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Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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Longa jornada fake news adentro

O HOMEM CORDIAL é bom cinema e faz pensar sobre a cultura das fake news, do cancelamento e do racismo que tensiona a vida brasileira

Paulo Miklos em "O Homem Cordial" (Foto: Marcelo Vittorino/Divulgação)
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Paulo Miklos mereceu o prêmio de melhor ator em Gramado por essa impecável interpretação de Aurélio Sá, astro do rock que se vê envolvido num ato de violência e é vítima de linchamento social. Ele está fazendo o show de retorno da sua banda Instinto Radical depois de cerca de 20 anos quando o público começa a atirar objetos contra ele no palco. Um vídeo acabara de viralizar, sugerindo que Aurélio seria responsável pela morte de um policial e o desaparecimento de um menino negro. 

Só nos últimos minutos do filme vamos compreender, ainda que precariamente, o que de fato aconteceu. Até lá nos veremos, assim como o protagonista, arrastados por uma espiral de cancelamento, ofensas e assédios violentos. Intuímos de cara que Aurélio está longe de ser culpado, mas ele tampouco é capaz de verbalizar sua inocência. Essa é uma relativa deficiência num personagem de resto muito vívido e muito bem composto pelo ator. 

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Outros personagens vão entrar nessa longa noite em que Aurélio tenta escapar ou se livrar do pesadelo. Dois jovens jornalistas independentes, um ex-colega de banda que agora administra um bar na periferia de São Paulo, a irmã do garoto desaparecido e um grupo de policiais indigestos. Não falta tensão a essa jornada por vários ambientes da noite paulistana. O diretor Iberê Carvalho (O Último Cine Drive-in) acerta mais uma vez na construção de um filme áspero e intrigante.
A excelente fotografia de Pablo Baião aquece a atmosfera de road movie urbano e trabalha o foco como elemento gerador de suspense. A trilha sonora de Sascha Kratzer e a montagem de Nina Galanternik contribuem decisivamente para o magnetismo de O Homem Cordial.

O uso do termo consagrado por Sérgio Buarque de Holanda fica um tanto vago no campo semântico do filme. Afinal, não estamos diante da prevalência das relações pessoais sobre a ética pública, como caracterizaria o "homem cordial" buarqueano. Cabe questionar, ainda, a quantidade de gente que se expressa em defesa do policial morto, coisa que não costuma despertar indignação social no Brasil – especialmente se ele estava empenhado na caçada a um garoto negro. A ideia de situar o radicalismo de direita nesse campo de reação fica prejudicada pela extensão da violência contra Aurélio, inclusive da parte do seu público.  

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O Homem Cordial requer que aceitemos certas premissas um tanto discutíveis, mas, no essencial, faz pensar sobre a cultura das fake news, do cancelamento e do racismo que tensiona a vida brasileira no seu âmbito mais corriqueiro. 

>> O Homem Cordial está nos cinemas.

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O trailer:

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