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Helena Chagas

Helena Chagas é jornalista, foi ministra da Secom e integra o Jornalistas pela Democracia

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Lula deflaciona o Centrão e joga para 2026

Com a melhora na economia, Lula "entra mais forte na negociação" com o Centrão sobre espaços no governo: "a melhor estratégia política é mesmo a economia"

Arthur Lira e Lula (Foto: Tauan Alencar/Câmara dos Deputados)
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Há quase dois meses, desde que o Planalto teve que rebolar para aprovar uma simples medida provisória de reorganização administrativa do governo, só se fala numa reforma ministerial para dar carne aos leões do Centrão. A essa altura, Lula já deixou claro que vai dar dois bons ministérios — além de estatais valorizadas como a CEF — ao PP de Arthur Lira e Ciro Nogueira e ao Republicanos de Edir Macedo e Tarcísio de Freitas. Mas empurrou o assunto com a barriga o máximo possível, ajudado pelo recesso. Mas ganhou bem mais do que tempo, e entra mais forte na negociação para valer a partir de hoje.

O que mudou? Os ventos da economia começaram a soprar a favor, a inflação vem caindo, a economia crescendo mais do que o esperado, as expectativas do mercado melhorando, a equipe econômica ganhando prestígio. A votação de reformas como a tributária e a do marco fiscal, temas bem aceitos num Congresso com viés de direita, mexeu também no jogo de forças da política. 

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E o governo Lula, que levara bola nas costas em seus primeiros meses ao confrontar-se com uma base bolsonarista maior e mais forte do que se esperava, passou a apresentar chances concretas de sucesso. Como já escrevemos aqui diversas vezes, a melhor estratégia política é mesmo a economia. 

Não haveria a menor chance de legendas do antigo espectro bolsonarista pedirem para participar de um governo fadado ao fracasso — como muitos de seus integrantes vaticinavam há poucos meses. Esses políticos experimentados, porém, passaram a farejar a chance de ganhos em 2024 e 2026 por estar no lado certo do campo. Alguns vão fazer cara de paisagem diante da movimentação dos correligionários, caso do ex-ministro de Bolsonaro e presidente do PP, Ciro Nogueira. Ele não vai aderir mas vai aceitar tranquilamente a ida de André Fufuca (MA) e outros nomes ligados a Arthur Lira para a Esplanada. Não por acaso o lema no PP é “vai indo que eu vou”, segundo um de seus caciques. Lá, a paz interna nunca é quebrada por que alguém ingressa num governo, seja qual for, e os colegas sempre são ajudados.

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O principal efeito da demora proposital de Lula na negociação da reforma ministerial, porém, não é a acomodação interna dos neo-governistas. É, antes de tudo, a deflação sofrida pelo Centrão no período. Quanto mais bem sucedido o governo — e mais popular —, menor o preço a pagar. Na lei da procura e da oferta política, a mercadoria oferecida no atacado por Lira e outros caciques — votos no Congresso — vai ficando mais barata porque também se compra no varejo. Ou seja, fica mais fácil, para o presidente, negar o ministério do Bolsa-Família e negociar.

Ainda assim, PP e Republicanos vão receber boas pastas — e o “bom" para os partidos nessas horas é o controle de verbas e cargos que podem se traduzir em votos. Pode haver até desconto pelo fato de esses partidos não desembarcarem inteiros no governo e nem declararem apoio oficial, o que Lula não vai cobrar. Quer, antes de tudo, garantir a ampla maioria dos votos de suas bancadas, isolando e reduzindo o bolsonarismo nessas legendas — processo que ficou mais fácil depois de declarada a inelegibilidade de Bolsonaro. 

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E aí se chega ao objetivo não declarado da reforma ministerial de Lula. Além da “governabilidade" a partir do Legislativo, ele usa sua caneta para esvaziar eleitoralmente o bolsonarismo e outros bichos. A continuarem as coisas do jeito que estão, apontando para dias melhores na economia, pode ficar mais fácil desmontar, por dentro, a articulação que envolve Republicanos, PP e PL para viabilizar uma candidatura presidencial da direita “palatável”, em aliança com o centro, em torno do nome do governador de SP, Tarcísio de Freitas. Ao fim. Ao cabo, um bom negócio para Lula.

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