escritos por mim em fins dos anos 1990 sobre os comunistas italianos e sua interpretação do fascismo, a fim de modestamente subsidiar a compreensão do grande perigo que se encontra à espreita da sociedade brasileira na atualidade.

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Considerada pelo historiador Ernesto Ragionieri, nos anos 1970, como “a mais profunda e convincente interpretação até hoje dada do fascismo italiano”, as Lições sobre o fascismo, escritas pelo dirigente comunista italiano Palmiro Togliatti, entre os meses de janeiro e abril de 1935, assinalam um avanço em relação à forma pela qual Antonio Gramsci analisou a ascensão do fascismo até a sua prisão no ano de 1926.

De fato, o texto, descoberto em 1970 pelo próprio Ragionieri, supera em muito a fórmula dada por Stalin durante o XIII Plenum da Internacional Comunista, em novembro de 1933, e que seria retomada por Dimitrov em seu relatório ao VII Congresso do Komintern, de julho-agosto de 1935. O fascismo, na definição togliattiana, não é apenas uma ditadura aberta (em novembro de 1933, Stalin dissera que “o fascismo é uma ditadura terrorista aberta dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas e agressivos do capital financeiro”), mas também um regime reacionário de massas. Togliatti percebeu que, ao fascismo, não bastava mais apenas desorganizar as massas na base da violência, mas também fazer uma política de massas - daí a construção do Partido Nacional Fascista como “partido de novo tipo” da burguesia, um partido de massas.

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Uma análise rigorosa do ensaio togliattiano parece dar razão à hipótese formulada pelo historiador Aldo Agosti de que “Togliatti se aproxima da reflexão - por ele ainda desconhecida - que Gramsci desenvolveu nos Cadernos do cárcere”. Isto, por um lado, ao apontar que o fascismo não é apenas “imposição de coerção”, mas também “obtenção de consenso”, e, por outro lado, ao preocupar-se com a relação estabelecida entre o Estado fascista e as organizações de massa (da sociedade civil) criadas e/ou aparelhadas por aquele.

Não obstante as simplificações presentes nas Lições (“É claro que não se pode contrapor a democracia burguesa à ditadura. Toda democracia é uma ditadura”; “Como linha fundamental [da ideologia fascista], permanece: nacionalismo exasperado e analogia com a socialdemocracia”), Togliatti raciocina no sentido de mostrar as formas pelas quais “a ditadura fascista [...] se esforça em ter um movimento de massas, organizando a burguesia e a pequena burguesia”, ou pelas quais “o fascismo faz [...] um grandíssimo esforço para levar as massas às suas organizações, para tê-las ligadas ao aparelho da ditadura”.

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Nesse contexto, é que Togliatti indica nos sindicatos e nas instituições do dopolavoro as principais organizações de massas, às quais a ditadura fascista tenta impor um caráter reacionário.

E é precisamente neste ponto que descobrimos o primeiro rastro de um Togliatti defensor daquela estratégia que Gramsci viria a chamar de “guerra de posições”, de “luta por hegemonia nas trincheiras da sociedade civil”. Criticando as teses da juventude comunista de “sair dos sindicatos e do dopolavoro” e de “entrar nos sindicatos e no dopolavoro a fim de destruí-los”, Togliatti afirma que “o nosso dever é entrar nestas organizações e aí organizar a luta pelos nossos princípios”; e, mais ainda, “nós devemos nos prender às reivindicações próprias do dopolavoro, de caráter esportivo, cultural, etc., e aos motivos democráticos”.

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