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Evilázio Gonzaga Alves

Jornalista, publicitário e especialista em marketing e comunicação digital

48 artigos

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Lula deveria conversar com Biden

Falar em negociações com o império significa levar em conta uma figura: Lula. Não há ninguém no país com a estatura geopolítica do ex-presidente para travar esta conversa

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Quando Biden veio ao Brasil negociar o pré-sal com a Dilma, o desastre começou. Podemos ficar com raiva e indignados com Biden e Obama, mas do ponto de vista do outro lado, dos EUA, eles estavam certos. Os Estados Unidos são um estado imperial e os impérios operam para aumentar ou manter o seu poder. É normal, é da natureza dos impérios. 

Talvez, foi Dilma quem errou no episódio. Provavelmente ela não avaliou corretamente a correlação de forças e deixou de levar em conta a natureza histórica dos impérios. 

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Por mais liberal ou, mesmo, de esquerda (no padrão estadunidense) que seja Obama, ele foi um imperador. 

Mesmo que Sanders tivesse ou venha chegar à casa branca, ele será um imperador e vai agir como tal. 

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Há imperadores como Nero, mas há também os imperadores progressistas (para o padrão da época), como Trajano e Marco Aurélio. Nenhum deles deixou de defender a grandeza do império. Nenhum presidente dos Estados Unidos, mesmo que socialista, renunciaria ao peso internacional conquistado pelo seu país  (que pode estar em declínio, mas é imenso).

Nesse contexto, talvez fosse conveniente à Dilma ter negociado. O episódio ainda não é muito claro. No entanto, a diplomacia pragmática poderia ter assegurado uma solução melhor, inclusive com a manutenção da garantia dos recursos para saúde e a educação – como era o projeto original – assim como a desestruturação da Petrobras talvez pudesse ser evitada. 

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Hoje, com a Vazajato e outras informações é fora de questão que o golpe teve importantes componentes estrangeiros, associados a interesses do baronato local, que que é caracterizado pela tibieza, ganância, baixo nível civilizatório, desprezo pelo país, falta de humanidade e ausência de caráter; como está bem descrito nos livros de Jesse de Sousa.

A força mais poderosa, que assegurou de fato o golpe, não foi nenhum dos componentes do baronato interno (que além da oligarquia financeira, inclui a alta hierarquia das forças armadas, a ampla maioria dos operadores do judiciário, a mídia corporativa, os rentistas – que são o novo padrão dos bilionários brasileiros, além de outros setores); mas sim a ação do império, que naquele momento tinha interesses de reposicionamento geopolítico, por questões internas e externas – uma influenciando a outra.

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No componente geopolítico, as principais questões envolveram a Rússia e a China.

No primeiro caso, o resultado de uma ação de interesses privados de bilionários estadunidenses, que estimularam o golpe na Ucrânia e provocaram graves turbulências no relacionamento com a Rússia, um país que vinha há anos tentando se alinhar com o bloco ocidental. O governo Putin reagiu, ocupando a Criméia, uma península com forte apelo emocional para a memória coletiva russa – se o presidente russo não tivesse tomado este curso de ação, estaria irremediavelmente enfraquecido. A mudança de posição geoestratégica da Rússia coloca uma ameaça ao suprimento de petróleo das fontes do oriente médio. De suas posições no Cáucaso, forças russas podem com relativa facilidade ameaçar a Arábia Saudita e os emirados do petróleo.

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A China provavelmente já ultrapassou a economia estadunidense, porém atuando de acordo com a prudência confucionista, os chineses maquiam os seus índices para não deixar sua liderança muito evidente. O poder da China ameaça as linhas de suprimento dos Estados Unidos (do ponto de vista dos estadunidenses – o que provavelmente é um exagero).

Sentindo-se ameaçado por duas potencias com grande poder e supondo que sua posição no oriente médio, assim como na região do Pacífico, está sendo disputada, os Estados Unidos voltaram a olhar para sua tradicional zona de influência, que é a América Latina. Evidentemente a região passou a ser ainda mais valorizada com a descoberta do pré-sal no Brasil, o que não é somente um problema comercial. O petróleo descoberto no litoral brasileiro é um recurso estratégico, situado muito mais perto do território dos EUA do que as fontes no oriente médio. Além disso está é uma área muito mais segura, o mesmo ocorrendo com as suas linhas de transporte. 

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O mesmo ocorre com o petróleo venezuelano. Quando Chaves comandou o país, sempre houve espaço de negociação, apesar das diferenças. Com Maduro, essa possibilidade foi extinta, não sendo possível identificar quem é o responsável pelo fim do diálogo.  

Nas disputas que envolvem a América Latina, apesar do romantismo desinformado de muita gente na esquerda, Rússia e China continuam obedecendo os acordos de Ialta e Potsdan, estabelecidos no final da Segunda Guerra Mundial – e a Rússia, parece que muita gente se esquece, não é mais um país socialista. 

Desta forma, estes dois países não iriam, como não vão, se posicionar na questão brasileira, mesmo que ficasse evidente a participação estadunidense no golpe. Isso vale, principalmente naquela época (quando ainda havia diálogo entre as potências - que morreu com Trump).

Desta forma, Rússia e China jamais iriam assumir qualquer compromisso com a Venezuela, ou Cuba, além do fornecimento de armas, comida e remédios, mediante pagamento nos preços de mercado. E, vai muito mais ajuda para a Venezuela do que para Cuba, porque o governo venezuelano possui as maiores reservas de petróleo do mundo e pode pagar. Cuba não. 

Ou seja, o Brasil fica na área definida para os EUA no pós guerra. Rússia e China não vão se meter. No máximo, a China, o mais forte economicamente dos dois, vai tentar avançar, com diplomacia soft, no comércio. 

Talvez o governo do PT tenha errado, ao não negociar, para permitir sob controle algum espaço para o império no pré-sal. A maior parte das reservas continuaria com a Petrobras e a empresa não seria destruída.

A estratégia mais adequada para o Brasil, naquela época e hoje, seria a utilizada tradicionalmente pela Índia na relação com as grandes potências: joga com todas, procurando obter vantagens de um lado ou outro. Durante 60 anos, o país cresceu com esta estratégia – um exemplo são as empresas industriais indianas, muitas delas competitivas no mundo inteiro, um status que as brasileiras nunca conseguiram. 

Infelizmente para os indianos, o novo governo nacionalista perdeu essa pega e se prendeu a uma disputa com a China, que pode descambar em uma guerra. As últimas notícias, vindas da China noticiam recuo dos dois lados, o que deixa o mundo aliviado. 

Negociações entre o PT e os estadunidenses não podem ser descartadas. O governo Biden, mais racional do que Biden e com grande influência dos apoiadores do senador Sanders, provavelmente terá um comportamento imperial, porém muito mais esclarecido do que Trump. Desta forma pode preferir um Brasil pacificado, reorganizado e capaz de tranquilizar a América do Sul, para que a região volte a ser um bom mercado de consumo, do que manter o país tumultuado e gerador de preocupações, como é sob a direção de Bolsonaro. 

As sucessivas vitórias da esquerda na América do Sul podem contribuir para uma alteração na atuação do império na região. Uma relação tranquila com os países da América do Sul, permite ao império se concentrar no seu reposicionamento no cenário mundial, o que é fundamental para a sua recuperação interna – embora ainda a mais rica (ou das mais) economia mundial, o país passa por um acelerado empobrecimento e o esgarçamento de suas relações sociais. 

Falar em negociações com o império significa levar em conta uma figura: Lula. Não há ninguém no país com a estatura geopolítica do ex-presidente para travar esta conversa. Além disso, nenhum dos players políticos do Brasil possui portas de entrada no gabinete Biden, além de Lula. 

Os canais via os Clinton, que poderiam ser utilizados pelo grupo de FHC, estão obstruídos. Moro e a solução CIA estão desmoralizados. A alternativa militar, dos atuais apaniguados do governo federal, somente leva a conversa para o baixo escalão. A relação de Bolsonaro com os Estados Unidos morreu com Trump. Ernesto é uma piada mundial. 

Portanto, como disse Obama, Lula é o cara.

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