Lideranças femininas que transformam a realidade brasileira
Quanto maior o nível hierárquico, menor a presença de mulheres e, fazendo mais um recorte, menor ainda é a presença de mulheres negras
Nestes mais de 23 anos de trabalho com projetos de impacto no terceiro setor, conheci muitas mulheres à frente de seus negócios, tanto ONGs quanto empresas tradicionais, e pude compreender como a força colaborativa feminina contribui para uma verdadeira transformação de realidades desafiadoras.
Apesar das pesquisas que há tempos apontam que a equidade de gênero é positiva para o mundo corporativo, é inegável que ainda enfrentamos muitos desafios para construir nossas carreiras. Percebam que quanto maior o nível hierárquico, menor a presença de mulheres e, fazendo mais um recorte, menor ainda é a presença de mulheres negras.
Dados do Índice de Igualdade de Gênero 2023, da Bloomberg, apontam que a participação de mulheres chega a 38% nas posições de média liderança, 30% nos cargos mais sêniores e apenas 8% aparecem como CEO.
Equilibrando os pratos: carreira, maternidade e vida - Assumir as responsabilidades do lar já é um desafio por si só, que se torna ainda maior quando precisa ser conciliado com as exigências profissionais. Mesmo diante dessas dificuldades, aproximadamente 85% das mulheres no país enfrentam uma dupla jornada, dividindo-se entre o trabalho remunerado e as obrigações domésticas e de cuidado com os filhos. Além dos desafios inerentes a essa realidade, muitas ainda lidam com o preconceito no ambiente de trabalho.
Um estudo conduzido pelo LinkedIn em fevereiro deste ano apontou que 44% das mulheres nunca solicitaram um aumento salarial ou negociaram uma promoção, apesar de se sentirem merecedoras. Esse fenômeno reflete a cultura machista predominante, na qual questões sobre maternidade ou desejo de ter filhos são levantadas durante processos seletivos, mulheres são subvalorizadas, enfrentam olhares críticos durante a gravidez e, em alguns casos, são injustamente demitidas após o término da licença-maternidade.
Contrariando a ideia de que a maternidade pode limitar as capacidades profissionais das mulheres, para muitas, ter filhos serve como um estímulo adicional para se destacarem em suas carreiras. Pesquisas indicam que mães adquirem habilidades únicas e desenvolvem uma maior empatia, o que as torna especialmente aptas a gerenciar relações interpessoais no ambiente de trabalho.
Outra pesquisa realizada pela Leadership Circle com base em dados de mais de 84 mil líderes e 1,5 milhão de avaliadores (incluindo chefe, chefe do chefe, colegas, subordinados diretos e outros), mostra que as lideranças femininas aparecem com mais eficácia em todos os níveis de gerenciamento e faixas etárias.
Entre as empreendedoras de impacto que se destacam nesta jornada está Adriana Barbosa, idealizadora do maior evento de cultura negra da América Latina, que busca também impulsionar o empreendedorismo realizado por essa grande parcela da população.
Além da Adriana, Ana Fontes é outra grande líder que fomenta a inovação brasileira, especialmente com o público feminino. Nordestina e criadora da maior rede de empreendedorismo feminino, a iniciativa já impactou mais de 11 milhões de pessoas e gerou uma renda de 39 milhões para mulheres brasileiras.
De acordo com um estudo da Rede Mulher Empreendedora (RME), para 87% das mulheres empreendedoras, a motivação para empreender e buscar independência financeira é justamente ter mais tempo no cuidado dos filhos e da família. E essa tendência tem crescido nos últimos anos. Dados do Sebrae mostram que mais de 10,1 milhões de negócios no Brasil são comandados por mulheres, sendo que 52% delas são mães, a maioria das empresas lideradas por mulheres se concentra no setor de comércio (47%), enquanto outros 39% no segmento de serviços. Os homens são maioria no ramo do comércio, enquanto as empreendedoras mulheres estão majoritariamente nas indústrias de fabricação própria. Isso demonstra muito as relações de gênero com mulheres no ramo de alimentação, costura e beleza.
Como mãe preta de dois, executiva, empreendedora, destaco alguns pontos que julgo essenciais para seguirmos em frente:
- Não carregue a maternidade como culpa;
- Tente organizar seu tempo, de forma que você se cuide;
- Tente manter uma rede de apoio próxima, peça ajuda;
- Tenha rotinas facilitadas, não tente fazer tudo ao mesmo tempo;
- Sua família precisa estar junto com seu propósito, tente não culpabilizar seus filhos.
É fundamental debater e tratar dessas questões para fomentar a igualdade de gênero e racial, além de apoiar mulheres que buscam conciliar a maternidade com suas trajetórias profissionais. Mantendo o diálogo aberto sobre esse tema, temos a oportunidade de elevar a conscientização, estimular alterações nas políticas e procedimentos nos ambientes de trabalho e promover uma distribuição mais equitativa das obrigações familiares entre homens e mulheres, bem como na sociedade como um todo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

