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Rodrigo Vianna

Jornalista desde 1990. Passou por Folha, TV Cultura, Globo e Record; e hoje apresenta o "Boa Noite 247". Vencedor dos Prêmios Vladimir Herzog e Embratel de Jornalismo, é também Mestre em História Social pela USP. Blogueiro, integra a direção do Centro de Estudos Barão de Itararé.

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Lula e a onda social-democrata no mundo

"Os dois movimentos de Lula (acenos ao Centro e programa antiliberal) são complementares", escreve o jornalista

Alckmin e Lula (Foto: Stuckert)
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Na atual fase de pré-campanha presidencial, o ex-presidente Lula consolida sua liderança com movimentos que alguns analistas reputam contraditórios, mas que considero mais apropriado classificar como perfeitamente complementares.

Lula fez uma inflexão ao centro, e mesmo à direita. Deixou claro que abre a chapa (e parte minoritária do governo) para a participação do ex-adversário Geraldo Alckmin. Foi um aceno não aos tucanos que já não têm força, mas ao mundo financeiro e ao agronegócio.

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A tática provocou ebulição na esquerda petista. O movimento de Lula segue a tendência observada em outros países: na Argentina, o peronismo só voltou à presidência ao lançar Alberto Fernández (um conciliador) na cabeça de chapa, deixando a combativa Cristina na vice. Na Bolívia, o MAS de Evo Morales retornou ao poder com a face mais moderada do economista Luis Arce. 

Importante notar que nem Arce nem Fernández renegam o que foi feito pelos antecessores. Os dois contaram com movimentos sociais que foram para rua derrotar a direita fascista boliviana e a direita liberal argentina. Mas, sem abrir mão da tradição de luta, procuram o diálogo para compor novas maiorias.

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Ah, diriam alguns, de que serve um peronismo tão moderado? Ora, Fernández acaba de conseguir repactuar acordo com FMI, aliviando a economia argentina; e, mais importante, foi à Rússia para acertar o ingresso do país nos BRICs. Ou seja: a moderação política é completada por movimentos internos e geopolíticos que deixam clara a linha progressista do governo peronista. 

Na Europa, o retorno da social-democracia também emite sinais sobre o novo ciclo que se constrói. Parece evidente que o avanço da extrema-direita e do liberalismo radical (que, por sua vez, são consequência da longa crise capitalista iniciada em 2008 e aprofundada com as ondas migratórias e a pandemia) leva à construção de frentes democráticas, com programa de centro-esquerda, capazes de oferecer paz social e soluções imediatas para se contrapor ao "programa" neofascista.

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Em Portugal, a esquerda que apostou na radicalização (Bloco de Esquerda e PCP) perdeu feio nas urnas. Ganharam os moderados socialistas, que agora têm musculatura para enfrentar o avanço do fascista Chega. Na Espanha, a "nova esquerda" agora abrigada no Unidas Podemos fez movimentos erráticos durante anos, até concluir que a única saída era uma frente parlamentar que garantisse ao social-democrata PSOE as condições de governar. E esse arranjo - precário, mas necessário - acaba de garantir aos espanhóis mudanças na lei trabalhista aprovada há mais de uma década pelos conservadores, oferecendo agora melhores condições de vida e de luta para os trabalhadores.

De volta ao Brasil, notemos que, ao mesmo tempo em que acena para a direita, Lula tenta consolidar uma Federação de centro-esquerda e lança as bases de um programa de reconstrução do país: a Reforma Trabalhista será revista, nos mesmos moldes da Epanha; a política de preços da Petrobrás será completamente modificada.

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Os acionistas estrangeiros, avisa o petista, não podem ter o controle de uma empresa construída pelo esforço da sociedade e do Estado brasileiro. Se um terceiro governo Lula conseguir rever esses pontos, já terá um saldo amplamente positivo. 

Os dois movimentos de Lula (acenos ao Centro e programa antiliberal) são complementares. A burguesia preferia um candidato puro sangue da tal Terceira Via. Mas entre Lula e Bolsonaro, parece se inclinar para o petista porque ele é quem traz previsibilidade. Ao dizer com clareza que pretende rever parte dos cânones liberais, Lula põe as cartas na mesa e faciilta o diálogo. Cria racionalidade e aposta em soluções negociadas.

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Ah, mas isso é ceder tudo para a burguesia, abrindo mão do combate - dizem alguns mais à esquerda. 

Não. Isso é travar o combate por outros caminhos. 

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Quanto Lula terá que ceder nas negociações? Isso dependerá do tamanho de cada um nas ruas e também no Congresso. Por isso, a tática de construir a Federação ganha papel central.

Um grupo parlamentar de centro-esquerda (PT, PCdoB, PSB, PV... somados a PSOL e Rede, e mais o PDT que segue a ter setores progressistas) pode sair dos atuais 130 parlamentares para cerca de 180 ou 200 cadeiras. Isso dará a Lula melhores condições de negociar. E esse bloco será maior, quanto mais a sociedade perceber que Lula oferece soluções diferentes ao país.

Sim, será um governo de negociação, com avanços e recuos, dentro das regras democráticas. 

Se Lula ganhar e governar com essa configuração, o PT provavelmente completará a longa transição iniciada nos anos 1990, deixando de ser uma legenda da "revolução democrática" e transformando-se num partido social-democrata.

Isso é o que temos pela frente. Isso é o que nos permitirá superar o interregno de destruição nacional iniciado em 2016, construindo assim as bases de uma nova fase de desenvolvimento e redução das desigualdades. 

(fim)  

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