Livramento e Ponta Grossa: desenvolvimento como projeto da sociedade civil
Em dois municípios existe um movimento espontâneo, de baixo para cima, que já não espera por iniciativas dos poderes públicos
O empresário e jornalista Rodrigo Rocha, sócio da Tribuna da Imprensa online, está lançando uma campanha nacional para romper a inércia da maioria das autoridades públicas brasileiras diante dos imensos desafios enfrentados pelo País, e convocando a sociedade civil para assumir, ela própria, projetos concretos de desenvolvimento a partir dos exemplos do APL de Sant’Ana do Livramento, no Rio Grande do Sul, e dos avanços da cidade de Ponta Grossa, no Paraná.
Para Rodrigo Rocha, o verdadeiro desenvolvimento tem que vir de dentro para fora dos municípios, aproveitando e ampliando os valores das comunidades locais e evitando as querelas políticas que, especialmente em épocas de eleições, costumam levar a radicalizações que desviam as sociedades dos objetivos de interesse comum. Seu foco, de acordo com um lema que criou, é “vamos fazer o Brasil grande de vez”. O instrumento para isso é, principalmente, o Arranjo Produtivo Local (APL).
Em Sant’Ana do Livramento será inaugurada ainda neste ano a revitalização de um APL voltado para produção de carne de alta qualidade, em grande parte destinada a exportação. Seu núcleo principal é o Frigorífico Helfrig, que consolidará ações que envolvem mais de 640 criadores de gado bovino e ovino de raças nobres. A capacidade de abate será equivalente a 3 000 t mensais, com faturamento bruto equivalente a 160 milhões de euros. Essa previsão pode triplicar, considerando a integração com no mínimo oito abatedouros afiliados, alcançando a produção total de 12 mil t mensais de proteína vermelha de alto padrão.
Estudos de mercado apontam que até 2050 a demanda por alimentos deverá atingir 70% a mais que do que nos dias atuais. O Brasil é um País promissor nesse segmento. Dos 5.570 municípios brasileiros, 350 podem se especializar em atividades de produção agropecuária, lavoura e pesca sustentáveis, de alto valor agregado. Isso abrirá oportunidades para a estruturação de Centros Colaborativos produtivos cujos investimentos, em média, montam em R$ 40 milhões por APL na fase de impulso inicial.
Em relação à cidade de Ponta Grossa, no Paraná, Rodrigo Rocha acha que ela está pronta para o próximo salto em desenvolvimento. O poder público fez a parte que lhe cabia na infraestrutura, e o setor privado está acelerando o processo de desenvolvimento. Situada no coração dos Campos Gerais, a cidade consolida-se como um importante polo industrial, logístico e agroalimentar. Com crescimento econômico e localização estratégica - entroncamento de rodovias e ferrovia -, Ponta Grossa atrai investimentos e se destaca como referência regional.
Com mais de 370 mil habitantes e um PIB municipal em constante ascensão, Ponta Grossa consolidou-se como o segundo maior polo logístico do Sul do Brasil. A cidade é cortada por dois eixos ferroviários, entroncada pelas BRs 376 e 373, e interligada aos portos de Paranaguá e Antonina, ao aeroporto de cargas e ao centro de Curitiba. Mais que localização: é posição estratégica no tabuleiro nacional.
De cooperativas rurais tradicionais a multinacionais e startups tecnológicas, a diversidade produtiva é um dos maiores ativos de Ponta Grossa. O município abriga um parque industrial diversificado, que inclui indústrias alimentícias e de bebidas, setor metalmecânico, logística avançada e um agronegócio robusto. Essa combinação de setores torna a economia local resiliente e inovadora, gerando oportunidades de negócios e estimulando o empreendedorismo.
A expansão econômica de Ponta Grossa se reflete em abundantes oportunidades de emprego. Há demanda por técnicos, operadores de máquinas, desenvolvedores de software, engenheiros, zootecnistas, construtores civis e muitos outros profissionais. Instituições locais de ensino e formação profissional têm preparado mão de obra qualificada, garantindo que essas vagas sejam preenchidas.
Outro elemento impulsionador do desenvolvimento local é o fortalecimento do varejo com identidade regional. Supermercados, feiras e comércios de bairro que priorizam os produtos da terra criam um círculo virtuoso na economia: o dinheiro permanece na região, a cultura local é valorizada e o consumidor desfruta de uma experiência de compra autêntica e acolhedora. Para que essa integração urbano-rural seja bem-sucedida, os produtores rurais recebem apoio e capacitação para adequar seus produtos às exigências do mercado, garantindo qualidade e atendimento de excelência.
Neste e em vários outros municípios do País, supermercados regionais e comércios de bairro estão liderando uma mudança discreta, porém impactante, ao privilegiar produtos locais e reforçar a identidade comunitária. Esse movimento ganha força em um contexto de consumo mais consciente: 80% dos brasileiros valorizam saber a origem dos alimentos e 73% estariam dispostos a pagar mais por produtos locais. Nas gôndolas, isso se traduz em maior oferta de itens frescos, orgânicos e artesanais de produtores da região.
Esses dois exemplos, Sant’Ana do Livramento e Ponta Grossa, indicam uma tendência do País para o desenvolvimento integrado de comunidades e regiões com vocações econômicas similares, o que é uma base segura para a organização de APLs e uma indicação do caráter anacrônico do retalhamento do País, por motivos exclusivamente políticos, em centenas de municípios desconectados entre si.
O importante a destacar, também, é que nos casos desses dois municípios trata-se de um movimento espontâneo, de baixo para cima ou de dentro para fora, que já não espera por iniciativas dos poderes públicos, mas se adiantam a eles na busca do desenvolvimento. É verdade, porém, que, no contexto brasileiro, enfrentam grandes desafios: o principal deles é a taxa de juros de agiotagem que prevalece no Brasil para investimentos, desestimulando a produção e gerando inflação.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

