Lula esculachou a meritocracia
O capitalista pegador da meritocracia certamente odiou a fala de Lula

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Lula foi aplaudido cinco vezes durante seu discurso nas Nações Unidas. Não se mede a qualidade de um pronunciamento pelo volume de palmas, pois se pode falar simplesmente para agradar à plateia. Mas não foi esse o caso do presidente brasileiro.
As palavras de Lula foram contundentes, a despeito de alguns analistas as terem considerado “iguais” a anteriores. Talvez se o mundo tivesse evoluído contra a desigualdade nos últimos anos, o presidente fizesse um discurso “diferente”.
As questões globais tratadas por Lula foram muitas e bem identificadas, mas fiquemos na desigualdade. Eis um trecho precioso:
“O mundo está cada vez mais desigual. Os dez maiores bilionários possuem mais riqueza que os 40% mais pobres da humanidade. O destino de cada criança que nasce neste planeta parece traçado ainda no ventre de sua mãe.
“A parte do mundo em que vivem seus pais e a classe social à qual pertence sua família irão determinar se essa criança terá ou não oportunidades ao longo da vida. Se irá fazer todas as refeições ou se terá negado o direito de tomar café da manhã, almoçar e jantar diariamente. Se terá acesso à saúde, ou se irá sucumbir a doenças que já poderiam ter sido erradicadas. Se completará os estudos e conseguirá um emprego de qualidade, ou se fará parte da legião de desempregados, subempregados e desalentados que não para de crescer.”
Lula deu um chute na famigerada meritocracia, invenção neoliberal que consiste em nada mais que crueldade social. Em boa medida, o presidente reiterou Norberto Bobbio. O jurista e filósofo italiano escreveu:
“Embora reconhecendo a dificuldade de distinguir as ações pelas quais um indivíduo pode ser responsabilizado, como sabe qualquer juiz encarregado de decidir se tal ou qual indivíduo deve ser considerado culpado ou inocente, é preciso no entanto admitir que o status de uma desigualdade natural ou de uma desigualdade social derivada do nascimento em uma família e não em outra, em uma região do mundo e não em outra, é diferente do status de uma desigualdade que depende de capacidades diversas, da diversidade dos fins a serem alcançados, da diferença de empenho empreendido para alcançá-los. E a diversidade do status não pode deixar de ter uma influência sobre o tratamento dado a uns e a outros por parte dos poderes públicos.”
O capitalista pegador da meritocracia certamente odiou a fala de Lula. Trata-se de um hipócrita, passador de pano em filhinhos de papai que estudam nas melhores escolas, frequentam os melhores clubes (argh!), cultivam as amizades indicadas pela mãe e, no fim, tornam-se playboys sem coluna vertebral.
Os arautos da meritocracia parecem sofrer de déficit cognitivo, ou de caráter mesmo. Quando se alcança a preponderância por mérito num ambiente específico, faz-se justiça. Ao se apregoar o mérito pessoal como base de um sistema elitista, trabalha-se para a perpetuação das desigualdades. O discurso de Lula na ONU deve lhes ter ardido no ouvido.
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