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Carlos Lima

Economista, empregado da CAIXA, dirigente sindical da CTB-RJ e do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro e Organizador do Núcleo do RJ do Centro de Estudos Sindicais e do Trabalho (CES)

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Lula desafia o Banco Central e expõe o poder do rentismo

Lula está certo: juros baixos não são apenas uma questão de crescimento econômico — são condição para a soberania nacional

Lula e o Banco Central (Foto: ABR)

“A gente precisa ter consciência de que inflação baixa e juros baixos significam crescimento, geração de emprego e melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro. Disso eu não abro mão.” — Luiz Inácio Lula da Silva

A frase de Lula é mais que um recado ao Banco Central: é a síntese de uma disputa estratégica sobre quem deve comandar a economia brasileira — o Estado soberano e eleito pelo voto popular, ou a tecnocracia financeira a serviço do mercado.

De um lado, o presidente articula um projeto que combina crescimento interno, inclusão social, reindustrialização e ampliação do protagonismo internacional do Brasil. De outro, o Banco Central, agora personificado na figura de Gabriel Galípolo, responde com evasivas e tergiversações, usando a “autonomia” como escudo para preservar privilégios do rentismo e conter o alcance desse projeto.

Essa disputa não se dá no plano retórico. Ela está inscrita no centro da economia real.

Os dados provam: o Brasil tem fôlego — o BC que pisa no freio

O cenário econômico atual não oferece nenhuma justificativa racional para uma taxa Selic em 15% ao ano, o maior nível desde 2006. O IPCA acumulado até agosto de 2025 está em 5,13%, dentro do intervalo de tolerância e em trajetória de queda (com deflação de -0,11% no mês). O PIB cresceu 3,4% em 2024 e 1,4% no primeiro trimestre de 2025, sem qualquer sinal de superaquecimento. O desemprego caiu para 5,8%, com folga de 14,4% na subutilização da força de trabalho, e a taxa de investimento permanece entre 17% e 17,8% do PIB — muito abaixo dos 22% a 25% necessários para sustentar um ciclo de expansão produtiva.

O que esses números mostram é claro: o Brasil tem espaço para crescer, gerar empregos, atrair investimentos e sustentar políticas industriais sem ameaçar a estabilidade de preços. Mas, ao manter a Selic artificialmente elevada, o Banco Central age como um freio deliberado à expansão econômica. A cada ponto percentual de juros acima do necessário, bilhões de reais deixam de ser investidos em produção e infraestrutura e são canalizados para o pagamento da dívida pública, que já consome mais de R$ 600 bilhões anuais apenas em juros.

Disputa de poder: projeto nacional x ditadura financeira

A resposta evasiva de Galípolo às críticas — “as opiniões são legítimas, mas a decisão cabe ao Copom” — não é apenas um gesto institucional. É uma declaração política. Ela representa o esforço de retirar do governo e da sociedade o controle sobre um dos instrumentos mais decisivos de desenvolvimento. Essa é a essência da “autonomia” do Banco Central: criar uma muralha entre a vontade popular e a política econômica, blindando o sistema financeiro da pressão democrática.

Por trás desse discurso técnico, há uma escolha de classe: o rentismo. Juros altos significam lucros fáceis para bancos e fundos, crédito caro para empresas, retração de investimentos, desemprego estrutural e limitação do papel do Estado como indutor do desenvolvimento. O Copom atua, assim, como um fator de sabotagem econômica — impedindo que o país utilize seu próprio potencial produtivo e financeiro para avançar.

O contraste: um governo que entrega resultados

A contradição se torna ainda mais gritante quando se observa o desempenho do governo em outras frentes. O Brasil tem conquistado avanços expressivos no comércio exterior, ampliando sua presença na Ásia, fortalecendo parcerias estratégicas no BRICS e atraindo novos investimentos produtivos. A política externa de Lula recolocou o país como ator global relevante e abriu oportunidades concretas em setores de infraestrutura, energia, tecnologia e agricultura.

Mesmo sob a pressão de medidas protecionistas, como a taxação despropositada imposta por Donald Trump sobre produtos brasileiros, o país tem conseguido diversificar mercados e ampliar sua margem de manobra geopolítica, reduzindo a dependência de um único parceiro comercial e reforçando sua soberania econômica.

Esses avanços tornam ainda mais evidente o caráter político da política de juros. Enquanto o governo abre caminhos para o crescimento e a inserção global do Brasil, o Copom trabalha na direção oposta — restringindo o crédito, encarecendo o investimento e reduzindo a velocidade da economia.

A luta por juros baixos é parte da luta por soberania

Por isso, a crítica de Lula vai além de uma divergência sobre a taxa Selic. Ela explicita a natureza da disputa que está em curso: de um lado, um projeto nacional de desenvolvimento; de outro, a ditadura financeira que tenta sabotar esse projeto em nome da rentabilidade do capital especulativo.

A resposta evasiva de Galípolo não é sinal de equilíbrio técnico — é o sintoma de um poder que não quer ser questionado. Ao insistir em juros que não se justificam pelos fundamentos econômicos, o Banco Central tenta limitar o alcance das políticas públicas, neutralizar a ação do Estado e preservar um modelo econômico desenhado para poucos.

Lula está certo: juros baixos não são apenas uma questão de crescimento econômico — são condição para a soberania nacional, a justiça social e a construção de um país desenvolvido. E essa batalha não se ganha nos relatórios do Copom, mas na arena política, onde se decide quem realmente governa a economia brasileira: o povo ou o mercado.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.