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Pedro Bordinhão

Geógrafo pela UFRJ, pesquisador no Laboratório sobre Hegemonia e Contra-Hegemonia (LEHC/UFRJ) e editor da revista acadêmica Recortes da Conjuntura Mundial (LEHC/UFRJ)

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Lindsey Graham, emissário do caos contra o mundo multipolar

Para Graham, a mensagem é clara: “Se vocês insistirem em financiar Putin, nós vamos esmagar suas economias”

Lindsey Graham (Foto: Reuters)

Uma das figuras mais vociferantes do trumpismo no Senado norte-americano é o republicano Lindsey Graham. No cargo desde 2003, o senador tem causado alarde ao propor sanções tarifárias de até 500% contra países que importam produtos russos. A proposta, que conta com apoio bipartidário no Congresso dos Estados Unidos, poderá ser votada ainda em 2025 e impactaria diretamente o Brasil, que duplicou suas importações da Rússia entre 2021 e 2024, especialmente em combustíveis e fertilizantes.

Em entrevista à ABC News, Graham declarou que países que “financiam” a Rússia devem ser punidos com tarifas que podem chegar a 500%. Segundo ele, trata-se de “um dos projetos de sanções mais draconianos já escritos”.

Graham mostra-se impassível diante de um bloco multipolar que busca autonomia em relação aos EUA. No entanto, sua proposta pode contradizer interesses diretos da própria administração Trump. Analistas norte-americanos têm alertado que a medida pode enfraquecer a produção de energia por reatores nucleares em solo estadunidense, o que vai na contramão de ordens executivas assinadas por Donald Trump que facilitam o desenvolvimento e a instalação de equipamentos para energia nuclear no país.

Entre os países citados por Graham como alvos prioritários estão China, Índia e Brasil, que duplicou suas importações russas nos últimos anos, passando de US$ 6,2 bilhões para US$ 12,2 bilhões. Os principais produtos adquiridos foram combustíveis (US$ 7,18 bi) e fertilizantes (US$ 4,17 bi).

Para Graham, a mensagem é clara: “Se vocês insistirem em financiar Putin, nós vamos esmagar suas economias”. Analistas, porém, ressaltam que países como China e Índia possuem maior resiliência industrial, enquanto o Brasil permanece mais vulnerável devido à sua dependência de insumos estratégicos e à concentração de suas exportações em commodities de baixo valor agregado.

A proposta integra uma estratégia mais ampla dos EUA para isolar a Rússia e fragilizar alianças como os BRICS. Graham defende que caberia ao presidente norte-americano e ao Secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, convencer Vladimir Putin a encerrar a guerra na Ucrânia. Contudo, esse “convencimento” assemelha-se mais a uma ameaça: o senador afirma que o risco para os russos é ter sua economia esmagada pelo poderio estadunidense.

Lindsey Graham objetiva, rotineiramente, criar um clima político de aversão às alternativas multipolares e contra-hegemônicas que se consolidam neste século, e que simbolizam o declínio da proeminência norte-americana no cenário global. Citando a China, o senador adverte que, se os EUA ceder às demandas russas, Taiwan pode ser a próxima vítima de uma tentativa de reanexação.

O senador vai além: compara a guerra perpetrada por Israel em Gaza, e o apoio material dos EUA, à entrada norte-americana na Segunda Guerra Mundial, equiparando a violência sionista contra o território palestino a uma “necessidade” histórica, tal como ocorreu com Tóquio e Berlim.

Cabe questionar: se implementadas, as tarifas contra mercadorias russas resultarão em quê? Mais armamentos direcionados ao genocídio palestino?

Lindsey Graham atua hoje como um emissário do caos nos Estados Unidos, ecoando o desespero por protagonismo de uma república em declínio. Sua mira está voltada para o alto escalão da administração Trump, na tentativa de convencê-los de que a única alternativa viável é a violência e a guerra total.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.